Sai do transe em um solavanco. Minha conexão com o Céu foi interrompida bruscamente. Eu estava me sentindo dividido, meio sonolento e demorei um pouco para voltar a mim. Quando abri os olhos procurei por Diana. Ela tinha dado a volta no carro, aberto a porta do carona e se posto ao meu lado. Assim que percebeu que eu estava com os olhos abertos, Diana fechou os olhos por um momento e deu um suspiro de alívio ao me ver respirando e completamente acordado.
— Achei que você estava morrendo. O que aconteceu? Você estava brilhando, gritando e... por que você está chorando?
— Muriel. – Passei o polegar embaixo dos olhos secando as lágrimas.
— Quem?
— Muriel, minha Tenente. Está morta.
— Eu sinto muito… – Diana colocou a mão no meu ombro – como você sabe disso?
— Eu a vi morrer. Vi o céu na verdade e as coisas não estão boas por lá. Droga, preciso da minha graça de volta.
Saí do carro e me senti fraco. Os efeitos do Transporte de Conciência surgiram rápido demais. Se eu ainda fosse 100% anjo estaria normal, sorrindo com minhas asas por ai, e matando algum demônio por puro tédio, mas eu havia sido derrubado em combate e Diana teve de me segurar contra o carro para me ajudar a ficar de pé.
— Ei, você pensa que vai aonde?
— Penso que vou achar um jeito de restaurar minha graça.
— Pensou errado. Você vai entrar no carro e sossegar um pouco.
— Não posso. Você não entende...
— Não entendo várias coisas no momento, mas uma das únicas coisas que entendo é que você não pode sair assim.
— Diana...
— Lucas, se você sair assim vai morrer na metade do caminho.
Ela estava ficando brava. Sei disso porque ela me pressionava com mais força contra o carro.
— Não posso esperar até amanhã, Diana.
— Você quer calar a boca e entrar logo na porcaria do carro?!
Ela estava prestes a me bater e eu odiava admitir mas aquela humana tinha razão. Não chegaria a lugar nenhum no estado que estava e não cumpriria a missão. Precisava me recuperar primeiro, então, contra a minha vontade, fiz o que ela havia me pedido. Diana deu a volta pela frente do carro, entrou nele e rapidamente deu a partida. Tinha certeza que ela me levaria para o hospital novamente mas ela dirigia na direção oposta que viemos.
— O hospital é para atrás. – Olhei fixo para o parabrisa.
— Não vou levar você para o hospital. Você sairia de lá antes que eu chegasse a recepção.
— Está me levando para onde então?
— Vou levá-lo… – ela suspirou – vou levá-lo para a minha casa.
— Isso não é considerado perigoso por aqui?
— É, muito. Aliás meu pai me mataria se descobrisse que levei um cara que conheço a algumas horas para dormir na minha casa mas...
— Mas...?
— Eu vi. Vi sua queda. Senti seu desespero, sua raiva. Sei o que você é. E se não se recuperar você vai morrer e – olhos de Diana vieram de encontro ao meu – eu não posso deixar isso acontecer.
Diana ligou a música do carro, o que indicava que a conversa tinha acabado e sinceramente eu fiquei aliviado por não precisar responder mais nenhuma pergunta ou explicar nada sobre o Céu.
A cena da morte de Muriel ficava em um looping na minha cabeça, como se fosse mais um dos castigos de meu pai, porém eu não podia sentir a dor do luto agora. Por mais que a dor de perder Muriel diante dos meus olhos fosse muito grande, eu tinha que me concentrar no último pedido dela. O problema era que eu não fazia ideia de como diria a Diana que ela era descendente de Caim, e por causa disso poderia se tornar um Cavaleiro Infernal de Lúcifer. Eu não poderia simplesmente chegar e dizer a ela: “Hey Diana, você é descendente de Caim um dos demônios primordiais. Ah, e a propósito, você pode se tornar um demônio a qualquer hora. Te vejo por ai” isso a deixaria ainda mais traumatizada, eu precisava prepará-la primeiro. Precisava de tempo.
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Anjo Meu
Fantasy🔹TRILOGIA ANJO MEU - LIVRO I🔹 "[...] ela estava concentradíssima em limpar meu ferimento. Seus olhos castanhos escuros estavam focados e sua expressão mesmo séria, não conseguia esconder a garota alegre e divertida que ela era; seus lábios, os qua...