27 - Sempre Voltamos A Terra

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Um final de tarde perfeito e pleno, onde eu esquecia todos os acontecimentos anteriores e apenas desfrutava daquela paz, a tranquilidade do meu corpo, mente e espírito com meu corpo colado no de Samael.

Estávamos num tipo de abraço, com meu rosto no seu peito e o dele pouco acima do meu, envolvendo o outro com os braços e as pernas embrenhadas uma nas outras. Suspirei, estava perfeito demais. Me esfreguei levemente na sua pele como se fosse um cobertor fofinho, daqueles peludos.

Samael riu baixinho.

— Até parece uma menininha doce e adorável — zombou.

Eu olhei para ele com a cara mais perplexa e confusa o possível.

— E eu não sou?

Ele deu um sorriso de lado e chegou perto do meu ouvido.

— Há uns momentos isso era tudo que você não parecia.

Senti meu rosto esquentar e lhe ofereci um sorriso adorável que foi desmanchado um selinho.

— Quero isso, exatamente isso. Você — confessou.

Desviei o olhar.

— Até quando eu começar a sangrar, ficar doente e cair morta?

Seu corpo ficou tenso, e quando retornei meu olhar, sua feição era sombria.

— Amélia...

— Você está estragando o momento — disse com raiva.

Ele podia falar disso depois, podíamos continuar fingindo a nossa tranquilidade divina. Samael se revoltou e retirou o braço que me segurava pela cintura.

— Não consigo ficar aqui e esquecer seu plano de suicídio!

Meu rosto e humor automaticamente se fecharam. Eu me afastei e levei catando minhas roupas do chão e as vestindo. Não acredito que ele está estragando esse momento.

— Você não tem trabalho? Acho que eu e você precisamos de um tempo sozinhos. Eu preciso.

No início passava metade do tempo fora enquanto que ultimamente estava sempre comigo. Eu não tinha falado de um jeito exatamente delicado, entretanto seu rosto foi de escárnio enquanto se sentava.

— É sério? Está me mandando embora?

Titubeei. Estava com raiva, não queria que ele fosse embora, mas precisa de um tempo sozinha, tinha algo me incomodando que pedia por uma atenção especial.

— Sim, por agora — afirmei.

Samael passou a mão pelos cabelos, e não olhou para mim antes de desaparecer junto com as peças de roupa.

Tinha algo se agitando bem lá no meu íntimo, escondido nas sombras da minha mente. A árvore da minha casa tinha de ter algo, porque uma coisa que aprendi era que tudo que o Azebel fez tinha consequências, afetava minha vida, influenciava meu caminho.

De alguma forma minha pele coçava para voltar, tocar e sentir a energia semelhante a sua. Tem algo lá, sei disso. O único jeito mágico de se locomover era com o Sam, mas eu também posso fazer isso, só não sei como. Nem se conseguiria aguentar.

Com a preocupação a clareza veio; não preciso ir até lá, posso trazer a árvore. Já tinha feito isso, com um simples caderno no entanto.

Vamos lá, é só visualizar, você já está pegando a prática.

Relaxei. Permiti que a luz surgisse tão intensamente pelas minhas veias que meu corpo ficou levemente dormente. Visualizei com a maior riqueza de detalhes que pude, tentei sentir sua textura sob meus dedos, a desejei, a chamei.

De Cara Com A MorteWhere stories live. Discover now