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ALEX — 1944 — ENGLAND

Assim que acordei me vi ainda deitado na cama da Charlie, era impossível me esquecer por um momento sequer que estava ali porque seu perfume foi a primeira coisa que senti ao acordar, ela estava com o rosto contra o travesseiro e os fios loiros bagunçados, deslizei a mão sob seu rosto e aos poucos ela abriu os olhos piscando algumas vezes e me dando um sorriso adorável, naquele momento notei que nessa noite eu não tive pesadelos, foi a primeira em que dormi completamente e nenhum daqueles rostos me vieram a mente, talvez o fato de estar exausto tenha colaborado bastante. 

— Posso me acostumar com isso— ela disse ainda sonolenta 

Aos poucos ela se mexeu saindo da cama e procurando pelo seu vestido o colocando, enquanto abotoava os botões desviou o olhar pra mim corando violentamente, o que me fez gargalhar em seguida. 

 — Não ri, eu fiquei com vergonha— Jogou um travesseiro em minha direção

— Só estava apreciando, baby— falei cínico

— E o senhor trate de colocar uma roupa antes que minha mãe chegue. 

— Acho que vou surpreender ela hoje, o que acha?— Flexionei os músculos rapidamente e ela apenas riu jogando a cabeça pra trás 

— Se veste logo, minha mãe não precisa de um infarto pra começar o ano

Assim que ela saiu do quarto me espreguicei e acabei vestindo minhas calças indo até o quarto de hóspedes pra tomar um banho rápido, no final apenas coloquei uma regata e encontrei Charlie olhando pra cozinha com as mãos apoiadas na cintura. 

— Está admirando a mesa?

— Estava pensando em fazer alguma coisa que eu soubesse— me encarou— mas não consigo lembrar de nada.

Rolei meus olhos e fui a caminho da geladeira procurando o suficiente pra fazer ovos mexidos e um café, enquanto eu preparava tudo, Charlie procurava em algumas gavetas e assim que achou me deu um sorriso se aproximando de mim com o jornal.

— Não sei se chegou a ver...

Assim virou a página pra mim e não escondi o sorriso quando vi meu nome completo estampado em uma coluna assinada por ela.

— Semana que vem vou escrever sobre o Paul — Ela contou — e depois sobre o Joe... Também tomei liberdade de mandar duas cópias pra sua família.

— Charlie... — A encarei

— Elas mereceram alguma notícia sobre você.

Suspirei derrotado e servi a mesa rapidamente, assim que me sentei acabei ficando entretido com a notícia e assim que ergui o olhar ela estava apoiando o rosto nas mãos me encarando com seus olhos castanhos curiosos e ansiosos pra saber o que eu achei.

— Acho que você também poderia ter falado o quanto eu sou bonito e forte, mas isso parece bom.

— Você é ridículo, Alex.

— Estou brincando — acabei rindo com seu nervosismo — ficou muito bom mesmo, como você consegue pensar em tanta coisa? Eu até pareço um cara legal.

— Eu só escrevo o que eu vejo — Ela deu de ombros

Antes que eu dissesse mais alguma coisa, o telefone começou a tocar e Charlie levantou apressadamente pra atender, durante a ligação ela só fazia sons de aprovação e desligou em seguida pegando de forma apressada seu casaco.

— Aonde vai?

— Senhor Belfort falou que precisa de mim urgentemente, quer vir? Posso te mostrar o jornal.

Assenti tentando não parecer completamente​ animado, calcei meus sapatos e a segui até o táxi, assim que chegamos olhei para o enorme prédio, mas logo fui puxado por ela que me apressava, enquanto passava cumprimentando a todos de forma atrapalhada e me apresentando rapidamente finalmente chegamos no último andar.

Ao entrar, havia um homem de meia idade grisalho, os olhos se desviaram pra Charlie no mesmo momento e logo soltou um suspiro aliviado.

— Que bom que trouxe alguém — Ele estendeu a mão pra mim— Jordan Belfort.

— Alex Jones — o cumprimentei

— O que aconteceu pra me chamar com essa pressa?

— Alguns dos patriotas que apoiam a Inglaterra se ligar ao eixo e deixar os aliados ameaçaram o jornal, mais precisamente você.

— Como assim?

— Você tem opiniões bem sérias, Charlie e a maioria dos nossos leitores apoia, mas esse grupo em questão é formado por alguns militares aposentados — Suspirou — precisa tirar umas férias, dar algum jeito de ficar longe.

Olhei pra Charlie desejando fielmente que ela simplesmente aceitasse se afastar disso concordando que era perigoso, mas longe disso, eu vi o mesmo olhar que meu pai deu ao seu chefe quando eu ainda era criança, o olhar de determinação, seriedade e eu quase pude prever quais palavras sairiam pela sua boca, porque no passado escutei as mesmas.

— Eu não vou a lugar nenhum. — Ela afirmou — vou terminar o que eu comecei.

— Charlie eles não estão brincando.

— Com todo respeito, senhor Belfort, eu também não estou.

Assim que ela atravessou a porta em passos firmes, eu soltei uma respiração pesada sentindo um nó em minha garganta, porque eu sei como acaba essa história.

— Você estava em Dunkirk, não é? — Ele chamou minha atenção

— Sim, senhor.

— Você sabe que esse tipo de gente não brinca — Se aproximou — então faça ela mudar de ideia.

— Acho que pelo pouco que nós dois conhecemos a Charlie, deve saber qual é a resposta.

Antes que ele insistisse saí da sala apressando o passo pra acha-la, assim que cheguei ao saguão ela estava sentada segurando o colar que sempre insistia em lembrar com orgulho que fôra seu pai que lhe deu.

— Charlie... Por favor, pensa mais um pouco.

— Eu não posso me esconder, Alex — Me encarou — você mesmo disse que é meu único jeito de lutar nessa guerra.

Ela falava comigo da mesma forma que meu pai falava com a minha mãe, na época eu não entendia porque ela jogava as coisas contra a parede nervosa e implorava pra ele ficar em casa, mas agora tudo fazia muito sentido, quando ela dizia "não posso me esconder" também sentia vontade de segurar em seus braços e implorar pra que simplesmente desistisse.

— Charlie... — Sussurrei — por favor.

— Me desculpa.

••••

nao é só o menino alex que tem tretas nessa guerra n ein, INCLUSIVE FELIZ ANO NOVO, QUE 2018 SEJA MARAVILHOSO PRA VCS

MERCYOnde as histórias ganham vida. Descobre agora