9 - Um anjo no inferno

75 14 158
                                    

UM CAOS COMO DEVERIA SER E CHAMAS COMO AS PESSOAS FALAM. A quentura do ambiente era sufocante, e não havia ar para respirar. Senti as chamas dançando pelas minhas pernas e nas pontas das minhas asas. As contraí para que não queimassem.

Podia sentir aquele fogo por dentro de mim, esse lugar maldito queima tudo que é divino. Não pude evitar minha expressão de nojo quando vi criaturas se rastejando pelo chão na minha direção, queria os pisotear até não restar mais nenhum. Mas não estou em posição de matar nenhum demônio. As criaturas deixavam rastros de uma gosma negra, desviei meu olhar pra frente. Conseguia ver os muros que dividiam as capitais do inferno e as legiões de demônios.

Uma náusea repentina me percorreu e um tremor das minhas pernas as asas. Via o castelo de Lilith e os demônios que voavam em volta.

— Acho que é mais conveniente guardar as asinhas, Anjo. Não tem como esconder o seu cheiro... — Mammon que fez uma careta. Ah, ok. O meu cheiro que fede. — Mas, se as guardar, evitaremos problemas.

Passou a encarar minhas asas que havia deixado fechadas no meio das minhas costas. As guardei. Sem elas, parecia um humano normal, exceto pelo fato do poder celestial. E do meu aparente cheiro.

Fomos andando lado a lado, Mammon claramente divertido com a situação. E mesmo eu odiando admitir, a cada passo dado em direção ao castelo, meu medo aumentava. Nenhum demônio se aproximou de nós durante o caminho. A presença dele era algo a ser respeitado, ao menos no inferno.

Quando estávamos perto do palácio, os demônios que sobrevoavam o local desceram brutalmente aterrissando quase em cima de nós. Minha primeira reação foi invocar minhas karambits e depois expulsar minhas asas para fora, entretanto, Mammon me impediu antes que o fizesse cravando suas unhas nas minhas costas. Travei a mandíbula e cerrei os dentes. Mantive-me imóvel.

Eu vou arrebentar a cara dele.

As duas criaturas à nossa frente eram enormes. Com asas consideravelmente menores do que as minhas mas, de qualquer forma, grandes.

Tinham chifres corpulentos e irregulares pela cabeça e corpo. Não existia pele. Eram massas de carne avermelhada; pareciam uma ferida viva, e faziam sons altos. Um deles, o maior, se aproximou ainda mais de Mammon. Provavelmente não havia o reconhecido pela aparência ainda mortal. Ele gostava de ficar assim tanto quanto de se contorcer pelo chão. Mammon com essa forma não era tão grande quanto o outro demônio, uns bons trinta centímetros os separavam. Mammon sorriu, aquele sorriso ácido, venenoso; onde você não poderia dizer se ele achava graça de algo que somente ele havia percebido ou pensado, ou se ele estava prestes a cortar sua garganta com as garras. Considerando a situação atual, apostaria na segunda alternativa.

De qualquer modo, ele sempre gostava de um bom espetáculo para se exibir.

Ele se aproximou também ainda com o sorriso nos lábios e levantou a cabeça para olhar o demônio nos olhos, que não existiam. Apenas marcas distorcidas e repuxadas para os cantos com muco negro. Pude sentir a energia irradiando de Mammon, ele ia cuidar disso.

Seus olhos brilharam de raiva e poder. O outro demônio rosnou de modo grave e sofrido, um gemido no fim. Ele foi esmagado por uma força invisível contra o chão. Suas asas quebraram, sua coluna se curvou ainda mais enquanto gemia em direção ao chão. O segundo demônio que estava na minha frente simplesmente se afastou alguns passos e se curvou. Mammon nem mesmo o olhou. Ele levou sua mão para o rosto da criatura já contorcida no chão à sua frente, enquanto suas unhas cresciam ferozmente. As cravou na carne sangrenta e ferida, na área onde se encontrariam os olhos. O demônio gemia de agonia e se contorcia o máximo que podia sob a pressão que não o havia largado.

De Cara Com A MorteWo Geschichten leben. Entdecke jetzt