16

3.2K 339 296
                                    

UM MÊS DEPOIS 

PART II 

DEAD MEN TELL NO TALES

Estavam todos evacuando Dunkirk as pressas, mesmo o poder alemão tendo perdido completamente as forças em Paris, a fronteira com Alemanha na pequena cidade dificultava qualquer avanço das tropas que já estava com baixas o suficiente. 

Enquanto enchiam o navio, Joe e Paul estavam lado a lado ajudando as enfermeiras com as bagagens, mas logo o mais alto Joe parou no meio do caminho olhando para os lados confuso. 

— Joe, não temos tempo pra apreciar a paisagem — Paul o apressou 

— Você viu o Alex? 

— Deve estar se despedindo da cozinheira, anda logo. 

Depois de soltar um suspiro, ele continuou ajudando, no final fez questão de voltar a pensão procurando algum sinal dele, por mais que ainda soubesse que todas as dores que sente Alex é um dos responsáveis por ter abandonado o posto, nunca o deixaria pra trás e sentia o desespero bater ao ver que não havia sinal nenhum dele. 

— Senhor— chamou atenção do general— não consigo achar nenhum sinal do Alex. 

O general comprimiu os finos lábios soltando uma respiração pesada, odiava ter que admitir a si mesmo que ele era um soldado que faria uma grande falta, pediu para que fizessem uma rápida varredura ao redor do local e Joe imediatamente se arriscou se aproximando das fronteiras, logo encontrava Alex se rastejando sem forças e ensanguentado. 

— Alex!— ele se abaixou na sua frente— onde você estava? 

— Me...desculpa — ele sussurrava— me desculpa, Joe. 

— O que aconteceu? 

— Eles me fizeram falar sobre o trajeto e... e eu não aguentei, falei sobre metade dos planos, mas consegui fugir, vocês tem que sair agora! 

Ele engoliu em seco ainda olhando nos olhos verdes desesperados, logo o apoiou no ombro tentando apressar o passo pra longe e avisar da partida. 

— Não vai conseguir chegar rápido comigo!

— Te deixar não é uma opção, Alex.— O encarou — então use o resto das suas forças. 

Alex respirou fundo, tentando apagar todas as lembranças odiosas de tortura e mesmo com seu corpo completamente exausto, conseguiu apertar os passos ao lado do companheiro, assim que chegaram, eles deram as notícias e o navio se apressava pra abandonar imediatamente e logo forças aéreas eram acionadas para a proteção. 

Dentro do navio, Alex olhava para os ferimentos longe de todos sentindo a culpa pesar nos ombros, todas as imagens passavam em sua cabeça feito um pesadelo em tempo real, como se tivesse deixado um pedaço dele com os nazistas que riam de todo o seu desespero e dor. 

— Peguei algumas coisas pra fazer os curativos, as enfermeiras estão ocupadas— Joe se agachava ao seu lado 

— A culpa vai ser minha se algo acontecer... 

— Você é o cara mais orgulhoso que eu conheço— ergueu o olhar pra encará-lo— nem quero imaginar o que ele fizeram pra conseguir que você falasse. 

Alex mordeu o próprio punho tentando afogar o grito de dor quando sentiu o curativo em sua barriga, olhou pra cima vendo o céu nublado e realmente desejando que houvesse algum deus que pudesse  salvá-lo, passou a mão pelo pescoço e sentiu além do seu colar usual de família o de Charlie, por um momento desejando que as únicas lembranças que tivesse de Dunkirk fosse as com ela, mesmo suas dores tornando essa missão impossível. 

Mas logo seus desejos viraram cinzas feito o navio, já que ocorria o ataque aéreo alemão e talvez esse fosse seus últimos suspiros e estava satisfeito que a última coisa que havia pensado havia sido nela. 

Charlie recebia notícias no jornal em primeira mão para publicar, havia se tornado a primeira quando se tratava sobre a guerra que ocorria mundo a fora entre os aliados e o eixo, mas a caneta caiu de sua mão assim que escutou sobre o último navio de Dunkirk. 

O medo era agonizante, suas mãos estavam trêmulas encima da mesa e mal podia controlar as próprias emoções naquele momento. 

"O resgate ao todo conseguiu nove soldados e uma enfermeira... ainda estão fazendo buscas, mas a força aérea neutralizou o poder Alemão na França junto com os militares franceses..." 

Haviam comemorações, como se não houvesse dezenas de mortos agora, era dolorido saber que muitos haviam virado estatística e ainda mais em saber que a possibilidade que todos virassem números era enorme. 

No dia seguinte, Charlie largou o emprego e correu até o hospital onde teria notícias sobre os soldados, havia um silêncio mórbido e uma jovem mulher chorosa ao canto de um dos quartos. 

  — Com licença, você sabe se os soldados estão nesse andar?

— Estão— sussurrou— todos aqui, amontoados como animais. 

Quando a loira ergueu o olhar ela pôde ver os olhos verdes, exatamente como os de Alex, sentiu um nó na garganta e foi obrigada a forçar a pergunta. 

  — A senhorita conhece Alex Jones? 

— É meu irmão— respirou fundo com dificuldade— está gravemente ferido, corre risco de perder uma perna e você eu conheço bem... Aquela jornalista que foi pra guerra e saiu ilesa, não é? 

Havia um nojo em sua voz por saber que Charlie cumpriu seu trabalho e estava simplesmente bem. 

— Eu sou Charlie Blanc — ergueu a mão— conheci seu irmão. 

— Amelie — A cumprimentou rapidamente — eu... preciso tentar telefonar pra minha mãe, mandar alguma carta— deu de ombros— pode ficar aqui? não quero que ele acorde sozinho. 

Charlie assentiu com uma necessidade imensa de simplesmente ajudar em qualquer situação, mas tinha um suspiro aliviado por saber que  pelo menos ele estava ali, assim que se aproximou da porta pode ver a lista de soldados no lugar, depois de hesitar com medo de não encontrar o nome de seus outros amigos finalmente decidiu ler. 

Joe estava ali, mas nenhum sinal de Paul, sentiu sua visão embaçada pelas lágrimas e não aguentou abrindo a porta e vendo Joe debruçado na maca chorando o mais baixo que conseguia, ela se aproximou o abraçando com força. 

— Charlie... Ele só queria voltar pra casa... Era pra voltarmos juntos... 

Não havia palavras que pudessem consolá-lo, então apenas continuou o abraçando e se sentindo a pessoa mais impotente do mundo, afinal não importava quantos textos bonitos ela fosse capaz de escrever ou o tanto de dinheiro que a família de Paul iria ganhar, nada o traria de volta.  

•••••

part 2 já começando com os babados einnn alguma expectativa?

MERCYOnde as histórias ganham vida. Descobre agora