16 _ Despedida

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Louise

De noite Oliver veio me buscar para jantarmos e acertamos o resto das questões importantes para nosso trato. Ele me ligou pouco antes pedindo para eu usar um vestido azul claro, cor favorita de Emma. Eu tive que revirar meu armário, mas encontrei um tomara que caia justo e bem bonito. Coloquei minha meia arrastão, optei por um salto preto e um sobretudo porque estava ameaçando esfriar. Assim que abri a porta de casa Oliver analisou o meu vestido em silêncio por alguns instantes, depois de me olhar com atenção um sorriso sugeriu que ele aprovava a minha escolha.

— Emma adorava vestidos sem manga também. — Comentou satisfeito. — Você está linda! Vamos?

Assenti e seguimos para o carro dele. Fomos para o restaurante favorito da falecida esposa dele. Era um lugar luxuoso que eu já tinha frequentado poucas vezes com alguns clientes. Ele puxou a cadeira para eu sentar e eu o agradeci. Ele se sentou à minha frente e ficou me observando em silêncio.

— Vamos pedir? — Perguntei e ele piscou parecendo voltar para a realidade.

— Desculpe, faz muitos anos que não tenho um encontro com uma mulher. — Se justificou timidamente. — Não estou sabendo lidar mesmo sendo um falso encontro.

— Não tem problema. A primeira vez é assim mesmo. Qual era o prato favorito de sua mulher?

— Coq au vin. — Respondeu orgulhoso.

— Então vamos pedir? — Sugeri e ele assentiu.

Pouco depois o garçom serviu os pratos e o olhar dele se iluminou com a comida.

— Sabia que essa receita já possui séculos de existência? Ela foi criada para o imperador romano, Julio César, ao conquistar a região da Gália. A receita original era preparada com galos em idade avançada e o vinho era para amaciar a carne. — Contou sorridente. — Era por isso que Emma adorava. Ela gostava não apenas do sabor, mas também da origem do prato.

— Eu não conhecia a história. Sempre gostei pelo fato de ter vinho tinto na receita. — Contei e ele sorriu cúmplice.

— Eu também. Sabe, já viajei o mundo quase todo, mas continuo amando a nossa culinária francesa.

— Deve ser legal viajar por vários países. Eu nunca viajei para lugar nenhum, aliás só saí de Mônaco para ir à Paris com vocês.

— Olha... Eu nunca pensei sobre a possibilidade, porém mais para frente podemos combinar uma viagem para a Grécia. Emma era louca para conhecer lá.

— Eu também. Dizem que é linda! — Falei animada e ele concordou com a cabeça.

— É linda sim. Vamos programar com calma. Podemos montar um roteiro com os lugares que ela queria conhecer. — Propôs e eu assenti.

Terminamos o jantar enquanto conversávamos sobre os planos futuros para o nosso falso namoro, então pedimos Petit Gâteau, a deliciosa sobremesa que combina sorvete e bolo com recheio cremoso. E isso o restaurante fazia com maestria.

— Um brinde à Emma! — Oliver ergueu a taça e eu o acompanhei. — E ao nosso amor que jamais morrerá. — O tilintar das nossas taças batendo suavemente ecoaram pelo ambiente.

***

— Não precisava me trazer aqui. — Insisti e ele saiu do carro e abriu a porta para mim.

— Vai falar com o Jules hoje?

— Sim. — Respondi olhando para a fachada do Club. — Nunca achei que fosse sair daqui. Não estou reclamando, só... Acho que vou sentir saudades.

— Quer que eu te espere?

— Não precisa. Obrigada pela carona!

Oliver assentiu para mim e entrou novamente no carro me abandonando com meus pensamentos. Segui para dentro do Club recordando da minha primeira vez ali, quase morri de vergonha ao tirar a roupa, quase fugi do palco e no final fiquei torcendo para ninguém me solicitar para uma dança privada. E depois de tanto tempo ali se tornou meu segundo lar. Minha fonte de renda e de grandes amigos. Suspirei pesarosa, eu odiava despedidas.

Segui direto até Jules que conversava com o barman sobre algumas caixas no estoque. Demorou alguns segundos até finalmente me ver sorrir me abraçando.

— Posso falar um instante com você? — Pedi e ele franziu as sobrancelhas, já desconfiado do meu tom de voz.

— Claro, vamos para a minha sala. — Chamou e eu assenti. Segui em silêncio no encalço dele e assim que passamos pela porta despejei todo o assunto de uma só vez. — Espera um pouco! Está me dizendo que vai sair assim do nada?

— Não foi do nada, Jules. Eu te expliquei meus motivos.

— Explicou, mas não posso crer. Eu não imaginei que uma dança particular podia se transformar em um namoro tão sério à esse ponto.

— Nem eu. O importante é que você saiba que amo esse lugar. Amo todos vocês. E eu... Não queria perder a minha vaga caso futuramente eu...

— A sua vaga sempre estará aqui para você. Não estou agourando sua relação, só estou te dizendo que sempre será bem-vinda aqui.

— Muito obrigada! — Respondi abraçando ele.

No camarim contei tudo para as meninas, todas ficaram animadas pelo "meu namoro" com Oliver, mas lamentaram a minha saída do Club.

— Vamos continuar nos vendo, não é? — Lea questionou preocupada.

— Sempre. — Respondi terminando de me arrumar de enfermeira.

— Serão muitos corações partidos hoje. — Stephanie brincou emotiva e eu ri. — Abraço coletivo! — Incentivou e todas nos abraçamos.

— Não dou uma semana para esse namoro ter acabado e você voltar para cá. — Mila zombou venenosa e eu revirei os olhos.

— Não seria nenhum castigo voltar para a dançar aqui. — Rebati e ela riu ironicamente.

— Não dá ouvidos para essa cobra! Agora vamos para o palco, vamos para a sua despedida! — Lea chamou vestida de marinheira e eu assenti.

Subimos no palco e dançamos como nunca. Eu estava especialmente inspirada. Rebolando e abrindo o zíper do meu vestido curto e branco, deixando à mostra meu sutiã vermelho. Abaixei com o aparelho de ouvir corações no pescoço, encaixei eles no ouvido e fingi ouvir o coração de um homem na platéia. Muitos outros entraram na onda oferecendo seus corações para que eu pudesse "ouvir". Terminei de tirar tudo e subi na cadeira presente no palco, rebolando devagar. Depois desci e Lea subiu fazendo a parte dela no nosso número.

— Eu vou sentir sua falta, parceira! — Ela comentou no final da apresentação.

— Eu também vou sentir a sua. — Falei sincera. — Mas agora terei dinheiro o suficiente para aquele outro assunto também.

— Finalmente. — Ela vibrou contente e foi chamada por Jules para uma dança particular. Eu fiz duas, depois subi no palco sozinha pela última vez e dancei vestida de policial.

No final da noite Jules ofereceu um brinde à minha nova vida. O frio na barriga de estar oficialmente deixando o meu emprego me atingiu em cheio. As coisas com Oliver precisavam dar certo. Eu necessitava do dinheiro que ele me oferecia mais que tudo. E para isso eu teria que apoiá-lo no amor com Emma.

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