Bad dreams

830 73 52
                                    

¨Danger will follow me now
Everywhere I go
Angels will call on me
And take me to my home
Well this tired mind just wants to be led home¨

Everywhere i go - Sleeping At Last

Em algum lugar

Caindo pela terceira vez, respiro, o pulmão exausto por trabalhar demais.

Mais barulhos de cães latindo, e tiro forças do desconhecido para me pôr de pé novamente, voltando a correr.

As árvores parecem que sempre irão atingir meu rosto enquanto corto por elas, tentando despistar o rastro, mas de quê adianta se o cheiro do meu corpo está impregnado por todos os quatro ventos dessa floresta?

Chegando na beira de uma vertente do rio que cortava a mata, olho para os lados, buscando uma saída, e ela parece ser só uma.

Pule.

Admito que não nado tão bem quanto gostaria, e a correnteza parecia feroz, mas se não o fizesse o que seria de mim? E com isso em mente me jogo, sendo carregado pela correnteza, lutando contra a força da natureza, engolindo montes de água e a cuspindo sempre que emergia novamente.

Mas estou tão exausto, não sei se é o certo continuar insistindo nessa fuga insana do impossível, a morte é inevitável. Um barulho de cachoeira chega aos meus ouvidos, apesar da fúria da água ao meu redor, e quando inclusive ela some, tudo ao redor são suas gotículas e ar, uma queda é o que me espera.

Eu vejo tudo passar devagar, e fito as estrelas, lindas e distantes, o peito cheio de medo e tristeza pois prometi algo que não conseguirei cumprir, não mais nesta vida.

...

Com um baque, a sensação de cair me desperta, com a cama encharcada de suor ao meu redor. Pareceu tudo tão real, mas era como se fosse outra pessoa vivendo aquilo, não eu.

Aquela tentativa fracassada de tirar um cochilo da tarde me mostrou que nem quando estou completamente sozinha tenho a capacidade de relaxar.

Tem sido tão solitário viver sem ele. Ao olhar pela janela, o céu estrelado e a brisa reconfortante que passa suave por meus braços, cogito se não é hora de deixar alguém entrar em minha vida. Confesso que ultimamente ando tendo aquele tipo de desejo.

É. 

Aquele.

Michael Jr. tinha ido passar o final de semana na casa de Polly, ela o buscava uma vez por semana para passar um tempo com ela, fazendo com que me encontre rolando de um lado para o outro na cama após esse sonho angustiante. 

O telefone toca no andar debaixo, ruidoso como um sino, os passos de Josephine ecoam até ele, para momentos depois ecoarem até mim.

- Madame Gray? – sua voz suave chega aos meus ouvidos, junto com as leves batidas na porta.

Caminho até ela e abro, fitando-a, sua expressão é de alguém preocupada.

- Desculpe incomodar madame, mas é para a senhora.

Afago seu ombro, como se quisesse dizer que não há problemas naquilo, as palavras tem me faltado bastante às vezes.

Chegando e tocando no telefone, coloco-o na orelha, saudando quem quer que fosse.

- Quero falar com Michael Gray.

Aquela voz... Eu a reconheço.

- Como o senhor se atreve a ligar em minha casa a essa hora da noite? – acuso, sentindo a irritação aparecer.

- Quem é você afinal de contas? – questiona o homem, tão irritado quanto eu. – Secretária de dia? Mãe dele a noite?

- Esposa dele em período integral. – respondo entre dentes. – E o senhor quem seria?

A linha fica muda, o desgraçado havia desligado em minha cara.

Bufando, rolo os olhos e pego o telefone novamente, aguardando até a telefonista iniciar a chamada.

- Sim? - a voz do outro lado saúda mau-humorada.

- Alfie? Sou eu... - mordo o lábio, enrolando algo imaginário na mesa.

- Amélie, oi! - rapidamente percebo uma mudança em seu tom de voz. - Precisa de algo?

Suspiro, mordendo a língua para não dizer mais do que deveria.

- Gostaria de vir jantar aqui em casa? Estou só, gostaria muito de companhia...

Ele confirma sem exitar, o que me faz sorrir.

- Até logo então.

Peço para que Josephine faça algo para o jantar e uma tábua de frios para ser degustada como petisco.

Tomo banho, coloco um belo vestido e me pego alisando os cabelos de forma frenética em frente ao espelho, como se tentasse provar algo para mim mesma. Eu me lembrava do que Aidan tinha feito comigo, e de como eu fiquei, e simplesmente tremi ao ser assombrada mais uma vez por aquela memória.

Por que eu havia convidado Alfie para jantar? Estou me sentindo ridícula, uma tola. As palmas das mãos estão encharcadas de suor e eu não consigo esconder o quão nervosa estou. Fazia muito tempo desde que tive qualquer tipo de contato físico com um homem

Não que isso fosse acontecer, Deus. 

Depois de surtar o suficiente, penso em desistir da ideia. Minha barriga ronca no exato momento que pego uma taça e me sirvo de vinho, o gosto adocicado enfeitando meu paladar. Torço profundamente para que ele não venha.

Um carro para em frente à casa, eu ouço o pneu freando de encontro ao chão.

Vou até a porta de forma desajeitada, tropeçando em meus próprios pés. Abro-a com um sorriso esquisito, embasbacada demais para dizer algo genuinamente inteligente.

- Boa noite. – diz Alfie, retirando o chapéu e levando-o de encontro ao peito. – O cheiro está maravilhoso, se me permite.

Coro, convidando-o para entrar.

Vamos até a sala de jantar, onde a comida já está servida, assim como o vinho e a tábua de frios. Nos sentamos ligeiramente distantes, ele em uma ponta e eu na outra, comendo em silêncio.

- É simplesmente maravilhoso! – elogia após algumas colheradas, suspirando e se deleitando com mais. – Faz tempo desde que provei uma comida tão gostosa assim.

- Ah Alfie, que bajulação. – rolo os olhos, comemorando internamente.

Aquela quebrada de gelo foi sutil, e me fez ficar vermelha como um pimentão.

- Sério, eu mesmo não janto tem tempos. – aponta a colher para o prato, gesticulando com a cabeça. – Estava tão ocupado que nem vi a fome chegar.

- Ocupado é? Com o quê? – me inclino, interessada com o motivo de seu esquecimento.

Uma risada rouca sai de sua garganta, obrigando-o a limpar uma gota que caiu em sua barba.

- Negócios. – responde, depositando levemente a colher no prato. Ele me encara por alguns segundos, quase como se tentasse desvendar meus pensamentos e o sorriso torto que direcionava para si. – Mas isso aqui é bem melhor.

Depois de muita conversa besta e um jantar farto, nos encontramos sentados na varanda.

Ele é uma companhia simplesmente esplêndida, engraçado e gentil. Tudo que saiu de sua boca até agora foram elogios, piadas bobas, uma conversa leve como não tenho há muito tempo. O charme dele era gritante naquele ponto, e eu não consigo mais segurar o deslumbre.

Quando foi que Alfie se tornou um homem tão bonito?

Nossas mãos se tocam sem intenção em um determinado momento, e eu não me afasto. Ele percebe aquilo e roça o polegar por toda uma extensão, me causando arrepios.

- Você é tão linda. - diz, se aproximando com calma, como se tivesse medo de me assustar.

Sem aguentar mais aquela ansiedade, eu mesma me jogo em seus braços, me permitindo finalmente tocar seus lábios pela primeira vez.

Forced Marriage ✔️Where stories live. Discover now