– Hmmm... Vejo que a sua ocupação acabou de acordar, eu é... Vou voltar para casa e depois nos falamos. – Sussurrei um “depois me conta tudo” e sai, fechando a porta atrás de mim.

As cinco da tarde, eu estava entretida lendo Jane Austen quando meu telefone tocou, considerei deixar tocando, já que era da portaria, mas os toques estridentes tiraram minha concentração.

– Alô?

– Srta Grey, desculpe incomodá-la. – Balbuciei meia dúzia de palavras ininteligíveis e ele prosseguiu – A Sra Lincoln está aqui para lhe entregar uma encomenda e deseja subir.

Não é que a mulher veio mesmo?

– Pode mandá-la subir, obrigada Frank. – A-há, esse era o nome dele.

Desliguei e nem me dei ao trabalho de tirar minha calça de ginástica e meu moletom. A campainha tocou quando eu estava na metade de um copo d’água, andei até a porta e quando abri, lá estava parada a senhora de meia idade que ficou conversando com Trevor. A Sra Lincoln tinha o cabelo curto, muito loiro. Seu rosto aparentava uma falsa serenidade e não sei porque, o alarme de cuidado começou a ressonar em minha cabeça.

– Boa tarde, Phoebe. – Seus lábios ostentaram um sorriso sincero.

– Boa tarde, Sra Lincoln. Quer entrar? – Dei espaço para sua passagem e me arrependi de não ter trocado de roupa, já que ela estava com os saltos mais altos que já vi na vida e um vestido social preto. A Sra Lincoln deixou minha recém adquirida estátua em cima da mesa da sala de estar e se virou para mim.

– Por favor, me chame de Elena. É um prazer conhecê-la, Phoebe. – Ela deu uma breve olhada na minha sala de estar e depois se virou para mim novamente.

– Pois não. Você quer beber alguma coisa, Elena?

– Não, obrigada. Você sabe quem sou eu? – Ela colocou uma mão na cintura e eu pude sentir uma leve pontada de ironia na sua voz.

– Eu sei que a senhora organizou o evento de ontem. – A convidei para sentar, porém ela negou com a cabeça.

– Na verdade, eu sou uma antiga amiga da sua família. Achei que você saberia quem sou eu. – Elena mordeu o lábio sutilmente e passou por mim para ir embora.

– Ah, sim. Vou comentar com meu pai que a conheci.

– Eu ficaria lisonjeada.

Elena se virou para ir embora, mas antes deu dois beijos no meu rosto, seus lábios eram duros e sua postura ereta demais, tinha alguma coisa de errado com aquela mulher. Quando fechei a porta atrás de mim, meu corpo estremeceu automaticamente, ignorei esse sinal.

Rasguei o embrulho que a escultura estava embalada, a ergui nas mãos e a observei atentamente. Era um anjo pequeno, deitado de lado com as asas levantadas, todo feito em barro. Associei a Noah, sorri e o coloquei sob a mesa de centro novamente, depois eu ia procurar um lugar para colocá-lo.

Segunda feira depois de ter tomado meu café e enfrentado o trânsito que já estava virando rotina, cheguei ao escritório. Ao me dirigir a cafeteria para mais uma dose de cafeína, percebi alguns olhares de soslaio. Abaixei a cabeça e subi novamente para o meu andar. Percebi que Noah já havia chegado, pois a porta de sua sala estava entreaberta. Meu estômago revirou e pude sentir meu coração palpitar dentro do peito.

Controla-se, Phoebe. Por favor, controle-se!

Guardei minha bolsa, joguei a chave de casa e do carro num canto junto com meu celular e então percebi que tinha um jornal na mesa. Estranho. Sentei e enquanto meu computador ligava, resolvi dar uma olhada. Por que alguém deixaria um jornal na minha mesa? Será que eu tenho um admirador secreto intelectual? Ri baixinho e comecei a folhear as páginas preguiçosamente, nunca fui amante de jornais. Meu olho correu pela página que falava sobre o evento de sábado, não me surpreendi ao ler a legenda embaixo da minha foto com Ivy: “Filhas de Gideon Cross e Christian Grey se juntaram para prestigiar um evento beneficente que ocorreu na noite de sábado, dia 18.” Sorri, Ivy estava tão radiante e eu ria para ela. A foto ficou bonita.

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