Those who stayed

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¨Heard a whisper

Something said so sweet

Now quiet as ever, we'll leave this scene¨

Change it All - Harrison Storm

Amélie P.O.V

Ele é tão lindo, tão perfeito...

Sentada na cadeira que escolhi especialmente para esse momento, já em casa, amamento o pequeno bebê em meus braços, acariciando seus cabelos de leve, tudo está em silêncio, tirando o seus sons baixinhos, ele me olha com seus grandes olhos, curioso com tudo ao seu redor.

Suspiro, encarando as bochechas gordinhas em um movimento de mastigação, e tento me preparar para o que está por vir. A cerimônia de dispensa e honra aos mortos. Um carro logo chegaria para me levar e um calafrio me percorre, ainda que tenha consciência da realidade, é difícil admiti-la.

Quando meu filho se dá por satisfeito, e eu sei que está pois já não mama mais, apenas aperta e faz graça, guardo meu seio dentro do sutiã novamente, colocando-o com a cabeça em meu ombro, dou leves batidinhas até ouvir um pequeno arroto.

- Prontinho, agora está tudo bem. - falo baixinho, mais para mim do que pra ele.

A buzina soa alta na frente da propriedade e sei que são eles.

Desço com a maior calma do mundo, ansiando por não ter que fazer isso, mas era necessário.

- Madame. - diz um dos oficiais que estava no carro, do lado de fora, ao abrir a porta para que eu entrasse no veículo.

Nada respondo, não por falta de educação mas sim por estar pensando longe.

O caminho foi longo, com algumas paradas. O bebê quer brincar e olhar tudo, alheio à família problemática e quebrada que o cerca.

Era quase noite quando chegamos. Sou hospedada em um luxuoso hotel no centro de Londres, a decoração pesada em tons de vermelho, lustres que desciam cintilantes do teto como se fosse sóis, o piso de mármore tão limpo que se podia ver o próprio reflexo.

Isso teria me impressionado antes, não mais agora, tudo isso parece vazio e sem graça, a beleza do mundo havia sumido.

- Espero que esteja de seu agrado madame. - diz o recepcionista ao me deixar na entrada do quarto. - Boa noite.

Ao entrar no cômodo, vejo apenas uma sala vazia, não de objetos, mas de amor. Era como se o meu filho fosse tudo que tivesse restado para mim, meu único foco.

Coloco-o deitado na cama, traçando cada detalhe de seu rosto, eles são tão parecidos, tão iguais, Michael ficava lindo quando sorria, nas raras vezes que se permitia fazer isso e geralmente quando estávamos à sós, nosso filho fica igualzinho. Roço meu nariz no seu, sentindo a mãozinha explorar minha face, brincando.

Era uma criança feliz, quase não chorava.

Percebo que está com sono pois começa a fechar os olhos, mesmo brigando para continuar acordado. Deito-me ao seu lado, ninando-o com uma música que me era cantada quando criança.

"Au clair de la lune

Pierrot se rendort.

Il rêve à la lune,

Son cœur bat très fort;

Car toujours si bonne

Pour l'enfant tout blanc,

La lune lui donner

Son croissant d'argent"

Aos poucos ele para de resistir, começando a ressoar tranquilamente, e meu coração dá um nó cheio de saudade.

Depois de colocar Michael Jr. no berço que havia no canto do quarto, vou para o banho, deixando a porta aberta para caso chorasse.

Sinto o monstro da tristeza vir morar em meu estômago, bem no fundo das minhas entranhas alojado como uma praga, insistindo em habitar um corpo que não tinha mais forças para lutar sozinho. Massageando o couro cabeludo com o shampoo, relembro nosso primeiro beijo, naquela sala escura onde as chamas lambiam a escuridão.

...

Pisco repetidas vezes, coçando os olhos e tentando me acostumar ao escuro, um chorinho agudo ecoa em meus ouvidos.

- Vem com a mamãe. - pego o bebê, que continua sentido, dando o peito para que mamasse, estava com fome.

Vou até a janela e entreabro as cortinas, observando o céu noturno e a cidade abaixo de nós, pouco se ouvia. Deve ser madrugada, um cão magro passa pela viela em busca de comida.

Pouco tempo depois, novamente na cama, mergulho em um sono leve, que logo é findado pelos raios de luz. O tempo em Londres era famoso pela chuva e não seria diferente hoje, havia um sol tímido, mas as gotículas de água batiam na janela, pacientes.

Levanto depois de uma luta interna muito grande e vejo o bebê ainda adormecido, vou até a mala e escolho um vestido preto e sóbrio, um casaco para proteger do frio, descendo até a recepção. 

Sem fome, vou direto para onde estavam os oficiais, que sabem identificar quem sou apenas pela roupa.

- Madame, bom dia. - desejam.

Apenas concordo, com um sorriso fraco.

Vamos para o carro, começando o trajeto para o local da cerimônia.

Era um cemitério amplo, verdejante, cheio de árvores e anjos de pedras, ziguezagueando entre as lápides daqueles que já se foram há muito.

Centenas de pessoas estão ali. Sento-me na cadeira reservada com o nome da família Gray. Alguns minutos depois a cerimônia se inicia, é inevitável se emocionar. Palavras de bravuras são ditas em respeito aos falecidos, de como foram honrados e estão ao lado de Deus pai, a própria rainha em pessoa compareceu, finalizando com versos de conforto.

Os respectivos sobreviventes de cada batalhão são responsáveis por entregar às viúvas, mães e pais, as honrarias.

Depois de alguns minutos de olhos fechados, ouço um pigarrear ao meu lado, e ergo a cabeça para ver quem é, com o coração pulando em resposta.

- FINN

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Grande beijo, xoxo.

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