Capítulo 31

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Depois de tudo, tomamos banho juntos, tudo que nós dois precisávamos naquele momento. Tantas carícias molhadas resultaram em uma noite bem agitada, apesar do clima não estar tão de acordo, tivemos uma das nossas melhores transas naquela noite. Ele me agarrava com firmeza, eu não senti carinho da parte dele, ele agia selvagemente, e eu gostava disso.

Quando acordei me deparei com a estranha cena de Lucas sentado em seu lado da cama me observando, levantei assustada, aquilo era doentio.

-Cara... Que susto. Por que você está me olhando?

-Sabe... –levantou um copo de uísque – Eu estava pensado sobre você, sobre sua evolução, ou regressão, não consegui definir ainda. –ele falava mole, já estava bêbado.

-Ah, por favor. Eu acabei de acordar, pra com essas baboseiras. –olhei para o celular que estava no criado mudo. –Olha, são 8 da manhã e você já tá bebendo, vou me arrumar e tomar um café, então nós vamos seguir as coordenadas.

-Alice, eu acho que eu te amo menos.

-Você está embriagado, não está falando coisa com coisa.

Enquanto eu me arrumava eu pensava naquele "eu acho que te amo menos", eu realmente não entendi onde ele quis chegar com aquilo, o que será que eu havia feito. Tudo aquilo me fez refletir mais uma vez sobre a minha estrada até aqui, afinal, o que restou de mim? E se sobrou algo, por onde andam meus pedaços? No lugar do que perdi coloquei pedaços alheios em meu coração, o que era um coração puro e solitário se tornou um amontoado de dores e ressentimentos, chegou a um ponto do qual eu não sei se posso mais remover os estilhaços. Talvez eu consiga compreender o que Lucas quis dizer, quando ele me conheceu eu não passava de uma criança assustada e sem direção, talvez fosse isso que o atraísse, minha fragilidade, porque o que me tornei se opõe a isso, me armei com uma coragem imensa e o que era uma garota sensível se tornou uma mulher de coração frio e mente calculista, não que não houvesse mais nenhuma chama na fogueira de meu coração apenas estava rarefeita, escondida pouco visível, quiçá, invisível.

-Lucas, vamos. Já estou p... –isso mesmo, Lucas estava dormindo o mais coerente a ser feito naquele momento era deixa-lo lá e foi o que fiz, apenas um bilhete, caso ele acordasse antes que eu voltasse, o que era bem improvável, visto o estado do cidadão.

Peguei o carro e fui para a estrada com as coordenadas no gps esquisitão de Lucas segui para a estrada, logo saí da cidade estava cada vez mais deserto, assim, eu tinha a nítida impressão que eu estava a alguns quarteirões do fim do mundo.

O rádio estava ligado, tocava "21 Guns" do Green Day, o que me fez mais uma vez pensar em Lucas, eu estava me forçando ao máximo para relevar o que ele disse, mas quando se está bêbado ninguém diz nada que já não queira dizer sobreo, tudo bem, tudo que eu precisava era seguir em frente.

Certo tempo depois de andar e andar por aquela estrada deserta, cheguei ás coordenadas. Lá encontrei um casebre bem simples, aparentava ser apenas um cômodo, não tinha reboco nas paredes, apenas uma porta e uma janela bem gastas. Sem mais, peguei minha arma e segui até a janela, ela estava vedada, logo aproximei minha cabeça pra ver se havia algum barulho, e para minha surpresa havia sim um barulho, como se fosse algo se arrastando, não entendi. Decidi seguir até a porta, na maçaneta havia um bilhete.

"Killy, seu pagamento está aí dentro, deixamos uma surpresa para você, espero que goste.
Ps.:Você deve matar essa surpresa.
Ass: Mamãe"

Achei muito estranho, sem mais delongas decidi abrir a porta, estava trancada. Ótimo, tive que arromba-la. Não sei porque mas Lucas tinha um pé-de-cabra no carro, vou de muita utilidade.

Eu poderia esperar qualquer coisa dali, menos o que vi. Tudo que eu temia estava acontecendo. Havia um garoto amarrado e amordaçado em uma cadeira, ao lado dele haviam dois barris, provavelmente com dinheiro. Mas fodam-se os barris o garoto era Joe.

Sem nem pensar no que estava fazendo, desamarrei-o, ele estava sem forças, a única coisa que conseguir fazer foi segurar o seu rosto com ambas as mãos e olhar profundamente em seus olhos entreabertos, e logo em seguida o abracei como nunca antes, apenas queria sentir seu corpo, era uma mistura de saudade com medo, insegurança e vergonha. Eu não sabia o que fazer ou falar, a última vez que o toquei foi no dia em que eu sai de casa que me despedi com um beijo em sua testa. Aconteceu algo que não acontecia há um bom tempo, em meu rosto lágrimas reprimidas escorreram.

-Lice? –a voz fraca e Joe chamava por mim.

-Calma, eu estou aqui. –ele estava fraco, então ele se apoiou em mim, e eu o levei até o carro. Espera aí, eu já volto.

Não, aquilo não podia estar acontecendo, peguei aquele bilhete, li e reli diversas vezes, "você deve matar essa surpresa". E tinha alguém que eu queria matar naquele momento era aquela vadia, que por imenso azar do destino era minha mãe. Peguei um dos barris pois o outro estava vazio e o guardei no porta-malas, logo em seguida peguei o telefone e liguei para ela.

-Filha? Pegou seu pagamento?

-Sua desgra... – fui interrompida.

-Ei, até parece que você não vai adorar matar esse garoto?

-Acontece que esse é um garoto inocente de 16 anos! –me alteirei.

-Espera aí, esse pivete me roubou! Ele usou, usou, usou não pagou. Ele disse que pagaria vendendo, e adivinha? Ele não pagou.

-Espera, quem é esse garoto? –me fiz de idiota, pois pelo que parecia ela não sabia do meu elo com Joe.

-Um drogadinho que fugiu de casa. Apenas, mate-o. Ele tem que servir de lição para os outros

-Ótimo. –desliguei.

Eu entrei no carro aliviada, olhei para Joe, olhei pra a janela o dia estava bonito.

-Belo dia pra quebrar as regras. –sorri.


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