Louise
— Então ele te xingou por ter acolhido e cuidado da avó dele? — Lea perguntou inconformada, terminando de colocar o vestido azul.
— Ele ficou bravo só por se tratar de um asilo, acho que pensou que eu iria oferecer uma vaga para ela. Não deixou nem eu explicar melhor a situação. Acabei me excedendo também. Era um ogro, sabe? Eu só queria o bem dela, não era minha intenção preocupar ninguém. Mas ele surtou e me expulsou de lá quando eu disse que ele estava negligenciando a saúde dela. — Suspirei irritada e ela colocou as meias longas e me olhou.
— Tem gente que não cuida dos idosos e não deixa quem pode cuidar. O que é muito triste.
— Realmente! Porém não quero pensar mais naquele grosso. — Amarrei minha capa no pescoço e a observei pronta. — Você está perfeita de Alice no país das maravilhas! — Elogiei e ela sorriu rebolando na frente do espelho.
— E você de chapeuzinho vermelho! Algo me diz que vamos ter muito euro jogado no palco hoje.
— Tomara! Estou mesmo precisando. — Respondi e ela me olhou preocupada. Era a única que sabia da minha segunda preocupação, além do asilo. Suspirei e olhei uma última vez no espelho.
— Meninas, está na hora. — Jules anunciou entrando no camarim e nos olhou satisfeito. — Vocês são minha dupla perfeita!
— Ainda bem que Mila não está aqui agora agora, senão era bem capaz dela ter um AVC te ouvindo dizer isso. — Lea debochou e nós rimos.
— Vamos logo! — Apressei e Lea me seguiu até a escada.
Subimos no palco e começamos a caminhar lado a lado. As pessoas começaram a gritar animadas. Era impressionante como gostavam de erotizar histórias infantis. Impressionante e bizarro.
Trocamos de lugar e rebolamos sincronizadas até o chão, depois nos erguemos e giramos tomando mais distância entre nós. Cada uma foi para uma ponta do palco. Eu tirei primeiro a capa e Lea tirou as meias. Rodamos as peças sobre a cabeça e descartamos no chão. Nos aproximamos do público, ela acariciou as coxas e eu o meu enorme decote. Ajoelhamos ao mesmo tempo e abaixamos ao mesmo tempo as alças dos nossos vestidos, expondo nossos sutiãs.
Todos foram ao loucura e eu sorri quando um rapaz colocou uma nota de euro enrolada em meu decote. Levantei novamente e fiquei de costas. Ergui um pouco a barra do vestido e rebolei mais um pouco. Quando me virei novamente, eu não podia acredita no que estava vendo. O grosseirão estava bem ali na minha frente, parado no meio do público, me olhando sério.
Fechei a cara furiosa e fiz sinal para Lea trocar de lugar comigo. Ela me olhou confusa, mas trocou rapidamente. O que foi bom, pois assim não precisei mais ver o ogro. Eu e Lea viramos de costas para o público e nos livramos dos vestidos. Nos juntamos novamente no centro do palco e dançamos juntas, vendo mais notas caírem sobre o palco.
Concluímos a dança e seguimos para atrás do palco. — O que foi aquilo? — Lea questionou e antes que eu tivesse tempo de responder, Jules me chamou ao longe.
— Depois te explico. — Respondi e Jules apontou para Lea também.
Seguimos juntas até ele. Eu entrei em uma cabine e ela na outra. Segui para o lugar reservado para mim e quando fui ligar o som olhei para o homem sentado no banco. Era o grosseirão!
— O que você quer? Se for me xingar novamente eu vou chamar os seguranças! — Ameacei e ele levantou da cadeira. Dei um passo para trás, assustada planejando gritar e ele ergueu as mãos em sinal de rendição e sentou novamente.
— Eu só quero pedir desculpas. Eu agi muito errado explodindo com você. Sei que só queria ajudar, mas minha família é tudo que tenho de mais importante na vida, acabei perdendo a cabeça.
— Que bom que pensa assim sobre a sua família. Então cuide de dona Etienne! — Falei e ele abaixou a cabeça.
— Estou cuidando. Estou apavorado com essa confusão que ela está tendo. Tenho medo de... — Me olhou preocupado. — Ser algo muito grave.
— Já levou ela ao médico? — Ele negou com a cabeça. — E está esperando o quê? Se a ama, precisa levá-la. — Me ouviu em silêncio e não disse mais nada por um longo tempo. — Ela precisa de você.
— Eu sei. Olha, desculpa perguntar, mas como trabalha aqui e...
— Cuido de um asilo? Eu trabalho aqui exatamente para bancar lá. — Respondi e ele piscou surpreso. Depois assentiu.
— Sei que não posso te tocar. — Falou me assustando novamente. — Calma, pode apenas pegar na minha mão para nos apresentarmos direito? — Ponderei por um instante e concordei. — Me chamo Oliver Bresson!
— Louise Fontainelles! — Respondi pegando na enorme mão dele.
Na verdade ele era todo enorme. Devia ter mais de um e oitenta de altura e os músculos tornavam sua figura um pouco ameaçadora. Por isso eu tinha medo, se ele tentasse qualquer coisa contra mim, adeus Louise. Ao mesmo tempo os longos cabelos castanhos claros e a barba fazia dele um homem atraente. Porém seus olhos verdes, por mais belos que fossem, pareciam muito tristes.
— Minha avó adorou você.
— Também adorei ela, é uma senhora muito divertida. — Relembrei e ele deu um sorriso incrivelmente lindo. OK, isso amenizou um pouco o receio que a presença dele me causava.
— Agora preciso ir.
— Seu tempo... — Limpei a garganta. — Ainda não acabou.
— Eu sei, mas preciso acordar cedo amanhã, pois tem corrida...
— Que corrida?
— De Fórmula 1. — Respondeu e eu o olhei incrédula.
— Não me diga que você é daquelas pessoas que acordam praticamente de madrugada para assistir? — Perguntei e ele riu como se eu tivesse contado uma ótima piada. — O que foi?
— Você não gosta?
— Não, mas minha amiga gosta. Ela tem até um piloto preferido. Ou tinha. Isso não vem ao caso. — Respondi e ele manteve o sorriso enigmático no rosto. Continuei sem entender o motivo da graça.
Ele então se despediu de mim e eu notei uma aliança dourada reluzir na mão dele. Saiu na frente e eu saí ainda de lingerie. Jules olhou de Oliver para mim e franziu a testa.
— Está tudo bem? — Perguntou para nós dois e concordamos.
Vi o homem seguir até um outro homem lindo que estava na casa dele quando fui levar dona Etienne. Observei os dois partirem e vesti meu roupão, voltei para o camarim para vestir outra fantasia para subir no palco novamente.
YOU ARE READING
Quanto Cu$ta O Amor
RomanceEm uma era onde absolutamente tudo tem preço, pagar para ter apenas algumas horas com uma pessoa não é nada de outro mundo. E isso é reconfortante para o milionário francês Oliver Bresson, piloto de fórmula 1, que pretende apenas reviver momentos es...