(Não) acredite que você está só

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"Enquanto algumas crianças nascem cercadas de amor, carinho e presentes caros, frutos de gravidezes desejadas, outras vieram ao mundo por puro acidente, sendo assim destinadas a viver uma vida podre e indigna, se é que isso pode ser considerado viver, não é mesmo? Mas sabe o que esses dois tipos de pessoas têm em comum? Ambas nascem sozinhas.

Não importa quantas pessoas te amem e estejam esperando por sua chegada, não importa se você nasceu em um lugar chique rodeado de médicos e familiares ou em um lugar sujo apenas com uma mulher inundada em dor. Nos dois casos, vocês nasceram sozinhos e vão morrer sozinhos. É assim que as coisas funcionam.

Quando crescemos, nos unimos e nos ajudamos por pura necessidade, porque nos é útil usar os outros em nossa própria função. Porém, nos momentos difíceis, nos momentos em que mais precisamos de alguém, estamos sempre sozinhos. A solidão é uma exclusividade de cada um de nós. "

- Manual de como se suicidar * 09.08.16

Eu não tenho palavras pra descrever o quanto fiquei pistola com a vida, o universo e tudo mais quando vi que o miserável do meu pai tinha sim pego todo meu dinheiro, pelo menos foi só isso que ele pegou, se é que eu posso encarar isso como algo menos ruim, né?

Sabia que ele iria querer me matar por aquilo depois, mas mesmo assim, peguei minhas coisas e voltei pra casa dos Jung, não ia limpar a sujeira ou preparar comida pro cara que roubava o próprio filho. E fora mais essa decepção paterna, que já nem era mais uma novidade, ainda havia o lindo fato de que eu não havia encontrado meu celular, o que estava me deixando verdadeiramente frustrado.

Bati novamente na porta dos Jung, um pouco envergonhado, afinal, já passavam das onze da noite, mas claro que a mãe de Hoseok me atendeu alegremente e me deu comida, enquanto repetia como gostaria que eu pudesse morar exclusivamente apenas lá sem ser obrigado a suportar meu pai. Eu também adoraria isso.

Depois de comer, fui até o quarto de Hoseok, onde ele parecia concentrado em escrever algo. Tão concentrado que nem me notou passar por trás dele e pegar seu celular. Procurei meu contato em seu aparelho e tentei ligar, eu já havia tentado isso há algumas horas atrás, e assim como antes, nada aconteceu. A ligação apenas chamava várias vezes até que eu desligasse.

Se ninguém atendia meu celular, poderiam existir três possibilidades: (1) eu havia esquecido ele na sala em que trabalho, e como sou um dos últimos a sair do local, ninguém reparou o aparelho lá, (2) eu havia deixado aquela droga cair em algum lugar enquanto saia apressadamente da faculdade, mas daí ele devia ter levado uma baita chuva, então não sei. E (3), também conhecida como a melhor das opções, eu tinha esquecido dentro do carro de Kim Lindão Namjoon.

Porém, nem tudo são flores nessa vida, na verdade, quase nada é, né? E por que eu estou dizendo isso? Porque tenho a péssima mania de nunca colocar nenhuma senha no meu celular, pois se eu fizer isso, nunca vou me lembrar de como é de primeira e vou acabar me desesperando. Ou seja, se alguém pegou meu celular, deve estar vendo todos os meus nudes agora (olha, espero que seja o Namjoon vendo meu corpo nu, né).

Mentira, gente. Eu não tenho nenhum nudes, apesar de eu me achar o homem mais lindo desse mundo (e sei que sou) não vou fotografar esse meu corpinho, pois o corpo nu de Kim Seokjin é exclusivo para alguém chamado Kim Namjoon. Tá, parei com essa idiotice.

Mas, no meu celular, tem algo mais confidencial do que nudes: minhas várias e várias anotações, e entre elas, as anotações do Manual de como se suicidar, e as pessoas não podem saber que eu sou Min Seung e isso era o que me deixava mais aflito.

Coloquei o celular de Hoseok no lugar e liguei meu notebook. Ia aproveitar aqueles poucos minutos antes de dormir para escrever algo para o Manual, mas só postaria na manhã seguinte.

Manual de como (não) se suicidarOnde histórias criam vida. Descubra agora