Capítulo 32

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Joe estava exausto, nem tentei puxar conversa, apenas o deixei cochilar no carro. Eu ainda não tinha certeza do que eu faria depois, aquilo estava arriscado, e eu estava brincando com gente grande, mas nada importava mais do que a integridade de Joe, a única certeza naquele momento era que eu deveria protegê-lo. Assim que cheguei, coloquei Joe no sofá, ele pesava bem mens do que eu esperava. Tomei um banho. Lucas não estava em casa, o que me preocupou bastante. Deixei Joe dormir durante algumas horas, preparei um almoço com o que tinha lá, no caso uma macarronada, assim que ficou pronto, acordei Joe para ele tomar um banho. Dei a ele umas roupas de Lucas para ele tirar aqueles trapos sujos que estava usando.

Sentamos á mesa e comecei a conversa.

-Antes de qualquer coisa quero deixar bem claro que eu estou arriscando o meu pescoço por te deixar vivo. Então eu sugiro que você diga cada virgula do que houve com você desde o dia que eu parti.

Ele me ignorou e continuou comendo como se eu não houvesse dito nada.

-Ei...

Mais uma vez ignorada. Isso já estava me irritando, decidi intimidá-lo.

-Me responde, garoto! –gritei e bati na mesa com força.

Ele estava chorando, e então eu notei que eu deveria pegar leve com ele. Era difícil manter a paciência, eu estava em um ponto no qual tudo me irritava mas, por Joe valia apena o esforço.

-Você se importa?

-É claro que eu me importo, Joe.

-Não, você não se importa. –olhou fixamente em meus olhos, o que apenas aumentou minha sensação de impotência – Se você se importasse você não teria me deixado, teria voltado pra me ver, saber como vão as coisas, eu sei que você não gostava do Caio, mas não existe só ele naquela casa. Ele me disse que você partiu por causa dele, mas eu sou teu irmão, eu te amo e eu senti sua falta todos os dias. Eu chorava por não ter notícias suas, o Caio nunca moveu um dedo para ajudar a te encontrar, ele tentava fazer minha mente contra você, mas isso nunca aconteceu. –parou por alguns instantes para respirar e secar as lágrimas. –Você se lembra daquele bilhete que você deixou pra mim? Eu o lia todas as noites na espera que voltasse me buscar, como você escreveu. Aquela era minha única esperança de felicidade depois que Caio me batia depois de chegar bêbado em casa.

-Ele te batia?

-O que você acha? Você o conhecia, e mesmo sabendo do que ele era capaz você me deixou com ele...

-Ele te amava, ele nunca tinha batido em você antes. –tentei me explicar.

-Sabe, eu lembro de ter te visto uma vez, pela janela do ônibus. É... Eu me lembro como eu voltei ansioso pra casa esperando que você estivesse lá para me buscar. –riu – Adivinha? Você não estava.

-Eu não devia ter ido...

-Você estava vestida como uma puta. É isso que você é agora?

-Eu sou o que eu quiser ser, e você não tem nada a ver com isso. –eu tentei ser carinhosa, mas ele me obrigava a ser grosseira. –Agora me explica como você foi parar naquele lugar.

-Eu fugi! –berrou– Segui teu exemplo, maninha, eu não suportava mais viver na mesma casa que aquele bêbado estúpido. Eu não tinha ninguém, eu estava na rua, eu dormia com mendigos, você sabe como é dormir com caras que cheiram a urina e cachaça? Fiz um amigos a rua que dividiam uma quitinete, e acabei indo morar com eles. Sabe... Eu aprendi muito com eles, coisas como roubar, usar drogas e escapar da polícia.

-Eu sinto muito... –disse com olhos marejados.

-Não, não sente. –Joe me encarava com um olhar gélido e carregado de mágoa –Então, dali eu tive problemas com o pagamento das drogas acabei indo vender, enfim... Eu usei tudo.

-Você é muito jovem pra tudo isso, uma criança como você, com a inocência roubada... Você não merecia isso.

-Olhe.

Joe se levantou e tirou a camisa, me mostrou seu corpo. Haviam diversas cicatrizes, entre elas, queimaduras de cigarro.

-Caio causou a maior parte dessas cicatrizes. Essa não é a vida que a gente sonhava quando conversávamos á tarde debaixo daquela árvore no parque.

-Você queria ser astronauta quando era pequenininho, depois você decidiu que queria ser médico para ajudar as pessoas. –sorri ao lembrar-me de quando nossas vidas eram melhores.

-E olha só onde cheguei, hoje, sou eu quem precisa de ajuda.

Ele começou a chorar mais uma vez, eu não resisti e o abracei. Um abraço era tudo do que precisávamos naquele momento.

-Eu vou te proteger, Caio terá o que merece. Eu juro por tudo que há de mais sagrado, ele vai morrer, eu juro.

-Não jure, apena faça.

-KIlly, quem é esse cara? –berrou Lucas.

-Lucas?

Virei e me deparei com Lucas, ele parecia um pouco mais sobreo do que de manhã, mas ainda não estava exatamente bem.

-Esse é Joe. 

-Ele está usando minhas roupas.

-Você fica melhor sem. Bom, está com fome? Tem macarrão, acabei de fazer.

-Esse é o garoto que você encontrou no casebre?

-Sim, como você sabe?

-Lauren me ligou, e pediu para eu garantir que o garoto estivesse morto.

Joe estava com olhos arregalados, uma expressão assustada, entendo ele, não deve ser nada bom ouvir que alguém quer que você esteja morto.

-Bom... Mas eu não estou morto, e nem pretendo ficar tão cedo. Isso é um problema?

-Já sei o que fazer. -sorri.

KillyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora