XLVI - Fim do meu banimento

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Ela nunca esteve tão certa. Eu nunca, em 400.000 anos, havia fugido de uma batalha ou "batido em retirada." Nunca. E mesmo antes dos anjos descerem do céu, já havia decidido que morreria com honra. Morreria lutando. Se as coisas ficassem muito feias, tiraria Diana de lá e a levaria para um lugar seguro. Depois, daria minha vida no campo de batalha se fosse preciso. Mas jamais bateria em retirada.
Gabriel veio a frente da Guarda comandando-a. Ele ergueu a espada e um feixe de luz branco explodiu os demônios que me separavam dele. Os outros recuaram e se reuniram longe do lado celestial com Lúcifer, seu líder, pairando acima deles e grunhindo de raiva.
Gabriel andou até mim, sério como sempre. Ele nunca sorria. Nunca, em hipótese alguma.

— Achei que ia querer ajuda.

— Que nada, estava tudo sob controle. – Balancei Mortalha despreocupado.

— Nota-se meu caro caçula, nota-se. – Gabriel ergueu a espada.

— Uou... espera aí, o que vai fazer? – Olhei confuso para ele.

— Ajoelhe-se.

Fiz o que Gabriel mandou, mesmo sem saber o que estava acontecendo.

— Eu, Arcanjo Gabriel, terceiro Arcanjo a ser criado, declaro que a sentença de banimento do agora Arcanjo Lucas, está terminada! Podendo assim, retornar para o céu quando lhe for ordenado. Sendo assim, devolvo as asas que lhe foram retiradas em forma de punição durante sua queda. Levante-se, Arcanjo Lucas! O sétimo Arcanjo de Deus!

Me levantei e um trovão ribumbou ao fundo. Minha punição havia terminado. Não me sentia feliz, mas antes que eu pudesse sequer abrir a boca para expressar isso, sinto minhas costas serem rasgadas de dentro para fora.  Sangue dourado – o sangue dos anjos – começou a escorrer pelas minhas costas. Me ajoelhei gritando de dor,  enquanto minhas asas tentavam sair novamente. Diana tentou chegar até mim mas Gabriel a impediu. Coloquei as mãos sobre o asfalto usando o chão de apoio. Minhas costas foram sendo rasgadas cada vez mais até que uma luz branca me envolveu e me tirou do chão, fazendo-me flutuar. Quando voltei para terra, eu estava apoiado sob um dos meus joelhos com apenas um dos punhos fechados sob o asfalto, criando uma pequena cratera em volta de mim. Me levantei lentamente até estar finalmente de pé. E lá estava eu: com os olhos brilhando em azul, minha armadura completa de ouro celestial e  azul marinho e as minhas asas. As minhas belas asas brancas.
Estendi a mão para Mortalha, – que eu havia soltado no processo de retorno das minhas asas –a espada tremeu no chão e veio para a minha mão.
Encarei Lúcifer.
Satã grunhiu de raiva.
E Diana soltou um palavrão.

— E agora? – Olhei para Gabriel.

— Me diga você, General. A Guarda Celeste é sua.

A Guarda Celeste é sua. Gostei de como essa frase soou. Assenti para Gabriel com um sorriso um tanto perverso nos lábios.

— Celestes! – Gritei. – Formação!

Os anjos sacaram suas armas e entraram em formação. Quinze grupos com nove soldados em cada fileira. Me dando o total de 135 anjos prontos para matar demônios.

— Celestes! – Gritei novamente. – Preparar para batalha!

Os demônios começaram a entrar em formação também. Tão bem organizada quanto a da Guarda Celeste. Andei de um lado para o outro, em frente a Guarda com os olhos fixos em Lúcifer.

— Atenção! Vocês já sabem como funciona. Mantenham-se vivos. Protejam uns aos outros! E por Deus, matem todos eles! Celestes, atacar!

Anjo MeuWhere stories live. Discover now