XXXIX - Que seja feita a vontade de Deus

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Os raios de sol transpassavam as cortinas das janelas e iluminavam pequenos e poucos pontos do quarto. Diana estava deitada ao meu lado de costas para mim, vestida apenas com um lençol branco que se enrolava na sua cintura e cobria seu peito, mas deixava suas costas a mostra. Me sentei na cama – com todo cuidado para não acorda-la – de costas para ela e coloquei as mãos na cabeça. Eu havia feito o que eu queria e desejava, – muito – mas o peso das consequências que eu já sabia quais eram, vieram me assombrar. A missão praticamente já havia chegado ao fim, e eu seria obrigado a voltar para a casa e deixá-la aqui. Não queria isso. Não naquele momento. Malditos cupidos, eu ia falar, mas o toque da mão de Diana no meu ombro me fez apenas fechar os olhos e levar minha mão de encontro a dela.

— O que foi?

— Nada, eu só...

— Estava pensando no que nós fizemos? Lucas, olha para mim.

Coloquei os pés para cima da cama novamente e encostei as costas na cabeceira.

— Não precisamos nos preocupar com isso agora. Temos tempo ainda.

— Pouco tempo. – Corrigi.

— Mesmo assim, ainda temos tempo. Mesmo que seja pouco. Aqui na Terra, nós, humanos inúteis e imprestáveis – ela riu fazendo uma péssima imitação da minha voz – temos o costume de tentar as coisas mesmo quando temos a certeza que não vai durar ou dar certo.

— Por que vocês fazem isso?

— Porque somos masoquistas e gostamos de sofrer com os nossos fracassos.

— O que?

Ela riu. Gargalhou na verdade. A risada dela era tão contagiante que fez eu, involuntariamente, sorrir um pouco.

— É porque gostamos de dizer ao menos que tentamos, que não deixamos a oportunidade passar. Bom, pelo menos alguns de nós.

— Diana eu...

Ela se jogou contra mim e encostou seus lábios nos meus. Foi um beijo curto, mas que havia dito muitas coisas e respondido muitas perguntas, apenas com o balé de nossas bocas. Quando o beijo parou, eu precisei de um segundo para voltar a mim e buscar meu estômago que estava no espaço aquela altura.

— O que vai querer para o café? – Disse-me ela com a testa encostada na minha.

— Panquecas com cauda de chocolate e café preto.

— Não sei porque ainda pergunto – sorriu – você sempre pede a mesma coisa.

Diana levantou, se vestiu e me deixou mais um beijo antes de sair do quarto.
“Ame-os enquanto pode” havia dito meu pai. Bom, o sentido da frase não era o mesmo, mas o sentimento de amar era igual ou até mais forte.
E pela primeira vez, em 400.000 anos, eu havia feito exatamente o que meu pai queria que eu fizesse. Naquele momento, sentado com um sorriso bobo de orelha a orelha, eu não vi mal algum em seguir o conselho de meu pai. Então, pensei: que seja feita a vontade de Deus.
Eu morria de medo das consequências, e é claro que a ideia de deixá-la me apavorava, mas Diana estava certa. Tínhamos tempo e mesmo que ele fosse pouco, eu aproveitaria cada segundo dele com Diana.

Anjo MeuWo Geschichten leben. Entdecke jetzt