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Eu não estava vivo, mas também não estava morto. Eu sei que eu estava deitado, mas não conseguia abrir os olhos e nem falar muito menos me mover, por mais que cada parte do meu corpo insistisse. Mas eu conseguia escutar os médicos conversando uns com os outros, lutando para salvar a minha vida. Mas eu não queria ser salvo. Não tinha como eu dizer isso para eles.

- Adolescente em coma, aqui! - grita a enfermeira. Sei que estou sendo empurrado pelos corredores do hospital por uma equipe de enfermeiras e médicos. Provavelmente em uma maca do Hospital Central do Texas. - Chamem a Dra. Kim.

A tal da Dra. Kim não demora para chegar, posso escutar a sua voz. Doce e calma.

- Drogas? - ela pergunta para alguém que está ao meu lado.

- Não. Ele caiu do telhado da casa. - diz a mesma enfermeira de minutos antes.

- Então é suicídio. - a doutora afirma. Ela acende uma pequena lanterna nos meus olhos, sinto o clarão. Mas é como se eu não estivesse no meu corpo. - Não está reagindo. Tem alguém da família?

- Apenas a empregada, dois amigos e a irmã.

Se a doutora soubesse quem eu era, ela iria ficar surpresa.
Sinto que chegamos na sala de cirurgia, pois as luzes fluorescentes são diferentes das luzes do corredor por onde passei. Algumas mãos me levantam para cima, e a voz de um homem, conta de um até três antes de me colocarem em cima da mesa cirúrgica.

Não sinto dor, não sinto nada. Apenas escuto tudo o quê falam.
Eu sei quem é a Dra. Kim. Eu conheço ela, e ela me conhece. Mas talvez, ela ainda nem saiba que sou eu por causa do tubo enfiado na minha garganta e o balão de oxigênio que venho trazendo desde quando a ambulância me pegou no jardim da casa da, Hannah.
Só quando eles começam a cortar a minha camisa com a tesoura, é que a doutora vê quem eu sou. Pela mancha marrom de nascença que tenho no lado esquerdo da barriga, ela sabe que sou eu.

- David?! - diz assustada.

- Conhece ele? - um dos enfermeiros pergunta. Escuto passos apresados de um lado para o outro, dentro da sala. Eles estavam preparando tudo para a cirurgia.

- Conheço. Chamem o Dr. Jorbs!

Não demora muito para o Dr. Jorbs chegar na sala.

- O quê aconteceu, Kim? - ele pergunta.

- Não posso operar esse garoto, poderia cuidar dele para mim? - ela afirma. Pelo o silêncio na sala, posso perceber que as pessoas estranham aquela reação. Talvez porque não era típico da Dra.Kim fazer isso.

- E tem algum motivo em especial? - o doutor pergunta.

- É, David Van Sel. É o meu sobrinho. Ele é filho da minha irmã.


Acordo com os barulhos de "bipes" dos aparelhos que estão ligados em mim. Abro os olhos com dificuldades, como se eu estivesse despertando de um sonho profundo. Bem diferente de quando eu ficava bebaço e acordava em um motel desconhecido. Meu corpo todo estava dormente, meus braços doíam. Minhas veias arranhavam-se como lixa, e isso deve ser devido aos medicamentos que tomei na veia. Olho para baixo, e percebo que o meu braço ainda está recebendo eles, o direito está engessado e o meu pé também. Estendido para o alto, com equipamentos o segurando. Um líquido amarelo passa pela agulha, e penetra na minha pele. Sinto o ardor. O remédio é forte. Mas é como se eu estivesse me acostumado.

O quarto é todo branco, e incrivelmente claro mesmo com a janela de vidro fechada. Apenas a cortina estava aberta, e sei que horas antes estava chovendo porque ainda restam gotas da chuva escorrendo pela janela. A Tv, no alto da parede, estava ligada em um canal de igreja evangélica, mas não dá para se ouvir o que o pastor está dizendo, o volume está baixo demais. Sei que isso é coisa da minha tia.
Não tem ninguém aqui, até a porta se abrir.

Perfeitos Mentirosos [ÚLTIMOS CAPÍTULOS]Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang