II - Flashbacks não dão dores de cabeça

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Acordei com uma luz muito clara acima da minha cabeça, quase cegante para os meus olhos e por um momento pensei estar de volta em casa, subindo para o céu novamente por entre as nuvens. Mas então percebi que estava em um quarto com aparelhos ao lado da cama.
Tentei me levantar e percebi uma espécie de cápsula branca e dura em volta do meu braço deixando apenas meus dedos para fora. Encarei aquilo olhando cada centímetro e girando o meu braço em 180° graus para ver se existia alguma abertura mas não encontrei nada.

— Ah, você acordou. – Diana sorriu ao me ver acordado.

— Que lugar é esse? Onde eu estou? E que coisa é essa no meu braço? – Mostrei o braço para ela.

— Ei, ei, calma. Uma coisa de cada vez. Você está no Hospital dos Veteranos de São Francisco. E isso se chama gesso, seu braço está quebrado.

— Preciso sair daqui.

— E você vai assim que os médicos te derem alta.

— Não posso esperar pelos humanos de jaleco branco. Preciso achar um jeito de restaurar minha graça.

— Humanos de jaleco branco? – Ela repetiu a frase baixinho franzindo as sombrancelhas. – Espera, sua o quê?

Não respondi. Tentei levantar e ela me impediu. Olhei para ela como se ainda pudesse pulveriza-la apenas com o olhar mas infelizmente eu não tinha mais esse poder.
Me sentei novamente.

— Eu não tenho tempo para isso. – Falei com os olhos fixos nela.

— Não tem tempo para se recuperar?

— Não. Não tenho tempo para a esperar os humanos de jaleco branco.

— Você fala "humanos" como se você não fosse um.

— E não sou.

— Ta, então você é um alien? Porque explicaria você em uma cratera no meio do Par....

— Sou um anjo.

— Você o que? – Ela riu incrédula.

Respirei fundo e contei até dez. Essa humana estava começando a me irritar.

— Um anjo. – A encarei novamente.

— Tipo aqueles com asas que andam quase nus e combatem  demônios?

— O que? Nós não... – respirei fundo e passei a não esquerda sobre o rosto – não andamos quase nus. Exceto os querubins e cupidos na sua verdadeira forma.

Seus olhos castanhos escuros me encaravam como se tentassem desvendar se eu era louco, se eu estava brincando com ela ou se falava a verdade.

— Então cadê suas asas? – Disse ela finalmente.

— Eu as perdi na queda junto com a minha graça.

— Ah, claro que sim.

As mãos dela ainda seguravam meu braço me impedindo de levantar. Tirei suas mãos do meu braço e junto a camisa branca de paciente que eu vestia. Me levantei da cama e virei de costas para ela. Onde deveriam estar minhas asas, estavam duas cicatrizes cauterizadas de uns 30 centímetros, uma de cada lado das costas. Diana ficou imóvel por alguns segundos e senti a presença da mão dela se aproximando das minhas costas, mas ela hesitou. Olhei para Diana por cima do ombro e pude ver que ela estava com uma das mãos sobre a boca.

— Posso? – Perguntou ela com uma das mãos levantadas.

— Acho que você não vai gostar da sensação.

— O que quer dizer com isso?

— Veja você mesma.

Senti o toque suave da mão dela em minhas costas. Flashbacks da minha queda vieram a minha mente como se 300 filmes passassem diante dos meus olhos de uma vez só. A sensação de reviver esses momentos não era boa então, uns minutos depois, vesti a camiseta novamente obrigando Diana a afastar a mão de mim. Quando me voltei para ela, sua expressão de surpresa dela me dizia que ela visto o que eu tinha acabado de ver.

— Meu Deus, você é um...

— Preciso sair daqui. Agora.

— Calma. Você não pode sair assim.

— Por que? Porque não recebi a porcaria da "alta" ainda?  Não me importo com isso, me sinto ótimo. E eu estou saindo daqui.

Virei de costas para ela e comecei a andar, mas Diana segurou meu pulso.

— Ei, espera!

Olhei para o meu pulso e depois para a mão de Diana e ela pareceu ter entendido o recado. Ela tirou a mão de mim e eu voltaria a andar em direção a porta, mas a tontura havia voltado junto com a fraqueza . Cambaleei para trás me sentando na cama.
Fechei os olhos por um segundo para tentar me estabilizar e sacudi a cabeça para afastar a tontura. Senti um toque no meu rosto, então abri os olhos rapidamente e segurei a mão dela. Nos olhamos por um segundo e a soltei.

— Você está bem?

— Me sinto tonto. Não... eu não tenho minha força completa ainda.

— O que aconteceu com você? – Ela tinha tirado a mão do meu rosto mas ainda me olhava fixamente.

— Fui derrubado em um combate.

— E você está fraco porque precisa da sua...

Graça.

— Isso, da sua graça. E onde está?

— Ela não existe mais. Mas preciso encontrar um modo de...

Diana começou a entrar e sair de foco e minha visão escureceu por alguns segundos.

— Lucas? Ai merda, ele vai desmaiar de novo.

— Não, eu não vou desmai... – fechei os olhos com força e os abri novamente – eu não vou desmaiar.

— Acho que nenhum médico vai conseguir te ajudar ou te dar alta desse jeito. Merda, eu não acredito que vou fazer isso mas vou tirar você daqui.

Anjo MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora