There's no music on, but we dance along

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Louis

Entrei no carro e não tive flash nenhum como achei que teria, nenhuma memória, nada de familiar, nada. É muito difícil você não se lembrar de coisas que passou, fez, falou e pensou, é uma tortura.

Eu estava com meus fones ouvindo Something In The Way do Nirvana pensando em como minha vida havia mudado de repente. Tive que mudar de casa, de escola e de vida e de nenhuma forma foi ruim como no inicio eu pensei que seria, muito pelo contrário, obtive amigos maravilhosos, me afastei de pessoas que me afetavam e me aproximei de pessoas que me fazem bem. O Harry principalmente, parece que temos uma conexão tão fora do comum que eu me pego pensando se ele é aquela pessoa certa que tanto falam em filmes e livros românticos. Quando me dei conta estava tocando Drive in Drive Out do Dave Matthews Band. Minha cabeça está uma bagunça, eu não consigo colocar meus pensamentos em ordem, mas quando estou com eles é diferente.

Por que meu pai mentiria para mim sobre a minha mãe? Por que não me contou a verdade de uma vez assim que acordei? Por que tanto mistério, tantos segredos? Por que? Isso só piora minha situação, eu fico querendo resgatar alguma dica, algum sinal do que for para tentar resolver essa confusão. Me assustei quando ele tocou meu braço, tirei os fones e olhei para ele confuso.

— Estou te chamando há um tempão. Está tudo bem? – perguntou olhando para a frente, mas preocupado.

— Está, eu só estava distraído ouvindo musica. – falei e ele assentiu.

— Como vão as coisas? A escola, a memória... – guardei os fones no bolso e cruzei as mãos sobre o colo.

— Estou conseguindo acompanhar todas as matérias na escola com a ajuda dos meus amigos. Sobre a minha memória, me lembrei de onde morávamos, com quem estudei antes de mudar e do dia que eu me mudei, só isso. Lembrei das bandas que eu gosto, das coisas que passei na casa do Harry e tudo, mas muita coisa ainda não consegui me lembrar. – falei e ele assentiu novamente.

— Tudo vai voltar, você vai ver. – olhei para ele meio desconfiado.

Como que ele pode me falar uma coisa dessas sendo que está mentindo para mim? Óbvio que me lembrei também da vez em que eu estava na casinha da árvore com o Harry e contei a triste história da minha vida, de como minha mãe tinha ido embora, e não que ela tinha morrido como ele me disse no hospital, mas decidi não falar sobre isso. Minha vontade era de realmente perguntar o porquê disso tudo, fazê-lo falar sobre isso nem que eu tivesse que sufocar ele com o cinto de segurança, mas eu não posso ser tão direto, ele nunca vai me contar a verdade. Se não ele já teria falado, não é? Eu tenho que descobrir por mim mesmo se eu quiser realmente saber. Eu sinto que pode doer, mas é melhor do que passar a vida sendo enganado pensando em uma coisa, sendo que é outra.

[...]

Chegamos na frente de uma casa grande, não muito diferente da casa do Harry. O portão é cinza, na garagem estava estacionado um carro menor do qual eu estava agora pouco, deveria ser da esposa dele. Olhei para a janela que havia ali em frente, uma mulher com os cabelos loiros que iam até os ombros dela estava lá dentro, parecia ocupada. Desviei o olhar e peguei a minha mochila no banco de trás do carro. Entrei junto com o meu pai e fui em silencio até a porta, ele abriu a mesma, deu um passo para o lado para que eu entrasse primeiro, ao entrar me deparei com a cozinha, era uma cozinha relativamente grande. Havia uma geladeira de inox encostada em um dos cantos, colada com a pia e o fogão branco e preto. Armários nas partes superiores da parede, brancos e pretos também. O cheiro de bolo de laranja invadiu meu nariz e eu sorri de canto. Logo, a mulher que eu havia visto apareceu novamente, ela era um pouco maior que eu, o rosto fino e delicado, olhos castanhos claros, o cabelo era de um loiro escuro muito bem cuidado na altura dos ombros e um corte reto. Ela sorriu e eu sorri em resposta.

Coincidences - L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora