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CHARLIE — 1945 — ENGLAND

PENÚLTIMO


Assim que voltamos pra casa Alex insistiu que precisava sair, acabei aceitando mesmo estando morrendo pela curiosidade, enquanto Hope brincava na sala eu tentava me atualizar. 

— Charlie? 

Quando a porta foi aberta por ele, ergui a sobrancelha olhando em sua direção completamente desconfiada e logo um sorriso se formou em seus lábios enquanto ele se aproximava selando nossos lábios. 

— Eu sei que odeia quando te deixo curiosa, mas é uma surpresa. 

— Odeio surpresas. 

— Talvez você goste dessa. 

Ele tateou pelo bolso e logo tirou uma pequena caixa abrindo de uma vez mostrando o anel, não vou mentir, já havia imaginado esse momento milhares de vezes, até pensado na reação perfeita, mas agora de frente com a situação senti toda minha irracionalidade aflorar e minha garganta secou e meus olhos se encherem de lágrimas, tudo isso em questão de segundos. 

— Eu comecei a pagar a um mês atrás— segurou minha mão — não tem ideia como estava me matando não te contar logo. 

Deixei que ele deslizasse o anel delicado em meu dedo e deixar um beijo suave em minha mão, continuei olhando com um sorriso completamente idiota e me aproximei pra abraçá-lo e encher seu rosto de beijos. 

— Não precisava ser algo caro. 

— Precisava sim, eu sei que não liga pra isso, mas eu quero que você tenha pelo menos alguma coisa de valor, não sabemos o dia do amanhã, quando outra guerra pode...

Pousei meu dedo indicador em sua boca o impedindo de continuar com suas paranoias, deslizei a mão até sua nuca o trazendo pra perto lhe dando um beijo demorado me colocando em seu colo. 

— Não ouse ser pessimista do meu lado, Alex— Acabei sorrindo— eu te amo. 

— Eu sei que você me ama, baby, não te culpo por isso. — Ele disse convencido 

— Deveria me agradecer por te aguentar. 

— Au, isso doeu, nem parece que acabei de te pedir em casamento. 

Antes que eu o beijasse novamente escutamos Hope pedindo por atenção, me aproximei a pegando no colo e beijando seu rosto tirando o emaranhado dourado pra ver melhor seus traços. 

No dia seguinte antes que eu saísse de casa um homem quase desesperado vinha ao meu encontro, dei um passo pra trás em pura desconfiança e depois de respirar fundo ele finalmente começou a falar. 

— Charlie Blanc?

— Sim, algum problema? 

— Estivemos procurando pela senhora essa semana, queremos permissão pra enterrar o corpo de Charles Blanc, você é a única parente viva. 

Meu pai. Eu havia esperado por esse tipo de notícia desde seu desaparecimento, até me imaginava não estar surpresa quando viesse, mas de qualquer forma, doía profundamente, como se acabasse de abrir uma ferida cicatrizada. 

— É o meu pai... O-Onde ele está? 

— Apenas aguardando o reconhecimento, morreu a uma semana e meia. 

— Só?

— Pode ir nesse endereço— Me entregou um papel— estão aguardando algum familiar. 

Assenti sentindo um vazio estranho, não deixei o tempo passar e fui direto para o reconhecimento, ver seu corpo foi um dos piores momentos que pude presenciar, não deixei as lágrimas caírem a realidade é que gostaria de gritar até minha garganta não aguentar mais. 

  — Lamento— Uma mulher parou ao meu lado— Ele tinha algumas coisas escritas, se quiser... 

  — Ah, eu quero, alguém sabe o motivo da morte? 

— Depressão, ele não aguentou tudo que viu na guerra depois de ser pego pelos nazistas— me encarou— quando o resgatamos, ele mal comia. 

— Obrigada. 

De volta ao jornal com uma caixa cheia de folhas com sua letra quase perfeita, soltei um suspiro ao ver meu nome na frente de um envelope. 

Minha pequena Charlie, 

Já perdi as esperanças de te ver de novo, mas a única coisa que desejo é que um dia isso chegue as suas mãos. 

Espero que aproveite o melhor da vida, que ame como se não houvesse amanhã, possa escrever até seus dedos cansarem e seja cheia de sorrisos até envelhecer, principalmente, que possa viver fora desse inferno que é a guerra, porque você merece o melhor... Sentirei sua falta até meus últimos dias, te amo... ass: papai. 

 

 Acabei sorrindo vendo que havia algo de positivo mesmo nos seus piores dias, algo em mim estava em paz por finalmente saber sobre ele, mesmo que seja da pior forma. 

  — Charlie? 

Assim que ergui o olhar, pude ver Alex se aproximando, fiquei confusa com sua surpresa, mas ainda o abracei querendo sumir por um segundo nos seus braços. 

— Senti algo estranho, decidi passar aqui no meu almoço, tudo bem? 

— Meu pai, ele apareceu— O encarei— infelizmente, não resistiu a tudo que aconteceu.

— Lamento— Beijou o topo da minha cabeça— é estranho, mas parece que eu sabia que havia algo de errado. 

  — Será que isso significa que somos almas gêmeas? 

— Pare de ler romances idiotas, Charlie— Ele debochou 

Acabei rindo e deitei a cabeça no seu peito novamente, sentindo que gostaria de fazer exatamente o que meu pai havia dito e que iria guardar comigo apenas o melhor dele. 


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DEMOREI PORÉM ESTOU AQUI, PRÓXIMO CAPÍTULO SERÁ O ULTIMO, VAI TER CASAMENTO E MUITO CHORO AAAA

MERCYOnde as histórias ganham vida. Descobre agora