A estudei com cautela. Não tinha certeza se ela havia ouvido minha discussão com Miguel, se tinha apenas visto o Arcanjo voltar para casa ou os dois juntos.
— Diana? Tudo bem?
— Quem era aquele? E por que ele era gigante e tinha asas?
— Era meu irmão mais velho, Miguel.
— Ele tinha asas.
— Anjos tem asas.
— Espera, você disse Miguel?
— Sim. – Assenti positivamente.
— Tipo o que expulsou Lúcifer? Aquele Miguel?
— Aquele Miguel.
— Meu Deus! – Ela colocou uma mão sobre a boca.
— Podemos ir?
— Ir, claro. Eu acabei de ver um anjo.
— Arcanjo. – Corrigi.
— Detalhe.
Depois de muito esforço e perguntas idiotas respondidas finalmente consegui tirar Diana dali e levá-la até o carro.
***
As ruas de São Francisco estavam calmas e silenciosas. Diana me olhava pelo canto do olho quando ela achava que eu não estava olhando.
Respirei fundo e a encarei.— Vai, pode perguntar.
— Como você caiu?
— Eu fui derrubado em combate. Não cai.
— Uh, certo, desculpe, como você foi derrubado?
— Só me lembro que estava lutando contra Uriel e Miguel veio ajudá-lo. Depois Miguel me baniu para cá.
— Você não se lembra de nada? Digo, detalhes?
— Não.
— Como é lá?
— Lá aonde?
— O céu. Como é?
— Bem é...
Comecei a me sentir tonto novamente, mas dessa vez a tontura estava mais forte e veio acompanhada de pontadas na cabeça. Fechei os olhos para tentar afastar a dor e quando os abri, meus olhos brilhavam em um tom de amarelo escuro e eu tive uma visão. Não sei como, mas de algum modo fiz um Transporte de Conciência e vi o Céu. Meu lar estava um caos. Tinha fogo para todos os lados, gritos e anjos sendo mortos aos montes por demônios. Miguel brandia a espada que me ameaçou minutos antes, e matava ordas de demônios sedentos de sangue. Arcanjos e anjos lutavam juntos para poderem manter o que ainda restava do céu.
Procurei por minha Tenente em meio a confusão. Muriel, estava sentada com as costas apoiada em uma parede com uma espada de ossos atravessando o abdômen. Seus cabelos loiros curtos estavam na frente do rosto como se fizessem uma cortina para os seus olhos laranja. Quando me viu, sua expressão suavizou e ela deu um meio sorriso.— General?! Senhor, estamos...– ela respirou fundo para tentar aliviar a dor – estamos sob ataque. Lúcifer mandou seu exército de demônios atrás da Chave de Salomão. Me escute: encontre a Chave antes de Lúcifer – ela gritou de dor enquanto retirava a lâmina demoníaca da sua barriga e sangue dourado escorria por entre os dedos da mão que estavam em cima do ferimento – ela foi escondida na Terra. General, assim que Lúcifer descobrir que um de nós caiu, ele não vai descansar até encontrar o anjo que escapou do ataque ileso. O senhor precisa da sua graça de volta para proteger a si mesmo e proteger a humana que está com você, eles virão atrás dela. Diana é descendente de Caim, por isso ela tem inclinação para se tornar um dos Cavaleiros Infernais. Se Lúcifer tiver a chave e ela, ele vai poder transformá-la em um de seus demônios e isso traria a destruição total. Por isso você precisa protegê-la, General.
— Muriel, o que você está dizendo?
— Não tenho tempo de explicar, senhor. Me escute: disseram que senhor caiu porque precisava aprender a amar os humanos, entretanto essa não é sua única missão.
— Como sabe disso?
— Porque ouvi os Arcanjos conversando sobre você ser o escolhido pelo nosso pai para essa missão e não um deles. Restaure sua graça e encontre a Chave antes de Lúcifer e proteja Diana!
Não entendia o que estava acontecendo, eu estava de volta em casa mas não necessariamente. Sabia que ainda estava preso na Terra porque ouvia Diana me chamar e sentia ela sacudir meu braço, mas mesmo assim, ainda podia ver meu lar ser atacado e sentir a dor de meus irmãos. Não entendia como mesmo caído, tinha poder suficiente para fazer o Transporte.
Ainda preso naquela confusão ouvi Muriel dar um grito em um esforço para ficar de pé e lutar.
Os olhos de Muriel brilharam em azul celeste e ela abriu as asas pondo-se de pé. Depois disso tudo aconteceu rápido demais. Um demônio veio correndo na direção da minha Tenente e antes que ela pudesse conjurar seu arco, uma faca de ossos a atingiu no meio das costas com tanta força que eu conseguia ver a ponta da lâmina saindo no meio de seu peito.— Muriel! – Gritei.
Sangue dourado começou a escorrer pela sua boca, então ela se virou para mim e sorriu.
Os olhos de Muriel brilharam mais intensos e uma luz branca saiu de seu corpo. Enquanto via o corpo dela se chocar contra o chão e então lágrimas escorreram pelo meu rosto. Muriel era uma de meus alunos em treinamento. Sempre tive um afeto por ela, um sentimento de irmão mais velho. Protegê-la sempre foi minha prioridade, mas agora não importava mais a conexão familiar que eu tinha estabelecido com ela. Muriel estava morta.
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Anjo Meu
Fantasy🔹TRILOGIA ANJO MEU - LIVRO I🔹 "[...] ela estava concentradíssima em limpar meu ferimento. Seus olhos castanhos escuros estavam focados e sua expressão mesmo séria, não conseguia esconder a garota alegre e divertida que ela era; seus lábios, os qua...