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+Moon Soo Yun+

Naquele momento eu ouvia o capitão tagarelar sobre os componentes de uma pistola e como eu deveria usá-la, como se eu nunca tivesse visto algo do tipo, controlo o impulso de revirar os olhos porque eu já conhecia tudo aquilo de cabo a rabo.

Isso me traz dolorosas lembranças de meu pai, das caçadas que fazíamos nos fins de tarde. Meu irmão odiava caçar e isso entristecia meu velho, era seu passatempo favorito, então quando descobriu que eu me interessava não perdeu a oportunidade. Me entristece pensar que esse tempo nunca irá voltar e que possivelmente nunca mais passarei uma tarde caçando ao seu lado. E consequentemente a memória de minha mãe me acerta como um tapa, um tapa dolorido e cheio de lembranças do que nunca mais terei em minha vida.

Antes que Seokmin termine de tagarelar eu carrego a pistola e atiro na garrafa que estava a uns bons metros de distância o assustando e fazendo-o se calar. O vidro se estilhaça assim que a bala passa por ele e sorrio vitoriosa ao ver o espanto no rosto do capitão, não perderia oportunidades de devolver sua ironia.

— Você sabe atirar. — Sua voz sai alta e animada, como uma criança descobrindo coisas novas. No entanto ele logo volta a seu normal e abaixa o tom de voz. — Quer dizer que suas mãos estão sujas de sangue, princesa.

— Não. Me chame. De princesa. — Digo baixo e entredentes, quase desenhando para que ele me entenda e pare com o apelido mais que equivocado, mas eu ganho apenas um mero sorriso aberto e provocativo que me fez ferver de raiva.

— Te chamo por qual nome então? Mas boa sorte em procurar um apelido que faça mais jus do que esse, princesa. — Apenas o jeito que esse homem pronuncia o apelido me faz perder a paciência e guardar a pistola antes que cometa uma atrocidade que me tire deste navio. Seu sorriso ainda dançava sobre seus lábios e chego a conclusão de que será uma longa viagem até o norte se ele estiver ao meu lado.

Antes que eu possa responder a altura, dois marujos se aproximam e cumprimentam o capitão. Ambos eram fortes e robustos, exatamente idênticos, gêmeos que se diferem apenas pelas roupas que usam e seus olhos.

— Bom dia capitão, quem é o novato? — O da direita pergunta, pude notar que seus olhos são diferentes um do outro em sua tonalidade, um azul e outro castanho, ambos salpicados de diferentes cores em seu interior, era algo que eu nunca havia visto em todos os meus vinte e três anos de vida. Já seu irmão possuía os olhos mais escuros que já vi e o cabelo está preso em um rabo de cavalo alto que faz com que alguns cachos escapem.

— Bom dia, Hyunjin. — O capitão esboça um sorriso fraco desta vez, mexendo em seu novo chapéu para cumprimentar o homem de olhos exóticos e logo se volta para o outro. — Bom dia, Hyunwoo. Rapazes esse é Yunho, irá nos ajudar daqui pra frente e é um grande amigo meu.

— Que estranho. Não o vi embarcar, mas seja bem vindo a nossa tripulação. — Sinto Seokmin congelar ao meu lado com a fala de Hyunwoo e eu não fico para trás no desespero.

— Cheguei em um bote durante a madrugada. Navegarei com vocês por um tempo. — Não sei de onde tirei aquilo, mas foi ótimo ter atenção para o que eu falo como se minhas palavras realmente tivessem mais peso que minha aparência.

Talvez eu desfrute deste tempo como Yunho...

É tudo o que penso ao trocar um olhar cúmplice com o Capitão.

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Por mais incrível que pareça, a multidão me fez sentir bem. Ouvir os murmúrios de conversas soltas ao vento, a música vinda da taverna seguida das risadas dos bêbados, ver a movimentação do cais me deu um gostinho de mundo novo, um mundo pouco visto e apreciado.

Neste lugar eu não souMoon Soo Yun, a primogênita excêntrica dos Moon. Sempre observada e criticada onde quer que fosse. Por um momento eu me distraio do objetivo, mas o desconforto aparente do Capitão Lee me obrigou a manter o foco.

Ele se esconde abaixo do chapéu e segue ao meu lado, vez ou outra me puxando e guiando para o caminho certo. Não sei o porquê ele insistiu em vir comigo, principalmente, quando frisou que não podia ficar em terra firme por muito tempo e na realidade, não quero saber, não quando a resposta mais plausível será: Não confio em você.

Por sorte o galpão não fica longe e logo estamos em frente a um senhor idoso com uma constante feição de desconfiança. Seokmin o indica com a cabeça e volta a se esconder em baixo de seu chapéu.

— Bom dia, rapaz. — Percebo que ele fala comigo assim que noto que estou sozinha e Seokmin já havia sumido no meio da multidão. — Em que posso ajudar?

— Meu capitão quer permissão para atracar e abastecer o navio, senhor. — Nunca vi vantagem em ter a voz mais grave que a maioria das mulheres, mas agora só quero agradecer por isso.

— Quem é seu capitão, garoto? — Ele aperta os olhos e se inclina em minha direção, contenho o impulso de me encolher assim como Wonwoo havia dito, me mantenho firme.

— Sou novo no navio, não o conheço ainda, mas trago esta carta vinda das mãos dele próprio. — Ele a toma de minhas mãos de forma rude e mais uma vez me olha de cima a baixo.
Me pareceu uma eternidade enquanto ele lia a breve carta, creio que eu nunca tenha torcido tanto para algo acontecer, mas quando ele sorriu fraco e me pediu para segui-lo pelo cais eu me tranquilizei.

— Pensei que o Moon nunca viria pegar a carga.— Me mantenho caminhando atrás dele, perto o suficiente para ouvir o que ele tem a dizer. — Já estava a pensar que algo acontecera...

Sua frase morre no ar, misturada ao som do cais agitado. Não sei a que velocidade a notícia da prisão de meu pai se espalhou, por isso, resolvo não dizer nada e deixar a situação como está. Espero que Seokmin esteja por perto, apesar de ainda não confiar inteiramente nele, imagino que ele me deixaria para trás caso seu navio corresse perigo.

Ele pede para sinalizar para o navio e que atraquemos, depois de longos minutos o navio estava ali, ancorado ao cais. À luz do dia os detalhes da cobra entalhada à proa se tornam mais vívidos, ela está enrolada ali, esperando pacientemente e mostrando as presas afiadas. Logo os homens do galpão estão ajudando a tripulação, levando tudo para dentro do navio, não sei o que tem nas caixas e por segurança, prefiro não saber.

Espero do lado de dentro do galpão, aguardando ao lado do senhor de feição desconfiada lendo um jornal qualquer. Por um momento tudo parou quando ele virou a página do papel impresso em suas mãos, o nome de meu pai foi tudo o que vi antes da agitação.

— Parem de carregar o navio! — Disse o dono do galpão e os poucos homens que levavam as últimas caixas congelaram em seus lugares. — Eles são piratas, chamem os marinheiros!

Os homens começaram a correr e senti meu pulso ser puxado em direção ao fundo do galpão.

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Black Pearl » » Lee SeokminМесто, где живут истории. Откройте их для себя