Um pequeno grupo nos espera, reconheci apenas um rapaz da nossa tripulação, o jovem que não devia ter mais que dezoito anos. Fora ele todos os outros eram desconhecidos para mim.

— Que bom que chegaram, são os últimos? — Ele olha em volta, possivelmente contando quantos estão ali. — Ótimo, temos um trabalho delicado em nossas mãos.

Seu sorriso, de alguma forma, me fez temer pela minha vida.

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Há duas formar de se conseguir informações:

De qualquer maneira você precisará ir até a fonte, de preferência confiável.

A voz de Mingyu rondava meus pensamentos, mas não perco o marinheiro de vista. Tenho andado atrás dele durante todo o dia, principalmente quando descobri que ele trabalha no arquipélago que tanto estamos visando entrar.

Ele se senta perto da janela em uma taverna longe do porto. Sua figura alta e forte me parece solitária ao beber sozinho ao fim de um dia parado.

O primeiro é bem simples. Violência é sempre um meio de se extrair informação, mas não são todos os suscetíveis a esse método. No entanto, o segundo é mais infalível, porém, mais difícil. Ninguém resiste ao desejo e isso misturado ao álcool é a combinação perfeita para se conseguir o que quer.

Espero que ele termine seu copo de cerveja para levar outra até ele e me sentar em sua frente. Seus olhos me estudam e me forço a lhe dar um doce sorriso.

— Está sozinho, cavalheiro? — Tudo o que recebo é um sorriso cafajeste, que no fim é tudo o que preciso. Um passe para entrar em sua cabeça, mas o pó de despejei em seu copo faria o serviço por mim, outra coisa que tive que dar meus pulos para pegar de uma barraca de ervas.

— Estou a seu dispor nesta noite, bela dama. — Arrumo o cabelo atrás da orelha, fingindo uma vergonha e sentindo repulsa daquela imagem arrumada e produzida que um dia eu fui obrigada a adotar como minha.

Não foi difícil roubar um vestido requintado. Pena que eu teria que jogá-lo fora depois, tive que prender o cabelo, como a muito eu não fazia, mas se tem algo que descobri ser útil para se atrair atenção de maneira discreta eu diria que é essencial mostrar o pescoço e as clavículas. Eu teria que fazer o esforço máximo para parecer a dama comportada e perfeita hoje a noite.

Se vocês optarem pela segunda, saibam aproveitar os atributos que a vida deu para vocês. Um sorriso pode abrir portas, meus amigos.

As horas passaram, o sol se pôs e a taverna logo estava repleta de música e pessoas. O marinheiro à minha frente me cortejava descaradamente, suas falas emboladas estavam sendo muito úteis no fim das contas. Ele não era muito inteligente, mas o que tinha de burro tinha de bonito.

— Aquela droga de ilha. Os prisioneiros são um porre de aguentar, eu não aguento mais. Por que não me colocaram para cuidar do galpão na maior ilha? Ao invés disso, tenho que cuidar daqueles piratas nojentos na ilha do extremo leste, eu odeio o nascer do sol! — Ele exclama, gesticulando de maneira exagerada. — Mas não me importaria de vê-lo refletido em sua pele.

— E por que não fazemos isso?

— Você é bem direta para uma dama, isso é incomum, mas eu gostei.

Ele se levanta e deixa o dinheiro sobre a mesa para depois pegar em minha mão e me levar para fora da taverna. Seguimos pelas ruas, andando calmamente para um destino incerto, em alguns momentos ele tentava se aproximar, porém eu frisava que precisávamos encontrar o lugar perfeito.

— Então, você cuida de piratas. Não é perigoso?

— Nem um pouco. Eles ficam presos em jaulas como pequenos animais. — O homem gargalha e quase se desequilibra. — Eles não tem como atacar e só eu e o capitão temos a chave.

Meus olhos brilham ao ver o molho de chaves em suas mãos. Me dou conta de que ele não era um mero marujo, talvez alguém com uma patente mais alta. Por um momento agradeço ao universo por estar conspirando ao meu favor.

Não demorou até chegarmos à um lugar escuro de baixo de uma ponte. O homem já estava meio grogue, todavia nada o impediu de tentar me roubar um beijo. Um soco em seu maxilar foi tudo o que bastou para ele cair e não se levantar, sinto minha mão doer e apenas relevo para começar a vasculhar seus bolsos.

Se achou que ia me deitar com você, amigo, está muito enganado.

Não encontrei muita coisa além do molho de chaves e um velho caderno com anotações que julgo ser importante. Então, antes que ele acorde eu escondo seu corpo adormecido nas sombras e deixo aquele lugar.

Agora seria a parte complicada do meu plano. 

Sair da taverna vestida assim foi fácil, entretanto agora, ela está cheia de homens e muitos deles conhecem o Yunho. Que a sorte esteja do meu lado...

Percorro todo o caminho de volta ao porto, o belo vestido de um tecido claro estava sujo nas barras, pela lama e sujeira que estava por toda rua. Reconheço a música e cantoria da taverna e me preparo para tentar passar para os quartos sem ser notada, não quero problemas, muito menos, com a senhora ruiva que dançava para lá e para cá com o Bob.

Por que eu fui deixar tudo lá? Devia ter pensado melhor, Soo Yun.

Me concentro no trajeto até as escadas e respirando fundo eu entro no salão espaçoso.

Desvio de marujos que eu não conhecia e já estavam caindo de bêbados, passo pelos cantos e foco na escada, seguindo até ela quase correndo. Esbarro na figura que me bloqueou de repente e quase deixo um xingamento escapar.

— Olá, bela dama. O que te traz aqui? — Mingyu pega minha mão e deixa um leve beijo nela. Suspiro em alívio quando vejo que ele não me reconhece.

— Preciso apenas passar, bom senhor. — Aponto para as escadas e suas sobrancelhas se juntam em confusão.

— O que uma jovem tão bela faria em um lugar como esse?

— Tenho assuntos a resolver e sinto em dizer que eles não são do seu interesse. — Ouço Jeonghan rir no fundo e o sorriso de seu imediato se alarga.

— Tome cuidado, Mingyu! Gatinhas arranham. — A voz do capitão Yoon me dá certeza que ele já está bem alegre pelo álcool.

O imediato olha em volta, posso reconhecer alguns dos homens que fazem parte da tripulação do Noite eterna tudo o que posso fazer é olhar para baixo e arrumar meu cabelo preso da melhor forma que consegui arrumar.

Espero que eles estejam em um mundo diferente para me reconhecer.

— Sabe jogar?

Mingyu aponta para o tabuleiro de xadrez que estava ali perto. Assinto, agradecendo a qualquer divindade que esteja me escutando pela baixa luz daquele lugar.

Seokmin passa atrás dele e quando seu olhar para em mim ele arregala os olhos. Troco olhares com ele, rezando para que ele entenda que eu tenho o controle da situação. Seus punhos se serram e o maxilar retesa.

— Que tal um jogo? Se você ganhar eu te deixo passar sem perguntas e ninguém vai saber que está aqui, se eu ganhar você toma uma cerveja comigo.

— Se eu perder precisarei responder suas perguntas, senhor Mingyu?

— Talvez.


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Black Pearl » » Lee SeokminOnde histórias criam vida. Descubra agora