Capítulo 35

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Puxo o ar como se fosse a primeira vez em que respiro durante muito tempo. O ar entra pesado e doloroso por meus pulmões me fazendo tossir antes de me acostumar e conseguir respirar novamente.

Mal consigo abrir o olho e já quero fecha-lo de novo, a dor em minha cabeça lateja com o ato. Levo mais alguns segundos até conseguir entender que estou na sala dos meus avós, há pessoas á minha volta, minha família. Eles falam baixo e param para me observar.

A mão delicada de Andy toca meu combro me fazendo deitar de novo no sofá.

- calma ai. – diz ele baixo a minha frente. Procuro seus olhos verdes, procuro a familiaridade e a doçura e fico aliviado por encontrar sua gentileza habitual. – tudo bem. – afirma ele para me acalmar.

Concordo devagar com a cabeça, limitado pela dor e olho em volta. Está de manhã, a luz que vem das janelas é pálida o que me faz pensar que não há sol além de nuvens densas. Amy está ajoelhada ao lado do corpo de Nick e da minha avó no chão, as mãos estendidas em luz fraca azulada. Eles parecem melhores, vivos, mas meu ar prende novamente involuntário ao vê-los.

Algo como desespero cresce dentro de mim, olho ao redor ainda mais ansioso. Rose está na poltrona habitual do meu avô, ela tem os olhos fechados e acho que dorme, é difícil saber. Pelo menos está inteira e curada, a única prova de que estava ferida são as roupas rasgadas e manchadas de sangue seco.

Meu avô está parado perto da janela, o mais perto possível dos pés da minha avó. Ele me olha preocupado, mas parece cansado demais para demonstrar ou falar algo.

Por fim vejo meus pais. Atrás do sofá onde estou, me encarando fixamente, preocupação e medo e desespero e qualquer outra coisa que não consigo identificar estão em suas expressões. Meu pai tem o braço ao redor do ombro da minha mãe, claramente a apoiando, a consolando. Ele parece bem em comparação a ultima vez que o vi, não há resíduos de ferimentos além de sua camisa chamuscada.

Vejo minha mãe soltar o ar quase com alivio quando meus olhos vão para ela, algo derrete em meu peito e todo o desespero se transforma em dor e culpa. Ela aperta o lábio para não chorar, deve ter chorado muito porque tem olheiras altas e escuras. Procuro rapidamente algum ferimento nela e não encontro nenhum, não encontro nada além de sua apreensão.

- James? – Andy me chama fazendo que eu me volte para ele, para seu belo rosto angelical, para os olhos cor do mar que me estudam. – como está se sentindo?

Abro a boca para falar uma vez já tentando me sentar e o que sai é um gemido de dor. Meu corpo parece ter sido moído e depois colado, mole e dolorido, fraco com os nervos rígidos.

Meu pai e Andy me ajudam a sentar, respiro fundo e devagar me odiando por estar um trapo.

- como se... – até minha voz faz minha cabeça doer. – tivesse sido jogado no liquidificador.

- se você se sente idiota por isso, então tudo bem. – Andy solta rancoroso, o olho com culpa.

- consegue se lembrar de tudo? – meu pai pergunta agachando a minha frente.

Olho para ele, soa estranho seu carinho imediato quando ele mal falava comigo a horas atrás. Porem fico feliz, não vou reclamar.

- sim. – me forço a pensar. – Azazel? – pergunto falho, com receio.

Meu pai balança a cabeça, os cachos estão grudados na testa e os olhos azuis grandes estão cansados.

Trinco os dentes de modo que faz minha cabeça doer mais. Resmungo colocando a mão nela.

Símbolos de Sangue (Livro 2 da saga "Anjos da Terra")Onde as histórias ganham vida. Descobre agora