IV - Eu recebo uma missão

11K 1K 194
                                    

A estudei com cautela. Não tinha certeza se ela havia ouvido minha discussão com Miguel, se tinha apenas visto o Arcanjo voltar para casa ou os dois juntos.

— Diana? Tudo bem?

— Quem era aquele? E por que ele era gigante e tinha asas?

— Era meu irmão mais velho, Miguel.

— Ele tinha asas.

— Anjos tem asas.

— Espera, você disse Miguel?

— Sim. – Assenti positivamente.

— Tipo o que expulsou Lúcifer? Aquele Miguel?

Aquele Miguel.

— Meu Deus! – Ela colocou uma mão sobre a boca.

— Podemos ir?

— Ir, claro. Eu acabei de ver um anjo.

— Arcanjo. – Corrigi.

— Detalhe.

Depois de muito esforço e perguntas idiotas respondidas finalmente consegui tirar Diana dali e levá-la até o carro.

***

As ruas de São Francisco estavam calmas e silenciosas. Diana me olhava pelo canto do olho quando ela achava que eu não estava olhando.
Respirei fundo e a encarei.

— Vai, pode perguntar.

— Como você caiu?

— Eu fui derrubado em combate. Não cai.

— Uh, certo, desculpe, como você foi derrubado?

— Só me lembro que estava lutando contra Uriel e Miguel veio ajudá-lo. Depois Miguel me baniu para cá.

— Você não se lembra de nada? Digo, detalhes?

— Não.

— Como é lá?

— Lá aonde?

— O céu. Como é?

— Bem é...

Comecei a me sentir tonto novamente, mas dessa vez a tontura estava mais forte e veio acompanhada de pontadas na cabeça. Fechei os olhos para tentar afastar a dor e quando os abri, meus olhos brilhavam em um tom de amarelo escuro e eu tive uma visão. Não sei como, mas de algum modo fiz um Transporte de Conciência e vi o Céu. Meu lar estava um caos. Tinha fogo para todos os lados, gritos e anjos sendo mortos aos montes por demônios. Miguel brandia a espada que me ameaçou minutos antes, e matava ordas de demônios sedentos de sangue. Arcanjos e anjos lutavam juntos para poderem manter o que ainda restava do céu.
Procurei por minha Tenente em meio a confusão. Muriel, estava sentada com as costas apoiada em uma parede com uma espada de ossos atravessando o abdômen. Seus cabelos loiros curtos estavam na frente do rosto como se fizessem uma cortina para os seus olhos laranja. Quando me viu, sua expressão suavizou e ela deu um meio sorriso.

— General?! Senhor, estamos...– ela respirou fundo para tentar aliviar a dor – estamos sob ataque. Lúcifer mandou seu exército de demônios atrás da Chave de Salomão. Me escute: encontre a Chave antes de Lúcifer – ela gritou de dor enquanto retirava a lâmina demoníaca da sua barriga e sangue dourado escorria por entre os dedos da mão que estavam em cima do ferimento – ela foi escondida na Terra. General, assim que Lúcifer descobrir que um de nós caiu, ele não vai descansar até encontrar o anjo que escapou do ataque ileso. O senhor precisa da sua graça de volta para proteger a si mesmo e proteger a humana que está com você, eles virão atrás dela. Diana é descendente de Caim, por isso ela tem inclinação para se tornar um dos Cavaleiros Infernais. Se Lúcifer tiver a chave e ela, ele vai poder transformá-la em um de seus demônios e isso traria a destruição total. Por isso você precisa protegê-la, General.

— Muriel, o que você está dizendo?

— Não tenho tempo de explicar, senhor.  Me escute: disseram que senhor caiu porque precisava aprender a amar os humanos, entretanto essa não é sua única missão.

— Como sabe disso?

— Porque ouvi os Arcanjos conversando sobre você ser o escolhido pelo nosso pai para essa missão e não um deles. Restaure sua graça e encontre a Chave antes de Lúcifer e proteja Diana!

Não entendia o que estava acontecendo, eu estava de volta em casa mas não necessariamente. Sabia que ainda estava preso na Terra porque ouvia Diana me chamar e sentia ela sacudir meu braço, mas mesmo assim, ainda podia ver meu lar ser atacado e sentir a dor de meus irmãos. Não entendia como mesmo caído, tinha poder suficiente para fazer o Transporte.
Ainda preso naquela confusão ouvi Muriel dar um grito em um esforço para ficar de pé e lutar.
Os olhos de Muriel brilharam em azul celeste e ela abriu as asas pondo-se de pé. Depois disso tudo aconteceu rápido demais. Um demônio veio correndo na direção da minha Tenente e antes que ela pudesse conjurar seu arco, uma faca de ossos a atingiu no meio das costas com tanta força que eu conseguia ver a ponta da lâmina saindo no meio de seu peito.

— Muriel! – Gritei.

Sangue dourado começou a escorrer pela sua boca, então ela se virou para mim e sorriu.
Os olhos de Muriel brilharam mais intensos e uma luz branca saiu de seu corpo. Enquanto via o corpo dela se chocar contra o chão e então lágrimas escorreram pelo meu rosto. Muriel era uma de meus alunos em treinamento. Sempre tive um afeto por ela, um sentimento de irmão mais velho. Protegê-la sempre foi minha prioridade, mas agora não importava mais a conexão familiar que eu tinha estabelecido com ela. Muriel estava morta.

Anjo MeuWhere stories live. Discover now