— Sinto em dizer, Minki, mas a minha hora chegou e devo partir ainda hoje. Sempre bom falar com você, amigo. — Eles se despedem com um aperto de mão e eu faço uma breve reverência em respeito.

Papai estava certo. O sol já não era mais visto, apenas seus raios que deixavam o céu com uma coloração magnífica e dava a chance dos primeiros corpos celestes serem vistos. Vênus captura a minha atenção e já não escuto o que meu pai me diz, apenas pego o braço que ele me oferece e entro em uma viagem para uma de minhas paixões, olhando para o céu ficando escuro e revelando os pontos brilhantes que tanto amava observar e categorizar.

Mal prestei atenção no caminho até em casa, a voz do meu pai cantarola uma música conhecida e me entrego ao devaneio e segurança que sentia quando o tinha ao meu lado, apesar de tudo, sei que ele faria qualquer coisa para me ver feliz. Estava louca para chegar em casa e desfrutar do belíssimo livro que ele me trouxe quando chegou no começo da semana.

Papai para de súbito e me faz repetir seu movimento, procuro por respostas em seu rosto, mas tudo o que encontro é um olhar assustado. Não demorei a entender o que estava acontecendo ao ver oficiais da marinha rendendo alguns dos criados e os colocando para dentro. Mas a pergunta que não saia da minha cabeça era: Por quê?

Faço menção em ir adiante, mas meu braço é puxado e apenas sigo meu pai em direção ao jardim.

— Temos que entrar lá. — Nos abaixamos atrás de um dos arbustos, meu pai apenas respira fundo e nega com a cabeça. — Mamãe está lá dentro. Temos que explicar que está havendo algum mal entendido, não infringimos nenhuma lei.

— Não pode fazer isso. — Sua voz soa calma o que só me frustra. Nunca o vi dessa maneira, com medo, apavorado eu diria, seus olhos encontram os meus e tenho a certeza de que há muito o que não sei. — Soo Yun... Preciso te contar algo, algo que não me orgulho de fazer, mas faço por livre e espontânea vontade. Há anos eu mantenho um acordo com uma frota clandestina, dessa forma eu mantenho tudo isso, todo o nosso patrimônio. Eles me entregam a mercadoria roubada do exterior e eu dou os recursos que eles precisam e as vezes os acompanho, estamos fugindo da marinha a alguns meses, mas temo que dessa vez eles tenham provas para me incriminar... Se você for lá, será morta por ser cúmplice. Sinto muito Soo Yun, eu não devia... Mas eu queria dar uma boa vida para vocês, eu queria mais e essa me pareceu a única opção quando as coisas começaram a dar errado nos meus negócios.

— Todo esse tempo, essas viagens... Você tem ido para tratar com piratas? — Ele assente e já não consegue sustentar o olhar no meu, nunca imaginei que o veria chorar, mas não consigo nem ao menos digerir essa informação. Quero gritar, me exaltar, mas tudo o que sou capaz de fazer é sentir minhas pernas fraquejarem. — Como...

Não consegui concluir, sou interrompida por vozes no jardim e passos pesados próximos de onde estamos. Os marinheiros atiram os corpos de dois dos nossos criados no chão, ambos inertes, sem vida. Jinho e Myung não mereciam isso, me recuso a acreditar e minha respiração falha.

Logo os outros três saem da casa arrastando a figura cansada de minha mãe. Coloco as mãos sobre a boca para evitar fazer barulho e meu pai fica tenso ao meu lado.

— Diga! Pare de protegê-lo e diga onde ele está! — O comandante esbraveja, fazendo minha mãe se encolher, mas ela se mantém firme e o encara de volta sem um pingo sequer de hesitação.

— Já lhe disse. Não sei e não faço ideia do que está dizendo, meu senhor. — As palavras saem firmes, calmas, quase irônicas em um tom que eu conhecia bem vindo de Moon Jiyeon.

O homem grisalho usando a farda branca e bem arrumada a encara sério, sem paciência. Seus homens, que seguram os braços de minha mãe, trocam um olhar rápido e assustado. Isso foi o suficiente para um arrepio passar pela minha espinha e o medo se instalar em todo o meu corpo. Quero correr até ela, gritar, tirá-la dali, mas o quê eu poderia fazer? analisando a situação não me restam alternativas, a não ser esperar e rezar pelo melhor.

Tudo aconteceu muito rápido. Bastou um comando para o marinheiro que segura Moon Jiyeon, retirar a adaga da bainha. No minuto seguinte eu só conseguia tremer, vendo a lâmina brilhante romper a garganta de minha mãe.

Nunca me assustei ao ver sangue, nunca fora algo tão apavorante quanto naquele momento. O sangue de minha mãe se espalhando pelo gramado do jardim me petrificou de tal forma que não conseguia ouvir a voz baixa de meu pai, apenas sinto sua mão sobre minha boca e seu braço a minha volta me confortando, tudo foi resumido em um zumbido quase ensurdecedor. Suas lágrimas molham a manga de meu vestido, no entanto é irrelevante quando mal consigo controlar as minhas próprias.

Por favor... que isso seja um pesadelo.

Não consegui raciocinar, não com aquela imagem em minha mente. Quando notei, meu pai me guiava por um caminho conhecido e a muito esquecido que agora está invadido pelo mato. Há anos não pisava naquela praia, escondida a bons metros da propriedade da nossa família, contudo, tudo o que consigo ver é a cena de minutos atrás se repetindo de novo e de novo.

O zumbido diminui assim que volto a mim, não consigo focar em meu pai, apenas percebo que ele conversa com alguém, um homem, trajando roupas escuras e um chapéu que só me permitia ver sua boca.

— Estamos com problemas, preciso que me ajude. Fale com o seu... Capitão Lee? — Ele se embola nas palavras e concluo que que o homem a nossa frente é alguém importante. — Minha esposa ela... Preciso de um último favor.

— E o que eu ganharei com esse favor, senhor Moon? — Sua voz soa baixa, porém melódica. Preferi ficar quieta por não saber com quem estaria lidando.

— Não tenho nada para te oferecer, posso apenas garantir que nosso acordo continuará seguro e sua localização também. Peço esse favor em nome de todo o tempo que mantenho sociedade com vocês, inclusive com o seu antecessor . — De onde estamos conseguimos ver a movimentação mínima vindo do casarão o que só o assusta e faz com que puxe o jovem homem pela gola do sobretudo que usa. — Honre a confiança que eu tinha nele e em nossa amizade... Proteja a minha filha e a leve em segurança até o irmão no norte do país, é só isso que te peço.

— O quê!? — Os dois me encaram, percebendo a minha presença ali, mas logo voltam a ignorá-la.

— A última ameaça que recebi é que a matariam assim que tivessem a chance, não posso perdê-la também. Se me pegarem serei julgado e condenado, mas se tiverem ela... A usarão como meio para conseguir respostas. Me prometa que cuidará dela.

— Honrarei o nosso acordo, ela chegará em segurança no norte. Eu prometo. — Meu pai suspira aliviado e o solta. — Contudo, não posso levá-lo comigo, o bote só suporta duas pessoas.

— Eu sei. Já esperava por isso. — Papai se vira para mim, um sorriso triste toma o seu rosto e uma lágrima cai pela sua bochecha.

— Está enganado se pensa que vou deixá-lo aqui. — Ele nega e pega as minhas mãos as cobrindo com as suas e colocando um pedaço de papel dentro de minha mão direita, logo ele me abraça em uma despedida que quase me deixa sem ar. — Não vou deixá-lo para trás.

Repito as palavras e me aperto a ele, mesmo estando com raiva por estar passando por essa situação. Ele não merece isso, não merece ver nossa família ruir dessa maneira. Consigo ouvir passos vindo das árvores e arbustos atrás de nós. Não temos tempo, logo nos acharão.

— Eu te amo, minha Soo Yun... — ele limpa uma lágrima que teima em cair e logo se vira para o jovem pirata. — Leve-a.

Foi a última coisa que ouvi de meu pai antes do homem, conhecido como Capitão Lee, se posicionar ao meu lado. Nego para ele, dizendo que eu não irei, mas ele não me ouve e apenas me joga sobre seu ombro como se eu não pesasse nada. Tento me soltar, dizer que vou ficar ao lado de meu pai, mas é em vão quando seu aperto a minha volta é tão firme. Posso apenas ver a figura de meu pai ficar para trás enquanto os oficiais o rendem, mal ligando para nós dois no outro extremo da praia. Meu pai sorri fraco e olha em minha direção antes de ser acertado na cabeça e desmaiar.

Por favor... Me diga que isso é um pesadelo.

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Black Pearl » » Lee SeokminWhere stories live. Discover now