Gone

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¨You taught me the courage of stars before you left

How light carries on endlessly, even after death¨

Saturn - Sleeping At Last


Amélie morreu em uma tarde chuvosa em Julho de 1928.

Por toda casa de Alfie Solomons haviam retratos seus, deles, e do pequeno menino que chamaram de filho. 

Uma linda pintura ficava no centro do topo da escadaria que levava ao segundo andar da mansão, era Amélie posando tranquila e passivamente ao seu captor, os cabelos presos levemente bagunçados, os olhos esmeralda reluzindo, a boca levemente retorcida em um sorriso.

Alfie achava que era ela a Monalisa que Da Vinci não conheceu, e que nem mesmo ele poderia ter eternizado sua beleza como realmente fora. O quadro não poderia imortalizá-la jamais, era mil vezes mais bonita do que qualquer coisa que ele já viu.

E ele passou por aqueles retratos, pela pintura, somente com o silêncio vivendo ao seu lado, dia após dia, ano após ano, até que suas costas começassem a doer demais e as pernas já não fossem mais tão fortes quanto antes.

Nunca mais se casou. 

Nunca mais sorriu para outra mulher.

Não teve filhos.

Visitava o túmulo da esposa todos os dias, trazendo-lhe flores das mais diversas e belas. Borrifava perfumes caros ao redor de seu pequeno retrato, contava sobre seus dias e seus pensamentos, e na maioria das vezes terminava chorando de saudade. 

Michael e  Gina Gray...

Casados até hoje, infelizes também. Michael teve outros três filhos com Gina, todos eles mortos por diferentes motivos. Pequenos demais, doentes demais, inconsequentes demais.

O último que faleceu chamava-se Aaron. Brigão, quis abraçar o mundo e ofendia todos que rejeitavam suas vontades, encontrou alguém que não estava disposto a aceitar tudo aquilo. 

Bem, o resto vocês já sabem.

Restou-se então Michael Jr., o filho mais velho de Michael e primeiro e único de Amélie. Este pobre coitado, dizia Gina Gray nas festas de chá com suas ¨amigas¨ ricas, a mãe o maltratou, o pai o renegou...

Depois que a mãe cometeu suicídio, ele passara a ter pesadelos, se sentia inseguro e confuso o tempo todo. Na sua mente infantil, mamãe somente tinha ficado doente, viajou pra longe para melhorar, mas nunca mais voltou. Mesmo assim, Michael Jr. ainda era quem de fato nasceu para se tornar, os cabelos levemente ruivos, o olhar verde com tons de castanho escuro, uma postura firme e inteligência merecidamente reconhecível.

Tornou-se ele então, junto com Arthur e John, um dos homens de confiança de Thomas Shelby. Formou-se em Direito com honras, atuando na empresa diretamente, eles não se desgrudavam jamais.

- Você é a sua mãe todinho... - dissera uma vez Polly Gray, sua avó, entre uma tragada de cigarro e um gole de vinho. - Foi a melhor coisa que a merda do seu pai já fez.

Aos vinte e cinco anos, ele se sentia só. 

Com vagas lembranças de um homem que lhe pareceu um pai em uma vida distante. Questionou todos os familiares, mas quando o assunto era sua mãe e o que veio antes dela, ninguém ousava falar, parecia que queriam esquecê-la.

- Me diga vovó! - implora, chacoalhando de leve os ombros da velha rainha cigana. - Me conte sobre ela, me conte quem é esse homem o qual eu me lembro todos os dias, antes que eu os esqueça de vez.

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