14

3.1K 357 101
                                    

ESPECIAL DE NATAL PART 1

CHARLIE — 1943 — DUNKIRK

Ainda havia um silêncio completo em Dunkirk, os alemães voltavam a ganhar força, mas a força britânica mandava mais armamento pelo mesmo navio que me levaria de volta, parecia tudo uma rotina e era péssimo estar nela. 

Eu me sentei beira a praia tentando fazer algumas anotações, mas nada tirava minha mente do rosto sem expressão do Alex enquanto atirava naquele garoto. 

"Frieza" "ética" 

 — Ética  — Escutei a voz rouca e debochada

Alex se sentava ao meu lado e eu me afastei um pouco por impulso, mas logo ele segurou meu rosto me obrigando a encará-lo. 

— Imagino que isso se refira a mim, não é?

— Ele era um garoto desarmado, talvez... 

— Eu sei, talvez a gente pudesse mudar a cabeça dele, mas todos esses nazistas são manipulados, se eu não matasse ele agora, provavelmente ele me mataria amanhã ou pior, Charlie... Ele poderia matar você. 

Comprimi os lábios ainda olhando pra ele, Alex é tão imediato, sem pensar, sem hesitar, como se seu dedo estivesse no gatilho vinte e quatro horas.

— O navio vai partir amanhã — Ele desviou o olhar 

— Eu não posso ir, eu ainda tenho... 

— Não — Ele escondeu o rosto nas mãos por um momento— você precisa sair disso e voltar pro seu mundo. 

— A guerra não vai acabar. 

— A guerra nunca chegou a começar pra você— Voltou a me encarar — o seu trabalho é ser uma jornalista, então pode nos ajudar falando sobre como isso aqui é cruel. 

Encostei nossas testas e foi a primeira vez que o vi de fato baixar a guarda pra mim, seus olhos se fecharam e ele soltou uma respiração pesada. 

— Eu não tenho prazer nenhum em matar alguém, mas o seu trabalho é escrever e o meu é atirar.

Quando ele voltou a me encarar vi as lágrimas se acumularem em seus olhos, estava vendo Alex quebrar na minha frente, colei nossos lábios rapidamente e deslizei os polegares embaixo dos seus olhos impedindo que as lágrimas rolassem. 

— Eu vou pras trincheiras amanhã, de forma definitiva e você vai embora — Segurou meu rosto 

Continuei olhando em seus olhos e assenti rapidamente, odiava ter que admitir que ele tem razão, mas eu não queria deixá-lo ir, é tão agoniante a incerteza. 

— E depois daqui vamos seguir viajem, realmente não sei quando eu volto... — Ele finalizou 

E essa foi nosso última dia juntos, eu o abraçava sem vergonha de comentários, não sei como cheguei nessa situação, mas as notícias pareciam o menor dever nisso tudo, odiava a impotência que havia me sobrado, principalmente não suportava ver Alex aceitando o destino. 

De noite abri a porta do seu quarto vendo-o deitado olhando para a janela, me aninhei ao seu lado e seus olhos verdes se desviaram pra mim.  

— Eu vou sentir sua falta. — Admiti

Ele apenas expressou um pequeno sorriso e beijou o topo da minha cabeça, não esperava muitas palavras vindas dele, apenas sentia seu braço me contornar e trazendo meu corpo pra mais perto. 

— Vou estar te esperando — Ergui o olhar pra encará-lo 

— Não vai, Charlie — Ele deslizou a mão pelo meu rosto — eu posso voltar em dois meses, um ano, quatro anos... Ou nunca voltar. 

  — Você realmente precisa de mim, Alex, é muito pessimismo dentro de uma pessoa só 

— E é uma garota muito positiva pra uma guerra. 

Passei a mão pelo meu pescoço sentindo o colar que eu ganhei quando tinha doze anos do meu pai, ele dizia que era o "colar da vitória" ganhou do pai dele que era militar, respirei fundo o tirando e entregando na mão dele que não entendia absolutamente nada.

— Preciso que me devolva isso. — avisei — é muito importante.

— Vale alguma coisa? Posso vender por um bom dinheiro.

Quando um sorriso cínico se formou em seus lábios quis guardar essa imagem pra sempre, com seu jeito implicante que deveria me fazer odiá-lo.

— Bem, se quiser vender, só pode ser na Inglaterra quando voltar.

— Se eu morrer, me prometa que vai falar sobre mim, nem que seja mentiras

Por que eu queria tanto chorar novamente? Respirei fundo não querendo discutir e assentindo.

— Eu prometo, Alex.  

Foi nossa última noite juntos, o silêncio era perturbador, as conversas paralelas no corredor me fizeram odiar aquele lugar e ver Alex dormindo me fez querer que ele apenas não tivesse pesadelos só uma boa noite de sono antes de ser mandado pra longe. 

 Boa sorte — sussurrei 

••••••
especial de natal é só pra falar q minha reunião de família me deu preguiça e escrevi dois capítulos e vou postar agora beijão ❤️

MERCYOnde as histórias ganham vida. Descobre agora