Parece que décadas se passaram desde que ela chegou aqui, desde que eu entrei nessa mesma cabine, pedindo por sua ajuda e seus olhos me encararam tão tristes e cansados, frios, acima de tudo. Aqui aprendi a vê-la de outra forma, a pensar de outra maneira e me permiti conhecê-la de verdade, sem nenhum rótulo ou preconceito e a vi fazer o mesmo. Foi a primeira pessoas a se importar com quem eu sou por trás desta reputação que carrego desde que me lembro, e agora, terei que aprender a deixá-la ir... A dizer adeus.

— Parece que tanto tempo se passou. — Sua voz quebra o silêncio melancólico e me levanto para ficar ao seu lado. — Eu detestei este lugar na primeira vez que entrei aqui.

— Você me encarava como se fosse me jogar do navio.

— Não venha me culpar, Seokmin. — Seu tom risonho me fez abrir um sorriso. — Você me carregou quase a força até aqui e ainda me chamou de problema. devo lembra-lo da missão suicida?

Suas sobrancelhas se arqueiam e os braços se cruzam, mas seu sorriso afiado continuava ali, dançando e me provocando como faz a muitas noites e dias. Antes que diga mais alguma coisa eu me abaixo e a carrego sobre o ombro, da mesma forma que a levei para o bote naquela noite, porém desta vez, tudo o que ouvi foi sua risada enquanto girávamos pelo cômodo espaçoso. É tudo o que preciso ouvir agora.

Preciso saber que ela ficará bem.

A mantenho por perto quando a coloco no chão apenas para apreciar seu sorriso enquanto tira o cabelo do rosto.

— Você é o melhor problema que eu poderia encontrar por aí. — Soo Yun revira os olhos mesmo com o sorriso ainda ali. — Princesa.

— Meu sangue fervia de raiva sempre que você me chamava por esse apelido. — Ela aperta minha bochecha e não se afasta mesmo quando solto sua cintura.

— Tudo bem, eu tive a impressão errada quando a conheci. — Mesmo com o lugar escuro, a luz da lua me permitia observar cada um dos pontinhos em suas bochechas, era uma das mais belas visões. — Tudo mudou depois da nossa conversa aqui dentro.

— Fiquei feliz quando vi que me deixaria te conhecer também e aquele vinho estava muito bom.

— Depois daquela noite foi só ladeira abaixo, quando percebi estava correndo ao seu encontro por todo aquele cais. — Minha mão toca seu rosto em uma carícia, seus olhos se fecham e sua mão toca a minha. — Ainda perdi um chapéu.

Um silêncio se instala, sendo quebrado apenas por nossas respirações. Perto demais, me sinto tonto, mas nada está girando. Aqui, a única coisa que se passa em minha mente é o quanto será difícil dizer adeus e que eu a amo de todas as formas possíveis.

Não posso lidar com isso.

Não sei como lidar com isso.

As memórias se tornarão dolorosas assim que ela sair por aquele porta e já é tarde demais para pedir distância, para nós dois é como um veneno que já se espalhou por todo corpo, rápido, silencioso, doloroso, incurável.

— Como ficaremos depois disso?

A pergunta sai involuntária. Seus olhos se abrem naquele brilho frio e intenso e me estudam. Um arrepio percorreu todo o meu corpo e suas mãos seguram as minhas com força.

— Eu não sei... — Era doloroso vê-la dividida, ver que eu podia ter evitado isso se tivesse me distanciado, mas e fui egoísta e não me controlei. — Mas vamos encontrar uma maneira, eu espero.

— Soo Yun, eu fui egoísta. Se eu tivesse apenas te protegido de longe isso não estaria acontecendo, eu não pude... Não consegui ficar longe, eu...

— Seokmin, me escuta. — Ela me interrompe quando sua mãos se prendem ao meu rosto e seus olhos nos meus, eu me calo. — Não se culpe por não controlar o que é incontrolável. Meu amor, eu não queria te querer, mas aconteceu. Eu não queria te amar, mas amo e assim que isso começou eu sabia que não teria volta.

— M-me ama? — Pisco várias vezes, vendo seu sorriso se alargar e as bochechas ficarem vermelhas no cômodo escuro. — Como pode estar tão certa disso?

— Todas as minhas dúvidas desapareceram quando tentei imaginar como meus dias seriam sem você e eu não consegui ver um futuro plenamente feliz. — Suas mãos descem e param em meus ombros cobertos pelo sobretudo, ela chega mais perto. — Queria poder esquecer de quem eu sou, das responsabilidades, mas tenho pessoas que me esperam e apesar disso tudo, sou toda sua de corpo e alma, por isso tenho tenta certeza.

— Minha é? Desde quando pensa desta forma? imaginei que achasse isso injusto, se tem algo que aprendi com você é que está além de uma carga ou uma conquista.

— Façamos um acordo então, uma troca equivalente. — Sua voz está baixa como nunca ouvi antes, os olhos escuros e a respiração pesada. — Sou tão sua quanto você é meu.

 
Assinto, preso em seu encanto, enfeitiçado por tudo que diz respeito a Moon Soo Yun.

— Eu também amo você, minha bela pérola negra.

E ali estava, o começo do fim. Foi involuntário, impossível de controlar quando a Moon deu mais um passo em minha direção e pude senti-la tão perto de mim. Envolto, fissurado, era assim que me sentia. Basta um passo dela para meu mundo desabar, suas mãos se prendem em meu cabelo e seus lábios buscam os meus, viciante, atraente e perigoso.

Novamente sinto esse veneno percorrer minhas veias, um veneno tão antigo quanto o tempo. Suas mãos passeiam pelos meus ombros e quando percebo meu casaco já escorrega pelos meus braços.

— Não me teste, Moon Soo Yun.

— Quem disse que isso é um teste? — Ela sussurra, abrindo um sorriso que me desestruturou por completo e a encaro esperando que ela hesite.

Ela não hesitou.

Meu corpo inteiro tremeu quando ela me puxou e sua direção, guiando nossos passos até a cama. Não perdi a oportunidade de arrancar uma risada sua ao ergue-la nos braços novamente e a levar até lá.

Não há o que ser dito, não neste momento. Só consigo pensar na sorte que tenho por tê-la conhecido e que não me arrependia de nada.

Aqui e agora, somos apenas dois jovens que nunca se encaixaram no mundo.

Duas pessoas amando e sendo amadas, pela primeira e última vez.

Antes de um cruel adeus.

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