CAPÍTULO 16 SEGUINDO CAMINHOS DIFERENTES

112 6 4
                                    

"Não poderias entrar duas vezes no mesmo rio."

Heráclito


Quando o avião decolou com destino a Nova York, os três Victória, Isabella e Artur foram embora. No trajeto para casa quase não conversaram. Todos estavam entretidos em seus pensamentos. Victória principalmente, pois em toda a sua vida jamais havia se separado uma noite sequer de Valentina, mas a vida tem dessas coisas: Nos separa das pessoas que amamos. E por mais que pensasse que seria apenas dois anos de distância, seu coração sangrava sempre ao constatar que aqueles dois anos custaria a passar.

Quando o veículo de Artur parou em frente à sua casa, ela observou lentamente o vazio e o silêncio amortecedor que seria viver ali a partir daquele instante. E por mais que evitasse não conseguiu evitar as lágrimas ao cruzar a porta principal. Todas as lágrimas que estava reprisada vieram à tona como jatos de água quente. Era uma dor dilacerante ao pensar que a sua filha estava longe de seus braços. E se questionou o que seria do futuro de ambos. Se o passado tinha aquele amargo, o presente seria mais amargo ainda? Que carma era aquele de todos da sua família ter o coração abarcado pela tristeza e a dor? Como era possível que ambas tivesse se apaixonado pelos os dois homens da mesma família e ambas terminasse daquele jeito?

Não sabia dizer ao certo quanto tempo permaneceu em lágrimas, pois quando se deu conta já tinha anoitecido. Vagueou pela casa pensando em todas as lembranças impregnadas naquelas humildes paredes. Mais do que qualquer outro espaço no mundo, aquele ambiente era o que mais conhecia toda a sua dor e perdas na vida. Tinha consciência que não estava perdendo Valentina, apenas ela estava seguindo caminhos paralelos. Para ser bem honesta seguindo o seu destino, pois ela era a prova viva de que não podemos fugir daquilo ao qual fomos destinados. Mas precisava ser tão amargo? Precisava doer tanto? Precisava destruir suas defesas e suas estruturas? O que fazer para tentar torná-lo mais suportável?

Divagando com seus pensamentos, ouviu o som da campainha, crendo que fosse Isabella imediatamente foi abrir a porta. Mas quem se encontrava do outro lado não era Isabella e sim outra pessoa.

— Miguel! — Estreitou os olhos na esperança que o que os seus estivesse vendo não fosse ele. Mas ele continuou ali parado à sua frente a lhe encarar com um olhar carregado de tristeza. Durante algum tempo permaneceram ali a se encarar. Miguel notou o quanto ela estava triste com a partida da filha. Pelos seus olhos vermelhos sabia que ela estava chorando. Ele conhecia aquele sentimento, pois muitas vezes havia ficado longe de seu filho.

— Posso entrar? — Perguntou na esperança que pudesse conversar e atenuar o seu sofrimento.

— Miguel eu não estou em um bom dia. — Disse com amargura na esperança que ele notasse que a sua presença não era bem vinda. Pois sempre que olhava para ele percebia o passado voltando outra vez. E para ser bem sincera não queria aquelas lembranças. Elas esmagava o seu coração. Era como colocar pimenta em uma ferida semi aberta.

— Eu sei... — Ele disse com sensibilidade. — Eu compreendo... — Refletiu um pouco em seguida acrescentou. — Sei o quanto você e a Val são apegadas... E pelo que eu conheço dessa história creio que vocês duas jamais ficaram longe uma da outra... — Foi nesse momento que ele percebeu o quanto as suas palavras mexiam com os seus sentimentos, pois percebeu que Victória estava aos prantos e soluços. Ele o abraçou fortemente. E ela não recusou. Deixou-se levar por aquele abraço carregado de generosidade e muito amor.

Sem que percebessem eles entraram na casa e fechou a porta. Aos poucos ela foi se acalmando e secando os olhos com as mãos.

— Como está se sentindo? — Perguntou assim que ela ficou mais calma.

— Uma dor imensurável. Algo que nunca pensei que sentiria um dia. — Ela confessou olhando em seus olhos, enquanto ele segurava suas mãos num gesto de ternura. — Valentina é o meu raio de sol. E sinto que por dois anos minha vida vai ser escura outra vez.... — Ele não compreendeu o sentido daquela palavra outra vez. E ela pareceu não notar o que havia acabado de falar. — Tudo bem que a gente cria os filhos para o mundo. Que eles tem o seu destino e precisa seguir mesmo que a duras penas. Mas precisava ser tão distante? — Ela se levantou. — Nunca pensei que chegaria o dia eu que veria a minha bebê batendo suas asinhas e partindo para longe dos meus braços.... Ainda sinto-a frágil em meus braços naquela noite tempestiva, quando eu sentia o meu mundo a um caos em que a econ.

— Quando o quê? — Ao ouvir o seu questionamento ela se deu conta que quase confessou como Valentina havia entrado em sua vida.

— Quando ela nasceu. — Completou imediatamente desviando o olhar. Aquela era uma história que ninguém podia saber. — Valentina era muito frágil. Toda criança é frágil, Miguel! — Ela a encarou.

— Sei... — Ele falou sem muita convicção. Mas aquelas palavras ficaram martelando em sua cabeça. Victória dizia aquilo tudo como se falasse de uma outra coisa que ele não compreendia. — Pelo visto os nossos filhos não poderão ficar juntos, assim como aconteceu com nós dois. — Ela o encarou com o olhar triste e disse amargamente.

— A diferença em toda essa história é que nunca trai você, enquanto Edgar...

— Eu o flagrei você na cama de Steves. — Ela percebeu o peso daquelas palavras. — E aquela cena eu nunca poderei esquecer...

— Miguel... Miguel... — Ela o segurou em seu rosto fazendo com que ele a olhasse em seus olhos. — Eu nunca trai você quantas vezes terei que repetir isso?

— Minha memória não consegue apagar aquilo que os meus olhos focalizou. —Disse desviando o olhar. — Se você me amasse de verdade jamais teria ido para cama com Antoniel.

— Se você me amasse de verdade teria acreditado em mim. — Ela o revidou.

— Não dá para acreditar naquilo que os meus olhos viram. Ninguém me contou eu vi com os meus próprios olhos. Como não quer que eu acredite?

— Por mais que você não acredite em mim, vou passar a minha vida inteira negando isso.

— Pois eu nunca acreditarei nisso...

— E o que raios você veio fazer aqui? — Ela alterou o tom de voz. — Me acusar de traição?

— Por mais que não acredite eu vim aqui prestar a minha solidariedade...

— Pois vá com a sua solidariedade para os diabos que carregue... — Estava furiosa. Miguel era ogro insensível. — Não preciso de sua piedade, da sua compaixão. Não preciso de nada que venha de você.

— Vic... eu só queria ajudá-la a passar por esse momento. — Tentou argumentar. No fundo não queria ficar brigado com ela. Por mais que não quisesse admitir ainda a amava. E esse sentimento seria para sempre. Ela caminhou para a porta e abriu-a.

— Saia da minha casa. — Apontou a saída. — E por Deus eu te peço some da minha vida. Esquece que eu existo. Pois não há mais nada que nos ligue um ao outro. O cordão umbilical foi cortado há muito tempo.

— Vic, somos vizinhos...

— A partir de hoje não seremos mais. — Ela disse friamente. — Sai!!! — Gritou puxando em seu braço que ele saiu. Ainda tentou protestar, mas ele interrompeu mais furiosa ainda. — E por favor quando me ver na rua não me dirija à palavra. Pois será isso que eu farei, Miguel. Para mim você será um estranho que passa na rua. — Bateu a porta fechando-a com ele do lado de fora.

Ele ficou olhando para a porta com a cabeça levemente abaixada e com uma tristeza imensurável em seu peito. Por mais que soubesse que entre ambos não havia nenhuma esperança, doía constatar que todo aquele sentimento não restaria nada, nem mesmo uma amizade.

FOI O SEU AMOR [COMPLETO]حيث تعيش القصص. اكتشف الآن