Um dos cavalos da carruagem relinchou, eram dois belos animais de pelo marrom e crina negra. O cocheiro já aguardava com rédeas em mãos, vestido em preto com um lenço laranja no pescoço e chapéu. Olhei para o Lobo que me aguardava segurando a porta da carruagem. Talvez tivesse feito a pergunta errada toda esse tempo.

Entrei na carruagem me afastando o tanto que pude para a porta inversa. O céu cinzento era uma leve ameaça que a chuva poderia retornar, felizmente a carruagem fechada não me dava espaço para me preocupar com ela. O Lobo entrou e fechou a porta, sentando no banco a minha frente.

Entramos em movimento.

Assim como o exterior o estofamento era inteiramente preto, macio ao toque, fiquei o alisando enquanto olhava para fora, as árvores tinham o verde que somente o solo molhado proporcionava. Comecei a ficar ansiosa, nunca tinha saído de Sweney Pines, nunca tinha visto uma cidade. Possibilidades rodavam em minha cabeça.

- Quanto tempo demoraremos para chegar? - Me encontrei perguntando. Não olhei para ele, evitar seus olhos sempre me pareceu à decisão mais sábia.

- Três horas. - Respondeu.

Aquela foi nossa única conversa nas duas horas que se passaram. Comecei a trocar de posições no banco, minha bunda tinha começado a doer. Estiquei meus pés o apoiando no banco da frente, bem longe do Lobo que se mantinha concentrado olhando para sua própria janela, cruzei os braços e fechei os olhos.

- Primeira lição do seu treinamento. - Falou, me obrigando a abrir os olhos e lhe olhar rapidamente. O que podia me ensinar lá dentro? Não tinha espaço nem para lhe chutar decentemente.

- Sente com a coluna reta, junte os joelhos e coloque as mãos sobre o colo, uma encima da outra.

- O que? - Minha resposta foi automática.

- Não consegue memorizar nem um comando simples? - Perguntou arrogante.

- Escutei perfeitamente bem, só não entendo como isso é parte de um treinamento para me fazer matar alguém - Falei. Não que realmente fosse matar alguém para ele, isso estava fora de cogitações, mas ele não precisava saber.

- Não chegara nem perto do meu alvo se continuar com essa postura desleixada.

- Quem é o seu alvo? – Perguntei.

- Faça como mandei. – Exigiu.

Relutante fiz como mandou, joelhos juntos, coluna reta, mãos sobre o colo. Veja só, apenas a boa garota de sempre.

- Está bom para você agora? - Perguntei.

- Não. - Respondeu, e mesmo assim não acrescentou mais nada voltando a olhar para sua janela.

Bem dois podiam fazer a mesma coisa.

Passamos por um solavanco e então o terreno mudou. Coloquei a cabeça para fora da janela e vi que estávamos sobre uma estrada de pedras. Um corredor de árvores em plena floração se estendia mais a frente, as flores rosadas desabrochavam deixando pétalas caírem pelo terreno. Quando o passamos, sol brilhou iluminando o que nem meus melhores pensamentos foram capazes de imaginar para uma cidade. Cores resplandeceram em tons que eu nunca havia visto nas flores e nos prédios, carruagens e pessoas inundavam as ruas, odores novos se estendiam pelo ar. Coisas que nunca havia visto pediam para serem exploradas. Quis saltar da carruagem ali mesmo.

Inusitadamente minhas bochechas começaram a doer, eu estava sorrindo. Não me lembrava da última vez de ter sorrido espontaneamente. Voltei para dentro me deparando com o Lobo me encarando.

- O que foi? – Perguntei.

- Nada. – Disse e virou o rosto. Depois de um tempo sua voz preencheu o silêncio. – Estamos na Cidade do Leste, ás arvores pelas quais passamos antes eram cerejeiras, por isso também chamam esse lugar de Distrito das Cerejeiras. – Falou, concordei com a cabeça, ainda encantada com cada centímetro de terreno inexplorado por meus olhos.

VermelhoHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin