I23I - Consequências

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Ele soltou meus pulsos.

A reação tinha sido quase instantânea.

- Então diga-me quem é, Aysha Nowak. – Falou de forma lenta, analisando meu rosto tão vagarosamente que me custou manter uma expressão dura. - Porque pensei que houvesse dito que não era uma assassina.

Eu o encarei, olhei sem medo em seus olhos cintilantes, porque ele não poderia estar mais errado.

A letargia da luta foi lentamente desaparecendo e quando percebi o que tinha feito esperei o medo atingir meu corpo como um soco no estômago. Mas ele não veio, eu não estava arrependida e quis dizer cada palavra.

Encontrei os olhos de Kaydor, ainda caído no fim do salão e vi medo. Não medo por mim, mas de. A coisa maldosa em meu interior gostou daquilo, como da sensação de ter mesmo que por apenas um momento assustado ao Lobo também.

Alisei meus pulsos dissipando a sensação de suas mãos. Então dei um passo, ficado rosto a rosto com ele. Aproveitando toda a súbita coragem que eu tinha ganhado, aproveitando todo poder que meu lado obscuro pudesse me conceder.

Eu não era uma garota boa, como já tinha falado diversas vezes e já bastava de tentar fingir isso.

- Você queria um acordo, então aqui está a minha proposta: uma vida, por uma vida. Chega de joguinhos. Chega de tentar me manipular ou colocar outras pessoas no meio disso. Quer saber quem eu sou? Sou a maldita garota humana que vai dar cabo de cada Lican desse lugar se continuar a me provocar.

- Palavras bem corajosas, devo admitir, mas como Aysha faria isso? - De novo, havia aquele brilho de desafio em seus olhos, o mesmo de quando havia me desafiado a atirar aquela flecha fracassada. Pude ver o desconforto em seu corpo, a inquietação em seus punhos cerrados.Tirei todos os proveitos disso.

- Esse é um teste em que você não quer ver o resultado. – Comecei, sentindo as gotículas do sangue de Ângela escorrerem. – Olhe para mim Lobo, olhe para o sangue em meu rosto, parece que estou mentido? – Perguntei firme, apesar de não ter certeza de como faria, nem se era mesmo capaz de cumprir minha promessa. Mas havia algo falta de palavras melhores, primitivo, que me dizia que eu era capaz e isso não tinha nada haver com que eu escondia na minha caixinha.

- Acredito que não entenda o quão bondoso tenho sido para ti. – Falou, irritação queimava em seus olhos. Pude sentir sua magia pulsante, alfinetadas percorreram por minha coluna.

- Como tem sido bondoso para mim? – Perguntei de forma irônica. – Porque acho que um 'Já é o suficiente' teria sido útil, mas você continuou entretido no seu trono para ver até que ponto chegaríamos. Como fez quando me forçou a lutar com Kohina. Então não me venha com a porra de que esta sendo bondoso para mim. Porque eu não vejo nenhuma bondade. Não que eu achasse que seria diferente afinal, você é o Lobo. – Falei, cuspindo as palavras.

E nada mudaria aquilo. Mesmo que internamente eu pudesse ser um monstro também. Tudo era culpa dele. Pelo menos era isso que eu queria pensar no momento, porque não queria admitir que tinha chegado tão longe, que teria matado Ângela e não sentiria remorsos por isso.

Você não sabe quem sou, era o que eu havia falado, quando o certo na verdade era Você não sabe o sou capaz de fazer.

A nítida lembrança do sangue em minhas mãos reapareceu em minha mente.

Ele respirou fundo, recuperando seu autocontrole.

- Quando tentou fugir, sendo amparada por aqueles Miticovianos, você quebrou uma das muitas regras do Scriptum Lycanthropy. – Começou. – Sendo minha noiva, você também é parte da minha propriedade.

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