Pânico

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Eu estava cercado de pessoas que sempre falavam por mim, me condenavam, não tinham pena de mim, então passei a achar que eu merecia tudo aquilo. Eu mereço essa dor, pois eu reclamo de coisas dos outros que não chegam nem perto dos meus próprios pecados. É egomania. Egocentrismo.

Eu não mereço piedade, eu não mereço gentileza ou compreensão. Então que as pessoas me tratem da pior forma possível, porque eu já não acho mais que eu mereça ser feliz. É idiotice tentar amar um eu que não existe, que ilude os outros com um rosto fofo e um sorriso generoso, mas esse eu que vocês gostam não existe.

Que todos me odeiem, por favor, me odeiem, eu imploro. Não tentem entender, não tentem se aproximar, eu não quero mais machucar ninguém, é melhor manter distância de mim. Distancie-se, antes que eu mesmo distancie você, tornando isso mais doloroso ainda.

Foco, criatura de Deus! Foca aqui, mané! Tá achando que suas rainhas do K-pop vão pagar suas contas, é? Você precisa dar um rumo pra sua vida, Kim Seokjin, de preferência um que seja bom. Chega dessa vida de pobre, eu não aguento mais! Agora é sério! Eu só vou ver mais um MV, aí eu volto a estudar!

Pronto, isso era tudo que precisava pra me recompor e voltar aos estudos. Logo, logo vai ser o vestibular, e eu preciso estudar se quiser mesmo tentar outra graduação, só pra ver no que dá, quem sabe, não é mesmo?

O problema é que era complicado estudar no meu quarto com Hoseok e Taehyung se pegando no canto, enquanto Miri e Einstein comiam meus livros. Estudar na casa do meu pai, claro, era impossível. Então eu lembrei do quarto que Jiwoo sempre guardou pra mim, ela ficou muito feliz quando eu perguntei se podia usá-lo. Era um lugar calmo, ela vivia mais na nova casa de Namjoon e no trabalho, então eu podia ficar sozinho lá sem problema nenhum.

Estava fazendo uma massagem telepática na minha testa pra ver se o conteúdo entrava no meu cérebro através de forças sobrenaturais – porque só assim pra eu consegui entender física – quando senti alguma coisa tocar no meu pescoço.

– Ah! Jesus, vai quebrando toda maldição! – Levantei de onde estava com um pulo, enquanto Namjoon me encarava igualmente assustado.

– Hyung, tudo bem?

– Menino, deixa de ser doido, pensei que fosse o chupa cu.

Namjoon começou a rir de mim, enquanto eu passava a mão pelo meu pescoço, no lugar exato onde ele havia beijado poucos minutos antes, mas então ele voltou sua atenção pro meu notebook e pros meus livros, me movi rapidamente, abaixando a tela e guardando tudo.

– Ei, qual o problema?

– Como assim? – Ri nervosamente.

– Por que sempre tenta esconder de mim que tá estudando pro vestibular?

– Quem? Eu? Eu não, não tô fazendo isso. Quem te disse isso?

– Sua mãe.

– Absurdo, você que interpretou errado.

– Jiwoo disse "Ah, o Jinnie? Eu vi ele, sim. Ele tá na minha casa, ele pediu pra estudar lá pro vestibular". Que parte disse eu interpretei errado?

– Então é ela que tá trocando as bolas.

– Por que tá negando algo tão simples assim?

– Ah... – Suspirei e evitei encará-lo. – É que eu não sei se tenho chance de passar, então eu preferia que ninguém soubesse que eu vou tentar, evita decepções.

Manual de como (não) se suicidarWhere stories live. Discover now