- William? - ela falou, surpresa. 

- Você se esqueceu de algo, Lucy - murmurei, meus dentes batendo por estar molhando e pelo vento frio que soprava em minha direção. 

                                                                            LUCIANA

No que eu estava pensando? Tentar beijar William foi a coisa mais idiota que eu já fiz. Eu não estava pensando em nada, essa era a verdade. Ele estava tão perto, seu cheiro esplêndido me invadia e eu queria pular no seu pescoço e beija-lo. E bem, eu tentei. Fiquei furiosa quando ele se afastou, porém, enquanto dirigia para casa, pensei que foi a melhor coisa que ele poderia ter feito por nós dois. Eu não sabia se eu poderia me segurar novamente se o beijasse. 

- Como você é idiota, Lucy - resmunguei e eu sabia que precisava pensar em alguma outra coisa.

 Resolvi passar meus pensamentos para um território mais seguro e...hilário. Eu queria soltar uma longa gargalhada ou ser tragada pela terra quando vi que Suzanna não era a modelo de pernas longas que eu estava criando na minha mente, mas sim uma senhora simpática que trabalhava para William. Guardei o carro e entrei em casa rindo de mim mesma, eu sei que até os garotos notaram meu desconforto anterior, ou talvez não, mas eu sabia que William havia percebido e por isso prendia os lábios e segurava a risada. Maldito. 

Subi para o quarto, tirei a maquiagem, troquei de roupa, colocando apenas uma camiseta folgada e um short curto, roupas que eu me sentia confortável para dormir pois não aguentava nada me apertando. Liguei a televisão para que houvesse algum som no ambiente e olhei em volta, odiava ficar sozinha, os meninos faziam uma falta danada no final de semana. Ou talvez eu devesse arrumar alguém para juntar os trapinhos e me fazer companhia, ou apenas pagar alguém para ficar comigo à noite; seria o mais fácil e o mais seguro. 

Um clarão iluminou a habitação escura, pois eu havia apagado todas as luzes, deixando apenas a claridade da imagem do aparelho, e um trovão soou. Uma chuva devastadora começou a cair, corri para fechar a janela e notei como alguns galhos balançavam ferozmente do lado de fora como se pudessem ser arrancados a qualquer momento. Voltei para o sofá, peguei uma almofada e me encolhi em um canto do sofá, assustando-me a cada trovão que estrondava. Eu não tinha medo de chuva, pelo contrário, eu adorava a chuva e o cheiro e frescor que vinha com ela, a terra úmida e como a vegetação parecia bonita e verde.

Entretanto, eu ficava apavorada com torrenciais como o que estava acontecendo essa noite. Eu tinha esse trauma desde o dia em que eu era criança e estava lendo debaixo de uma grande árvore no jardim de casa. Começou uma chuva fina, com uma brisa leve e eu achei que passaria logo; porém, ela engrossou, eu não queria sair e me molhar, eu tinha uma imunidade muito baixa e ficava gripada facilmente. Então, resolvi esperar e ela apenas aumentava e aumentava, eu conseguia ouvir minha mãe gritando por mim dentro da casa e mesmo assim eu não sai. 

Raios iluminavam o céu de tempos em tempos, foi quando um caiu na árvore na qual eu estava sob e eu pensei que iria morrer chamuscada. Sai correndo desesperada, chorando enquanto pensava que era melhor pegar a gripe aviária do que ser o próprio frango torrado e servido no jantar. Outro relâmpago iluminou a sala e eu daria tudo para ter seja lá quem fosse aqui comigo, poderia ser até um cachorro, um gato ou até uma lhama que fica cuspindo a cada segundo. Eu apenas não estava gostando de ficar sozinha e o temporal estava com cara de que duraria para sempre, ou a noite toda, mais especificamente.

Como se os anjos estivessem rondando por ali e dissessem amém, a campainha tocou e dei um salto de susto. Corri e achei que poderia ter dormido no sofá e estava sonhando ou talvez fosse uma miragem acarretada pelo pavor que eu estava sentindo há alguns minutos. Abri a porta para encontrar William parado do outro lado, totalmente encharcado, pingando como uma torneira aberta no tapete de entrada, mas continuava lindo como sempre. 

- William? - perguntei e queria toca-lo para ver se era real, mas me contive. 

- Você se esqueceu de algo, Lucy - ele murmurou e não foi uma pergunta.

Bem, eu não me lembrava de ter esquecido nada em seu apartamento, apesar de ter saído de lá quase correndo. Enquanto eu estava perdida em meus pensamentos, olhei novamente para o homem parado na soleira e seus dentes batiam uns nos outros violentamente. 

- Oh meu Deus, me desculpe - me afastei da porta - entre, você deve estar congelando. 

- Como você percebeu? - ele questionou sorrindo tremulamente e eu ri.

- É melhor você tomar um banho antes que pegue uma hipotermia - aconselhei, subi para pegar uma toalha e indiquei para que ele tomasse banho no banheiro do meu quarto mesmo. Quando o chuveiro foi acionado e ouvi o barulho da água escorrendo, sentei-me na beirada da cama e fiquei imaginando o que ele estava fazendo aqui. Não consegui nenhuma resposta. Cai de costas na cama e desliguei minha mente, não queria ficar criando expectativas ou qualquer coisa parecida, ia esperar para perguntar para ele. 

ღ Perigosa AtraçãoWhere stories live. Discover now