1 _ Olhos cor de uísque

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Oliver

— Oh, pelo amor de Deus, desligue esse despertador, querido! — Emma murmurou se recusando a abrir os olhos, me fazendo sorrir.

Sempre foi preguiçosa para acordar de manhã, entretanto desde o nascimento do nosso filho, estava mais obstinada a ficar na cama que o comum. Eu a entendia perfeitamente, afinal Jean chorava a noite toda. Nos disseram que depois de um tempo ele acostumaria, mas havia passado sete meses desde o seu parto e ele ainda estranhava à noite.

Desliguei o som estridente no pequeno despertador bronze e ela abriu apenas um olho para me encarar. Quando notou que eu havia percebido tentou fechar o olho novamente, segurando a risada. Deitei sobre ela na cama e acabamos rindo juntos.

— Eu não quero sair dessa cama hoje. — Reclamou e eu beijei os cabelos dela. — Diga ao meu empresário que estou de resguardo.

— Monamour, seu resguardo acabou há seis meses. — Respondi e ela fez uma careta fofa em desacordo e se aproximou do meu ouvido.

— Mas ele não precisa saber disso. — Sussurrou rindo travessa.

Eu adorava o som da sua risada, era como se fosse uma música composta à parte. Aliás, eu adorava ela por inteiro. A pele negra perfumada e delicada. O olhos cor de uísque sempre atentos. Os cabelos escuros e encaracolados que emolduravam a razão por eu ter largado a minha vida de cafajeste. A fama e o dinheiro me proporcionaram contato com lindas mulheres, mas foi em um concerto em Paris que eu conheci a mulher da minha vida.

O despertador tocou novamente e Emma tapou os ouvidos e cantou um "lalala" fingindo não escutar. Dei um selinho nela e levantei desligando ele de vez e arrastando a bandeja sobre a cama.

— Comprei croassaint com creme de amêndoas e laranja. O seu preferido. Tem certeza que não vai levantar? — Provoquei e ela mordeu o lábio inferior olhando para a bandeja repleta com as suas coisas favoritas. Então me olhou brava.

— Assim não é justo! — Reclamou sentando e deixando o lençol deslizar até a cintura, revelando seus seios nus. — A gente tenta hibernar, mas o marido não deixa. — Protestou pescando um croassaint na tigela e me olhou novamente antes de levar à boca. — Não fique encarando meus seios, seu tarado. — Zombou rindo e eu me aproximei dela.

— Não estou encarando. Eles só acordaram tão lindos essa manhã que seria um pecado não desejar bom dia para eles. — Respondi e ela riu mais ainda.

Apalpei suavemente seus seios e ela suspirou largando o croassaint de lado.

— Sabe, talvez se eu atrasar mais uns minutinhos, Pierre nem perceba. — Comentou tocando minha barba por fazer.

A puxei bruscamente para sentar no meu colo e ela riu abraçando meu pescoço, fazendo os seios praticamente saltitarem diantes dos meus olhos.

Puxei seu rosto para próximo do meu e a beijei ardentemente sentindo o sabor da laranja na sua língua. Seus seios roçaram quentes na minha pele também nua e eu aprofundei o beijo ouvindo ela suspirar. Larguei os lábios dela e desci distribuindo beijos até o centro de seus seios. Foi quando ouvimos um barulho que me fez parar.

— Jean acordou. — Emma constatou observando a babá eletrônica sobre a cômoda.

— Esse rapazinho sempre chora na melhor hora. Acho que está tentando evitar um irmãozinho. — Brinquei e ela sorriu descendo do meu colo e voltando à bandeja, onde despejou o suco de morango em um copo.

— Nem brinca com uma coisa dessa. Se eu der mais uma pausa na carreira por agora, Pierre come meu fígado.

— Isso é verdade. Vou buscar o pequeno candidado à tenor de ópera.

Vesti uma calça e segui até o quarto onde Jean berrava no berço. Assim que me viu o sem vergonha parou de chorar e sorriu.

— Precisamos ter uma conversa de homem para homem. Mamãe e papai precisam de mais um tempinho à sós, sabe? — Contei tirando a calça dele. Peguei uma fralda na gaveta e rapidamente troquei passando uma pomada antes de colocar a outra. — E o senhor costuma acordar sempre nesse momento. Tem algo a dizer em sua defesa?

O ergui e ele gargalhou gostosamente. Abracei e beijei a cabeça dele, depois segui para o meu quarto.

— O meliante acha graça do próprio crime. — Contei e Emma sorriu largando o suco na bandeja e estendendo os braços para pegá-lo.

— Que bebê mais feliz! — Ela comentou afinando a voz para falar  com ele, algo que o fazia ficar ainda mais agitado.

— E que anticoncepcional mais eficaz. — Zombei me servindo com suco. Ela me lançou um olhar malicioso e eu pisquei para ela.

— Esqueci de te contar uma novidade. — Disse enquanto amamentava nosso filho. — Pierre me contou que um diretor de filme fez a proposta para eu compor a música tema.

— Que máximo! Filme de quê?

— Um clichê romântico, sobre um cara amargurado e desacreditado no amor, ele conhece uma mulher interessante que provavelmente o fará mudar de opinião. Do jeito que você adora. — Zombou e eu revirei os olhos. Eu odiava clichês.

— Depois disso vamos voltar para Mônaco, não é? Eu não aguento mais ficar nesse país, não reclamando dos Estados Unidos, mas a França é muito mais segura.

— Provavelmente. Vamos só acertar o lançamento do meu próximo álbum e estarei liberada.

— Finalmente! — Levantei as mãos teatralmente. Jean me olhou pelo canto do olho enquanto mamava. — Vamos voltar para casa, meu pequeno! A melhor parte é que está próximo da corrida de fórmula 1 em Mônaco.

— E é claro que você vai ganhar novamente e subir pela sexta vez no pódio. — Disse confiante.

Levantei e beijei carinhosamente os lábios dela. Eu nunca imaginei que a vida de casado fosse ser tão boa assim.

Assim que Jean estava devidamente alimentado, peguei ele no colo. Emma terminou de tomar o café e depois seguiu para um banho rápido. Sentei na frente da TV assistindo um desenho estranho de uma estrela do mar e uma esponja amarela.

— Como eles fizeram uma fogueira debaixo da água? — Questionei e Jean me olhou confuso. Acho que ele também ficou chocado com a falta de lógica.

Emma se aproximou de nós e beijou a testa do nosso filho. Depois me deu um delicioso beijo nos lábios.

— Você está linda! — Murmurei e ela agradeceu sorridente. — Dirige com cuidado! — Pedi ao vê-la pegar a chave do carro alugado.

— Falou o homem que dirige à trezentos quilômetros por hora.

— Em uma pista de corrida! — Me defendi e ela sorriu lançando um beijo no ar para mim.

— Não se preocupe. Volto logo. — Prometeu saindo pela porta.

Jean observou a mãe partir e depois voltou o olhar para a TV onde um molusco tocava clarinete.

Aquela foi a última vez que vimos Emma com vida.

Quanto Cu$ta O Amor Where stories live. Discover now