Capítulo 29

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Estou deitado olhando o céu cinzento acima, não sei por quanto tempo fiquei ali. Horas ou dias?

A tempestade cessou, transformando-se em uma garoa fina e fria. Olho para minhas mãos cobertas de algo espesso e percebo que não é bem terra e sim neve. Ela não cai do céu, mas se transforma ao meu redor, o gelo solidificando ao contato da terra e ar.

Nunca havia pensado no gelo como um elemento em si. O frio nunca fez muita parte de mim, mas neste momento posso entender porque ele está presente, porque me representa. O desespero, a desolação, a confusão e a tristeza estão mais presentes do que nunca.

Levar Andy, Livia, Cal ou Chris para aquilo era algo, eles eram crescidos, eram cientes. Mas isso é totalmente diferente, é um ser novo, inconsciente, inocente e eu sei. Eu sei com toda minha alma que ele está fadado.

Um filho de um Nefilim hibrido com um príncipe do inferno, um ex-serafim, um anjo.

Minha mãe me contou historias sobre como as coisas funcionam para os ocultos, sobre como alguns são movidos pelo medo. Eu temo por esta criança mesmo agora, sei que ela não poderá viver em paz.

Não mais do que meus avós, minha mãe, ou eu, ou até a garota Nefilim que Alastair amava.

Sinto a repentina necessidade de nega-la, de alguma forma acabar com isso. Mas logo me sinto péssimo por isso.

Azazel estava certa sobre me conhecer, ela me estudou minuciosamente antes. Planejou isso sabendo que eu jamais a negaria, a abandonaria. Ela planejou tudo muito bem.

O céu está escurecendo e penso que tenho apenas mais um dia para decidir o que fazer, provavelmente Zeus vira na próxima noite.

Meu celular toca, tocou varias vezes e eu não pude atender. Sei que se quisessem já tinham me achado, estão tentando me dar espaço, mas preocupados demais para dá-lo totalmente.

Fecho os olhos e reprimo a angustia de pensar em voltar. Não quero encara-los, meus pais, meus avós, meus tios, Andy...

Céus Andy. Ele deve ter surtado, deve estar ainda pior do que eu. Preciso vê-lo, preciso falar com ele...

Levanto-me mais devagar do que pretendo porque estou levemente zonzo pela energia que gastei com minha explosão.

Dou uma olhada em mim mesmo e sinto vergonha do meu estado deplorável. Minha roupa está coberta de terra e gelo, há partes chamuscadas também o que me faz suspirar.

Não posso ir para casa neste estado, só pioraria as coisas. Penso por um momento antes de tomar um desvio.


Entro na loja de Cal sem muito cuidado, observo o escuro ao redor antes de ascender as luzes.

É tão vazio e triste agora.

Percebo o quanto sinto falta dele, o quanto ele me ajudou e ajudaria muito mais.

Suspiro e adentro, a sala continua grande demais e cheia de livros demais. Vou até a cozinha e faço o que sei que Cal faria, chá. Pego uma roupa mais discreta dele no guarda roupas e a visto com um pouco de pesar. Ficam um pouco largas, mas não me importo, de alguma forma aquilo me fazia sentir que ele ainda estava por perto.

Quando volto para a sala não me surpreendo ao vê-la sentada em uma das poltronas vermelhas de veludo, a lareira acesa transmite uma sensação falsa de calma.

- é meio rude entrar na casa dos outros assim. – digo oferecendo uma xicara de chá para ela que aceita enquanto sento na poltrona à frente.

Seus olhos cinzas me avaliam mais controlados agora.

Símbolos de Sangue (Livro 2 da saga "Anjos da Terra")Onde as histórias ganham vida. Descobre agora