I11I - Espelho

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A porta do quarto rangeu quando a abri, talvez fosse otimismo pensar que o quarto estaria limpo e brilhante. Bem, ele não estava.

A primeira coisa que fiz foi travar a porta com uma cadeira, não havia chave. Depois abri às cortinas tossindo pela poeira que elas levantaram, as cortinas eram pesadas e bordadas com desenhos de flores em tons dourados e avermelhados, o tecido era marrom e envelhecido. Os vidrais da janela estavam trincados em alguns pontos nas laterais, fazendo com que alguma luz do sol ilumina-se o quarto. Assim como os cômodos a quais eu havia percorrido, todos os moveis tinham sido cobertos.

Puxei o lençol que cobria o armário, outro que cobria a mesa a qual tinha raptado a cadeira, o que cobria a penteadeira e por fim um que cobria um espelho de chão. Assim como o espelho da casa de Ethan este tinha bordas esculpidas, não em madeira, mas em metal no formato de folhas e galhos. Não gostei nem um pouco do reflexo que vi e o cobri novamente. Talvez tentasse de novo quando tomasse um banho.

Fui até o armário, três pálidas camisolas e um vestido amarelo de mangas curtas estavam pendurados. Abri a única porta que estava dentro do quarto, indo para um cômodo anexo, um quarto de banho, com uma única prateleira e uma banheira. Havia potes bonitos na prateleira, a maioria tinha o conteúdo no fim. Desejava saber quem tinha morado nesse lugar e que fim levou.

Dolorida demais para começar a limpar o quarto e suja o bastante para desejar pela banheira removi a cadeira da porta e fui em busca de água nos poços. Encontrei a cozinha mais rápido que imaginei, como prometido a porta que levava para fora da casa estava aberta. O sol estava alto e quente o bastante para me dizer que já tinha passado da hora do almoço, meu estomago se contorceu em fome. A cozinha como o restante da casa tinha sido abandonada, não teria nada de comestível.

Os assuntos já encaminhados primeiro, me resolveria com o banho e depois encontraria algo para comer. O poço estava bem visível mesmo sobre a grama alta e descuidada, me afastando pude ver os fundos da casa. Era enorme, tinha um segundo andar, todas as janelas tampadas com tábuas pelo lado de dentro. Heras subiam pelas paredes, não de forma bonita como no jardim que tinha visto mais cedo, essas heras pareciam mais reais, de um verde ordinário se amarrando as paredes clandestinamente.

Com apenas metade da banheira completa, me despi e entrei na água fria, meus músculos relaxaram imediatamente. Nada melhor para um dia que tinha começado em uma cela escura e úmida. Um dia que tinha descoberto que era supostamente noiva da coisa que mais temia encarnada em um rosto bonito.

Pensar nisso me pôs doente, de todas as coisas horríveis que imaginei que aconteceriam comigo depois de cruzar o limite, está era a mais ridícula. Claro que tudo não passava de uma fachada para seu verdadeiro plano e quanto a dizer que eu não tinha escolha...

Ah, ele estava profundamente enganado.

Mesmo que fosse um monstro e possuísse poderes inimagináveis, ninguém me forçaria a fazer algo que eu não quisesse.

Por fim tive que vestir o vestido que havia encontrado no armário, não me lembrava da última vez que tinha posto um, provavelmente quando era criança. Ficar de vestido realmente incomodava, me dava à sensação de estar vulnerável, no entanto, era isso ou vestir minhas roupas molhadas. Tinha as lavado na água da banheira e as posto para secar penduradas nas portas abertas do armário.

Calcei minhas botas e descobri o espelho, era grande o suficiente para me dar uma visão completa do meu corpo. O vestido não tinha me servido bem, as mangas ficaram caídas em meus ombros deixando a marca de tons roxos e amarelados da mão de Ângela à vista. O comprimento mal chegava ao meu tornozelo. A frente parecia ter muito tecido, culpa da falta de atributos naturais. Não era como se eu quisesse ficar bonita de toda forma, nem sei a principio porque me preocupei com minha aparência, no entanto, fazia tanto tempo em que eu não reparava em mim mesma.

VermelhoWhere stories live. Discover now