10 - Céu e inferno na Terra

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TEM UM CORPO DESACORDADO NO MEU QUINTAL. Eu não fazia ideia se as outras pessoas podiam ver Samael caído e completamente arrebentado no chão. E eu não sabia se meu pai estava em casa ou não.

Como eu vou levá-lo para dentro? Para o meu quarto, no segundo andar? Eu me ajoelhei no chão ao seu lado tentando encontrar uma maneira de levantá-lo. E só consegui ficar lá, parada o olhando, e pensando em como diabos ele ficou assim. A resposta apareceu em minha mente com um nome que vinha me assombrando. Lilith.

Ele dormia tão calmamente que não parecia que estava acabado. Seus traços delicados, angelicais, estavam escondidos sob hematomas e manchas negras. Rocei a ponta dos meus dedos sobre a maçã do seu rosto até a têmpora, onde alguns fios mais compridos do seu cabelo estavam grudados. Meu coração pulava a cada batida e eu esqueci de respirar. Ele não se mexeu em exceção do seu peito, que subia e descia despreocupado.

Larguei minha mochila no chão sem muitas cerimônias e me levantei, fui até a porta de casa e a abri, dei uma olhada por toda a sala procurando sinais da presença do meu pai e não encontrei nada. Voltei para Samael ainda inconsciente no chão, me agachei e o segurei por debaixo dos seus braços. Ele era ainda mais pesado do que imaginei. Com muito esforço, o coloquei sentado com um braço de apoio no meio de suas costas. Procurei com a outra mão por minha mochila, e quando a encontrei peguei de lá uma fita adesiva que levava pra escola. As asas do Samael estavam encolhidas, o que facilitou quando comecei a dar voltas e voltas com a fita por elas, as mantendo fechadas e fixas. Ele vai me matar quando acordar.

Trabalho feito. Jogo a fita quase sem nada na grama e aproximo meu rosto da orelha do Samael.

— Preciso que me ajude, não vou conseguir sozinha.

Disse gentilmente o sacudindo um pouco. Ele resmungou e aproveitei o instante de consciência para levantá-lo. Ele resmungou mais alto enquanto levantava, não foi tão difícil como seria pois ele me ajudou se forçando a levantar e por peso sobre suas pernas.

— Isso, vamos com calma. — Coloquei meu braço debaixo do seu, servindo de apoio e envolvendo sua cintura.

Fomos caminhando com certa dificuldade até a porta, a chutei para que fechasse e levei Samael até o pé da escada.

— Vamos subir a escada agora. Você está escutando? Preciso que me ajude mais um pouco. — Seus olhos estavam entreabertos, lutando contra a inconsciência.

Subimos a escada degrau por degrau. Eu já estava suando com o processo, e morrendo de medo de que caíssemos.

Finalmente, chegamos à porta do meu quarto, depois de algumas tentativas consegui abrir a porta e levei Samael até a cama, o sentei largando sua cintura fina. Mas seu braço ainda estava sobre meus ombros me segurando, apoiando-se nele para que não caísse. Não deve ter percebido que já estava sentado. Tentei me libertar dele com calma, porém, quando estava o retirando de mim, ele se agarrou com mais força me puxando para si. Meu rosto foi parar a poucos centímetros do seu. Sua boca entreaberta com os lábios ressecados e o nariz quase a encostar no meu. Minha respiração pesou e eu me afastei em um movimento brusco. Sem o apoio, o corpo dele se desequilibrou e caiu deitado na cama.

Eu tinha ficado exausta, fui até a cadeira da escrivaninha e desabei nela, deitei minha cabeça no encosto respirando profundamente, com o coração ainda acelerado. Me virei e fiquei observando Samael deitado tranquilo, dormindo na minha cama, completamente espancado depois de uma semana fora em uma viagem para o inferno. 

 

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De Cara Com A MorteWhere stories live. Discover now