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Cinco dias se passaram. A adrenalina da invasão já havia se esgotado e a rotina do Noite eterna havia voltado aos eixos, mesmo com as baixas e a saudade que permaneceu, nós seguimos em frente.

Aos poucos os homens voltavam a cantar noite adentro. Jihoon sempre tentava me fazer cantar junto dele e dos homens e eu sempre negava, apesar de ter me aproximado muito deles nos dias que se passaram, mas algo me incomodava.

Seokmin me incomodava.

Desde aquele dia ele está distante e isso me confunde mais que o esperado, porque apesar de tudo, sinto falta dele. Sempre que tento me aproximar novamente ele se fecha então não me resta escolha a não ser aceitar, porque ninguém está com cabeça para joguinhos e depois de tudo o que aconteceu o melhor é dar espaço a ele.

Continuo a limpar o convés, ouvindo os rapazes cantar uma velha cantiga sobre um homem que teve que abandonar seu navio, o curioso é que ele se refere ao navio como "ela". Demorei mais que o necessário para entender que não estavam cantando sobre uma pessoa. O coro de vozes me acalmava e depois de vários dias no mar, esses momentos eram os melhores.

O mar está calmo e o sol se põe no horizonte, trazendo uma bela mistura de cores e uma vista de tirar o fôlego. Tudo isso me deixa melancólica. Eu não deveria me apegar a está vida, ela não era minha e eu não fazia parte disso, mas é inevitável e a cada dia que passa me sinto mais confortável e apegada a esse mundo.

— Apreciando a vista?

Quase derrubo o esfregão com o susto. Seokmin sorri e de uma maneira não explicada pela ciência, meu coração acelera, com aquela cara lavada ele aparece e vira meu mundo de ponta cabeça. Achei que ele nunca iria vir falar comigo.

— Acho que nunca me cansarei disso. — Com um suspiro guardo o esfregão no balde e me apoio na balaustrada para apreciar a vista. — Não está ocupado agora?

— Não, porquê a pergunta?

— Você tem andando muito ocupado nos últimos dias, mal tenho te visto. — Seu sorriso murcha, como se eu tivesse tocado em um ponto sensível e de fato eu o fiz, minha paciência já estava começando a esgotar.

Ele abre a boca para falar algo, todavia, os homens não permitem que eu o escute. Todos cantam a cantiga seguindo até o cozinheiro que distribuía tigelas lotadas com seu guisado que fazia minha barriga roncar com o cheiro maravilhoso.

— Vamos seus maricas! Hora de comer, andando vocês dois e... Desculpe, capitão. Não vi que era você. — Seungkwan se repreende quando passa por nós e não faço muito além de sorrir e entrar na fila.

— Você vem?

O capitão assente e aperta o passo para me alcançar e nos juntamos a roda dos marujos que riam e contavam histórias enquanto comiam. Pela primeira vez em dias pude ter um vislumbre do sorriso de Hyunwoo, que não resistia às piadas de Soonyoung e seu imediato, Chan.

Não demorou muito até acenderem o fogo com a noite e começarem a cantar a mesma cantiga de antes.

— Vocês nunca enjoam, não? — Wonwoo pergunta se juntando ao nosso grupo.

— Ah nos deixe cantar para alegrar a vida, meu caro Jeon. — Soonyoung responde e dá espaço para ele se sentar. — Músicas contam histórias também. Quem aqui nunca teve que deixar uma bela dama para trás?

— Capitão, essa música é sobre um navio, não uma moça. — Jihoon o corrige e arranca risadas de todos.

— É mesmo? Não fazia ideia. — Mesmo constrangido ele se junta as risadas. — Mas esse é um ótimo tema, principalmente porque amanhã chegaremos no Fim da esperanças e lá estão as mulheres mais lindas desses mares.

Não resisto ao impulso de revirar os olhos, depois de tudo o que aconteceu essa ainda é a maior preocupação deles.

— E você Seokmin? — O capitão Kwon continua seu interrogatório. — Já teve que deixar uma dama para trás?

— Eu? Pelo menos nisso eu tenho um pingo de honra e sempre deixo claro minhas intenções. — Um coro animado faz barulho com sua resposta. — Ao contrário de você que foge antes do sol nascer.

— Assim você fere meus sentimentos. — O sorriso dele mostra que na verdade não está nada abalado. — Você me conhece, não tenho colhão para contar a verdade no rostinho bonito delas. Então nosso capitão nunca se apaixonou de verdade?

— Não sei ao certo. Meu coração está guardado para minha pérola negra, como dizia o velho Byun.

— Muito fofo, capitão. — Hyunwoo debocha e age como uma donzela encantada, no fim, recebe apenas o dedo médio de Seokmin como resposta.

— Mas logo saberei a resposta para essa questão. — Ele pisca para Soonyoung que ri da graça do capitão do Noite eterna. Bem lá no fundo eu queria acreditar que ele estava se referindo a mim, mas eu sabia que eu estava apenas sonhando com algo impossível.

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A âncora caiu com um barulho alto na água e logo as pessoas no cais vieram nos ajudar. Muitos navios estavam atracados ali, bandeiras piratas em vários deles, pude reconhecer o Aurora ao longe. A ilha é enorme e por toda costa o embarcadouro se segue, muito embora, nenhuma sinalização ou farol indica onde ela fica e imagino que seja proposital. Ninguém encontrará esse lugar por acaso.

A noite escura me faz forçar os olhos no breu daquele lugar, que não tinha mais que dois lampiões acesos. Tudo piorou quando os tripulantes do nosso navio apagaram as lanternas que trazíamos conosco, sinto apenas uma mão em meu ombro e ouço uma risada quando nota meu susto.

— Discrição é tudo nessa ilha. — Jihoon diz e eu assinto ainda me recuperando do leve susto. — Só entra no Fim das esperanças quem sabe como o fazer, qualquer intruso ou desinformado acabará afundado antes de perceber qual o caminho seguro.

— Então, estamos entrando em um esconderijo de piratas no meio das águas de Joseon.

— Exato. Vamos, será divertido. — Ele estende a mão na minha direção enquanto todos os outros desembarcam sem nem ao menos nos notar. — Te faço companhia.

Seokmin é o último a sair e o único a nos notar, depois de alguns segundos ele apenas dá as costas sem nada dizer e sai do navio. Como se eu estivesse fazendo algo errado ele me ignora e aquilo só piorou meu humor.

Que bicho mordeu ele?

Se esse... Se ele acha que vou correndo atrás dele está enganado.

Gostaria de perguntar qual o problema dele, mas estou cansada de tudo e se seu problema é comigo, ele que venha até mim para resolve-lo.

Não estava com cabeça para farra, muito menos para aturar homens bêbados e seus comentários, por isso nego com a cabeça para Jihoon, que se limita em erguer as sobrancelhas em confusão.

— Preciso esfriar a cabeça e organizar meus pensamentos e um lugar cheio não vai ajudar em nada no momento.

— Certeza de que não quer companhia?

— Tenho. Preciso de um tempo sozinha. — Ele assente e se despede com um sorrisinho e logo me encontro, finalmente, sozinha. Sem homens me cercando, sem Jihoon, sem Seokmin e mais importante, sem nada que vá causar complicações. — Vai ser o melhor para mim agora.

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Black Pearl » » Lee SeokminWhere stories live. Discover now