Capítulo 03

23.7K 1.2K 176
                                    

Joe era a única coisa que eu amava, era o único que me amava também.

Eu nunca tive amigos, eu era o que chamam de anti-social. O meu pensamento naquela época era que o melhor amigo que você pode ter é você mesmo. E assim, eu não me aproximava de ninguém, o pensamento estava certo, mas as pessoas não servem apenas para serem suas amigas, a maior parte delas foi feita para ser usadas por pessoas mais espertas que elas. Infelizmente eu não sabia disso naquela época.

Eu sempre tive fama de durona, cara fechada, mas no fundo eu sempre fui uma garota frágil que só queria um abraço bem forte. Joe sabia disso, tanto que todo dia quando eu ia buscar ele da escola, ele me dava um abraço daqueles que você perde até a respiração, eu amava isso.

Nossa rotina era bem monótona, eu estudava de manhã, Joe também, eu o levava pra escola e buscava, passávamos a tarde juntos. Tinha um parque no nosso bairro onde eu o levava todo dia para brincar, as vezes ele encontrava algum amiguinho, ou eu mesma acabava brincando com ele, eu era grande, mas não me importava, fazendo-o feliz estava bom. Nesse parque tinha uma pequena floresta repleta de árvores, nós tínhamos a nossa árvore, onde subíamos e fazíamos planos para as nossas vidas

-Lice, quando a gente crescer a gente vai ser bem rico e fazer um parque igual a esse na nossa casa! - dizia rindo - E você vai poder fazer bolinhos de limão pra mim toda hora! - ele adorava meus bolinhos de limão.

-Bom, meu desejo é mais simples - até hoje não sei por que eu dizia esse tipo de coisa pra uma criança - quando eu morrer, eu quero ser cremada e que minhas cinzas sejam jogadas aqui, nessa árvore.

Ele nunca dizia nada depois disso. Compreensível.

Nós voltávamos para casa e eu fazia a janta, antes que Caio chegasse. Ele chegava quase sempre bêbado, aí começava o pesadelo, ele brincava com Joe, jantava, eu colocava Joe pra dormir e Caio ia me insultar, e quando ele estava bravo por algum motivo do trabalho, lá de casa ou qualquer outro, ele me batia. Eu pedia pra ele parar, em vão, então só me restava esconder as marcas de Joe.

Essa rotina era infernal, durou muito tempo, eu queria ir embora, Joe já tinha 10 anos, sabia se virar bem, eu já estava concluindo o último ano da escola, nada me impedia, exceto o medo de perder Joe, eu não queria me afastar dele.

Era quinta-feira, véspera de natal, aconteceu algo que para mim foi a última gota. Nós não tínhamos muitos parentes, era apenas eu, Caio, Joe, a irmã de Caio junto seu marido e filha. Os nossos Natais costumavam ser agradáveis, éramos pelo menos por um dia uma família normal, comíamos, bebíamos, e trocávamos presentes. Naquela noite em especial, Joe me deu um presente, era um colar, um amuleto.

-Toma, Lice é pra você - me entregou um pequeno pacote - é um amuleto, te protegerá de todo mal.

Mal sabia ele que todo meu mal estava sentado na nossa poltrona, um colar não ia me proteger dele.

-Obrigada Joe, - eu o abracei - eu amei! - vesti o colar e não tirei mais, tanto que o uso até hoje.

Depois que nossos parentes foram embora, eu coloquei Joe para dormir, não que ele precisasse que alguém o colocasse para dormir, eu apenas gostava de tratá-lo assim, e me parecia que ele também. Fui lavar a louça.

-Alice! - gritou Caio, já alterado - Larga essa louça e venha aqui, agora!

-Você devia ir dormir você já bebeu demais, me deixa arrumar as coisas aqui.

Ele silenciou durante algum tempo, mas eu sentia sua presença lá, ouvi seus passos cada vez mais perto... Senti sua mão áspera entrando na minha blusa indo a caminho de meu sutiã, senti algo afiado em meu pescoço, um canivete para ser mais específica.

-Você ainda não me deu um presente de Natal sabia? - riu sarcasticamente - Eu quero um presentinho, se você gostar de estar viva, é claro.

-Calma, por favor, calma. Pare com isso - supliquei - Joe está lá em cima dormindo.

-Isso mesmo, ele está dormindo, então cala a boca. - Caio sussurrou em meu ouvido, eu conseguia sentir o cheiro de uísque.

Eu não podia gritar, não queria que Joe visse aquela cena, então cooperei. Ele me pôs em cima da mesa, não soltava o canivete. Passou a parte sem corte do canivete em minhas pernas. Tirou minha roupa toda, me deixando nua em cima da mesa. Eu estava com medo, eu chorava muito, apesar de ter 17 anos, eu nunca tinha nem se quer beijado um garoto, eu era virgem, pura. Ele me acariciava, beijava meu corpo, senti muito nojo, quando ele penetrou em mim, doeu muito, ele não teve pena de mim, ele usou muita força, e eu não podia gritar, sofri calada.

-Para de chorar - disse enquanto estava em mim - eu sei que você ta gostando. - riu.

Chorei, eu me enojei, me senti horrível. Foi a pior sensação. Caio foi deitar feliz da vida, como se nada tivesse acontecido.

Eu ainda estava sangrando, dolorida e com diversos hematomas, eu não podia passar mais nenhuma noite naquela casa, Fiz as malas levando algumas economias que Caio havia escondido, peguei algumas roupas e uma manta. 

Fui até o quarto de Joe, deixei uma carta me despedindo. Saí de casa, para não voltar mais. Deixar Joe foi a pior parte.

-Olá mundo. - eu disse.

KillyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora