Fim - Do Seu Lado.

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E lá estava eu. Dia 31 de Julho, num sábado chuvoso em Cambridge.

Meu aniversário.

Me espreguicei em minha confortável cama de molas ensacadas individualmente- quando um se mexe o outro não se mexe segundo ao vendedor, que até plantou bananeira pra que eu a comprasse. O barulho da chuva que caia do lado de fora do apartamento funcionava como um encanto para que a preguiça permanecesse eternamente em meu corpo.

Faziam três dias que eu havia me instalado ali. Era um apartamento pequeno e aconchegante perto da Universidade de Cambridge, onde eu havia ganhado bolsa integral para o curso de Direito.

Meu pai que estava bancando todas as minhas despesas. Depois de ter ganhado a bolsa acho que ele até me pagaria uma viagem para um spa na Lua.

Já estava irritada com o numero de vezes que ele ligara só para me chamar de ‘Meu orgulho’.

No fundo eu não estava fazendo direito para seguir seus passos, eu só estava fazendo direito porque eu gostava, era uma das poucas coisas na minha vida extremamente pacata que me deixava feliz.

Me sentei zonza e procurei por alguma pantufa ao pé da cama, mas elas nunca estavam lá.Fiquei descalça mesmo.

O meu quarto tinha uma cama de casal encostada na parede onde ficava a porta que ia para o corredor, na parede oposta tinha uma janela e uma escrivaninha onde estava meu notebook. A parede do lado esquerdo também tinha a cama encostada, e do lado direito havia um armário. Pequenos, simples, mas estava ajeitado.

O banheiro ficava no final do corredor, perto do outro quarto.

Esqueci de mencionar que eu dividiria o apartamento com alguma pessoa que habitava a face da terra. Segundo o meu pai, era alguém de confiança, mas eu realmente não me importava, desde que a pessoa não me importunasse.

Me arrastei para o banheiro, escovei os dentes e fiquei alguns segundos parada em frente ao espelho.

18 anos Julia. Finalmente a maioridade.

Meu cabelo estava bagunçado, o prendi num coque frouxo e lavei meu rosto.

Eu usava meu pijama de flanela favorito desde meus 15 anos. Ele era composto por um shorts rosa e uma camisa com a estampa de uma vaca espacial. Estava meio pequeno para mim, mas foda-se, eu usaria ele até rasgar.

Me arrastei de novo, dessa vez para o inicio do corredor, onde ficava uma pequena sala e a cozinha divididas por um balcão americano.

Apertei o botãozinho do telefone para ouvir as mensagens de voz.

A primeira mensagem de voz era a minha mãe me desejando um feliz aniversário.

A segunda era meu pai, ele falava a mesma coisa.

Suspirei e fui checar a correspondência.

Contas de água, luz, telefone... Eu havia acabado de me mudar, não havia nem ligado a televisão direito e já havia contas a pagar.

Peguei um envelope que me chamou a atenção, ele não tinha identificação, ou remetente, era apenas um envelope de papel pardo. Dentro havia um DVD.

Franzi o cenho ao perceber que a TV da sala não tinha um DVD. Tomada pela curiosidade, corri para o meu quarto e coloquei o DVD no meu notebook sentando na cadeira para assisti-lo.

A tela do meu notebook ficou completamente preta. Fiquei esperando o filme começar, mas não aparecia nada.

Já estava prestes a desligar, quando finalmente uma voz apareceu. A minha voz.

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