Síncope

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"Não eram raras as vezes em que eu me perguntava como conseguia ser tão péssimo em tudo. Não importava o quanto me esforçasse e tentasse dar o melhor de mim, eu estava destinado a fracassar. Porque eu sou fraco. Fraco e egoísta. Como poderia ajudar alguém se não consigo ajudar nem a mim mesmo?

Comecei a tratar as pessoas de forma cada vez pior, porque aquilo não me fazia nenhuma diferença. Eu não podia ser feliz, eu não tinha mais salvação. Então, por que todos a minha volta continuavam sorrindo? Por que eles tinham o direito de serem felizes e eu não? Eu só queria dizer a todos que eles não mereciam sorrir porque eram tão imbecis quanto eu.

Não sei bem quando isso aconteceu, mas em algum ponto da minha vida, eu passei a odiar todos e simplesmente comecei a desistir. Sim, comecei, porque desistir é um longo processo. Perdi a vontade de tentar, pois sabia que não iria conseguir, que nada valia a pena. Eu era fraco até mesmo para desistir."

– Quer comer algo? – Fiz um gesto negativo com a cabeça, enquanto minhas mãos tremiam, segurando o copo d'água que ela havia insistido que eu tomasse. – Quer conversar.

– Sim. – Minha resposta saiu baixa demais.

– O que aconteceu, Jin? – Eu não conseguia responder, não só por saber o impacto que aquilo causaria nela, mas também porque todos aqueles acontecimentos recentes me deixaram sem reação nenhuma.

Todas as vezes em que tentei dizer alguma coisa, nada saiu. Por fim, acabei chorando. Jiwoo – digo, minha mãe – acabou ficando mais nervosa ainda, voltando a me abraçar, enquanto repetia quase como um mantra que iria ficar tudo bem, mas eu sabia que não ia, porém, mesmo assim, aquilo era reconfortante.

– Jin, eu preciso ir trabalhar, quer que eu pague um táxi e te deixe na casa dos Jung?

– Não, Jiwoo... você não pode ir trabalhar. – Ele me encarou, estava confusa.

– Por quê?

– A mãe do Namjoon tá no hospital.

– O quê?! – Minha mãe levou sua mão até o peito. – O que aconteceu?!

– Foi o pai dele.

– E onde está ele? Onde está o Namjoon? Ele tá bem?

– No hospital também. Quando saí, ele estava desacordado, acho que é melhor você ir pra lá. – Levantei meu rosto, encarando Jiwoo bem em seus olhos. – O Namjoon precisa de todo apoio agora, e não tem ninguém melhor do que você pra isso... mãe.

– Jin, você não acha que deveria descansar um pouco primeiro? – Cada passo apressado que eu dava, Hyerin me seguia, enquanto Hoseok me observava de longe, com Einstein em seus braços.

– Eu vou lá e volto, mãe.

– Mas, filho, sua cabeça deve tá uma pilha.

– Eu sei que tá, mas o Namjoon precisa de mim. – Ela suspirou, derrotada. – Posso levar o Hoseok comigo?

– Por que está me perguntando isso? Não é você que diz que eu tenho que parar de tratar seu irmão como criança?

– E tem mesmo.

– Ok, Jin, já entendi.

– Tá bom, então ele vai comigo.

Quando voltei até a sala, Jiwoo estava espremida em um canto do sofá, passando suas mãos uma na outra. Eu notei claramente o quanto Hyerin estava fazendo questão de agir como se ela nem estivesse ali. Peguei o casaco de Hoseok e entreguei a ele.

– Cadê a chave do carro, mãe?

– Aqui.

– Tudo bem me emprestar seu carro mesmo?

Manual de como (não) se suicidarTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon