CAPÍTULO 39 NÃO HAVERÁ MONUMENTOS DEDICADOS A ELA

44 4 3
                                    


"Aqui está minha herança - este mar solitário, que de um lado era amor e, do outro, esquecimento."

Cecília Meireles



Victória saiu do hospital com a cabeça a mil depois da confissão de Beatriz. Saber que seu filho 31 anos depois estava vivo lhe causava um misto de sentimentos. Revolta, alegria, medo, surpresa, dor e felicidade.

Ainda conseguia lembrar com precisão todas as dores do parto. O medo de não conseguir ser uma boa mãe. A emoção de segurar seu filhinho nos braços, amamenta-lo, cuidá-lo e proteger. Seguida da certeza de sua morte. Aquele ser tão frágil e tão pequeno que ela não teve a alegria de segurá-lo.

Quantas noites chorara em seu quarto longe de tudo e todos por ter perdido aquela criança? Quantas vezes acordara no meio da noite ouvindo choro de uma criança sem ela poder fazer nada? Tinha sido mais de três décadas de dor e sofrimento. De choro silenciado para que os demais não notasse a sua tristeza.

Mas agora tudo era diferente. Não tinha porque rememorar o passado amargo e triste. O presente era maravilhoso. Estava na hora dela também desenterrar o seu passado. Por isso naquela noite na sala de sua casa ela reuniu as pessoas que faziam parte e conta-lhes toda a verdade.

Diferente de Beatriz ela não mentiu por maldade. A verdade que escondeu aqueles anos todos foi por proteção. Por amor. Mas agora vendo tudo por outro ângulo será que ela era diferente de Beatriz?

Beatriz também elegeu o amor como explicação para justificar tudo o que havia feito. Assim como ela. Foi tudo por amor.

Tudo em nome do amor.

Às vezes mentimos, omitimos. O amor justifica tudo.

O amor perdoa tudo.

Segurava a caixinha de suas lembranças.

Tudo o que ali estava era o seu amor roubado.

Roupinhas de bebê.

As roupinhas que seu filho nunca havia usado.

Quando voltou para sala, parou um instante no umbral da porta observando a cena. A alegria que emanava dos três.

As três pessoas mais importante da sua vida.

As três pessoas a quem ela seria capaz de dar a própria vida.

Miguel o seu grande e único amor.

Pedro o filho que ela amava, mesmo acreditando que estivesse morto. Como ela desejou acordar daquele pesadelo. Como desejou tanto que seu filho estivesse vivo. Como ela desejou segurou aquela criança que agora era um homem.

E, Valentina, aquela que lhe devolveu a vida. Que encheu seu mundo de alegrias. Ela não tinha o seu sangue, mas o seu amor incondicional. E não importava o que acontecesse depois que lhe revelasse tudo, ela seria para sempre a sua filha. Nada mudaria isso.

— Mãe? — Valentina notou a sua presença. Nesse momento Victória notou que chorava emocionada. Secou-as ligeiro, mas todos eles notaram.

— Ah, você estava aí. — Miguel disse percebendo algo no ar e se sua intuição não falhasse aquele convite para jantar em sua casa tinha a ver com a conversa que ela tivera com Beatriz aquela manhã. — Vem se juntar a gente. — Chamou-a. — Pedro tem lindas histórias para contar.

Ela se aproximou sentando-se ao lado de Pedro.

— Que caixa é essa? — Valentina nunca havia visto. Ela olhou para a caixa em seguida para Miguel.

FOI O SEU AMOR [COMPLETO]Where stories live. Discover now