VIII - Sessão interrogatório

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Diana fez uma coisa chamada panquecas no café da manhã.
Eu estava em pé, encostado na parede enquanto ela fazia um líquido preto em um objeto estranho e com botões. Diana fazia tudo isso enquanto cantava. Muito mal, mas ainda sim cantava. Acho que a música que saía da caixinha mágica que estava em cima da mesa a fez esquecer completamente que eu estava ali. E eu não me importava. Poderia achar um jeito de restaurar minha graça sozinho e acabar com Lúcifer naquele momento, mas devia algumas respostas a Diana e bem, acho que eu estava com fome.

— Tudo bem, o café está pronto. – Diana colocou um recipiente redondo de vidro com o líquido preto dentro em cima da mesa e desligou a música.– Senta aí.

Me desencostei da parede e me sentei a mesa.

— Agora você vai me contar que porra aconteceu ontem.

— Tudo bem, por onde eu começo?

— Pelo começo, gênio.

Respirei fundo e comecei a contar a ela. Diana ouvia atentamente enquanto enfiava pedaços de panqueca na boca.

— Então você não matou Uriel?

— Não, mas queria.

— Ok, espera, você foi punido com o seu banimento. Mas e Uriel?

— Não sei. A última vez que o vi, ele estava quase morto. – Sorri pervesamente.

Diana se engasgou e tossiu um pouco quando ouviu as palavras “quase morto”.

— Cara, me lembre de nunca deixar você com raiva – ela tomou um gole do líquido preto fazendo uma pausa – e o que foi aquilo no carro ontem?

— Foi um Transporte de Conciência.

— Isso era para fazer sentido? Porque assim, não fez.

Transporte de Conciência é uma espécie de projeção em tempo real. Você pode se mexer, ver, ouvir e falar enquanto estiver na projeção. Um clone idêntico em aparência, experiência em combate, armas e habilidade surge, mas enquanto meu clone fica com os movimentos, meu corpo que fez o transporte fica vulnerável e inerte.

— E como se faz isso?

— Humanos não podem fazer, antes que você pergunte. – Ela xingou baixinho. – Mas respondendo sua pergunta, você pode ser convocado ou se tiver poder suficiente, pode se conectar a algo ou alguém.

— E dói? Porque você estava gritando.

— Se eu ainda fosse totalmente anjo...

— E não fosse meio humano... – completou ela.

— E não fosse meio humano, seria uma leve dor de cabeça.

— E como você foi parar lá? O que você viu?

— Gabriel. E sim, aquele Gabriel. Ele me convocou até o ataque a mando do nosso pai. – Ela abriu a boca para falar mas a interrompi antes de começar a frase. – Sim, é Deus. O que criou o universo e tudo que existe, aquele Deus.

— Tudo bem – disse ela com a voz falha – vamos voltar para o início, para Uriel. Depois a gente bate um papo sobre Deus.

— Pergunte.

— Por que diabos Uriel quis que você perdesse a tal Batalha do Purgatório se seria território celestial?

Engoli seco. Ela ainda não estava pronta para saber minha real missão, não ainda. Peguei a xicara e por impulso tomei o líquido preto e pensei muito rápido por um segundo.

— Rivalidade de irmãos. – Tomei outro gole do líquido preto.

— E eu que achei que minhas brigas com meu irmão eram sérias...

— Tenho perguntas para você.

Coloquei a xícara de volta na mesa e peguei o garfo. Eu realmente iria comer comida humana. Não acreditava que isso estava acontecendo comigo.

— Acho justo, pergunte.

— Por que você...

Fui interrompido pela caixinha mágica de Diana tocando e vibrando em cima da mesa. Ela pegou a caixinha, sussurrou “desculpe” e foi para a sala. E sem eu ter mais que  fazer, levei o garfo com um pedaço de panqueca até a boca.

Anjo MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora