1

6K 450 563
                                    

CHARLIE — 1943 — ENGLAND

PART I 

WAR WILL MAKE CORPSES OF US ALL

Quando entrei naquele navio senti um calafrio terrível, como se algo estivesse me avisando o que me aguardava, os olhos daqueles homens parecendo animais selvagens sempre me fitavam por completo, eu não ficava na mesma área que as enfermeiras ou cozinheiras, era uma repórter que precisava arrancar informações, até mesmo a que eles não gostariam de dar. O interesse atual era ajudar os aliados e aproveitando a potência marinha britânica, mas o silêncio só trazia a falta de vontade em estar ali. 

— Então você é a tal jornalista? — um deles perguntou cínico — vão mesmo mandar uma garota pra morrer, com certeza seu chefe te odeia

— Bem, pelo menos vamos morrer juntos

Todos riram e muito pelo contrário que todos imaginaram os "animais selvagens" poderiam ser hospitaleiros e até capazes de me oferecer suas cervejas baratas, naquele momento conheci Paul e Joe, dois primos que realmente só queriam matar um bando de nazistas e voltar para a pequena cidade deles como heróis.

— Não acredito que vocês fizeram amizade com a repórter, essa raça é tão ruim quanto os nazistas.

A voz logo atrás de mim fez meu sorriso se desmanchar e meu corpo virar pra poder encara-lo, os olhos tão verdes e o cenho franzido como se me julgasse até pelo menor dos movimentos que eu fizesse.

Esse era Alex e tenho certeza que qualquer um não acreditaria que esse poderia ser o começo de uma história bonita de amor, talvez porque não tenha sido de fato.

— Por acaso alguma repórter falou mal da coisa pequena dentro das suas calças?

A risadas encherem o lugar novamente e eu apenas olhei pra ele com um sorriso vitorioso enquanto sentia que quando eles entrassem em batalha faria de tudo pra que eu levasse o primeiro tiro.

— Não vou beber com essa garota

Ele tinha o corpo apoiado ao lado dos dois primos se recusando a sentar no lugar vago ao meu lado, revirei os olhos e terminei a minha cerveja.

— Você parece um garotinho mimado, esperava mais quando te vi.

— Eu notei quando você me encarava, talvez esperasse coisas mais inapropriadas de mim

Eu corei violentamente e desviei o olhar, o fato é que eu poderia ter respostas bem ácidas, mas não era tão boa em assuntos sexuais, era uma virgem aos 19 anos e isso não era vergonha, mas muito menos meu assunto preferido.

— Parece que finalmente você não tem uma resposta — Ele sorriu abrindo uma cerveja

— Estou aqui a trabalho e você também, deveria me respeitar.

— Ah me desculpe, não sabia que eu estava viajando com um membro da família real — Debochou

— Acho que vocês vão se dar muito bem — Joe cortou as farpas

— Ah você não sabe o quanto, só aguarde jornalista, vai escutar muito o nome Alex... Ou melhor, talvez você diga ele bastante.

Seu tom de deboche era tão insuportável, mesmo todos provavelmente sabendo meu nome acabei sendo batizada de "jornalista", aquele navio poderia ter boas pessoas, mas não era meu lugar preferido, na primeira noite, mal via a hora de estar em terra firme mesmo que isso signifique que estaria em guerra de verdade.

No dia seguinte quando acordei a primeira coisa que fiz foi subir para ver aquela imensidão azul e colocar tudo que havia no meu estômago pra fora.

— Com certeza é assim que o imagino uma dama, de calças e vomitando.

Assim que me recuperei pude erguer o olhar e ver Alex se segurando enquanto usava apenas uma camisa larga verde musgo, acompanhada de suspensórios surrados.

  — Não sente frio?

— Sou um homem muito quente, pode me colocar assim no seu artigo

Essa foi a primeira vez que eu sorri de verdade em sua direção e também foi a primeira vez que o imaginei morrendo, é o que estar no meio de uma guerra faz com você, assim como começa a se apegar a alguém, também imagina de que forma pode dar seu último suspiro.

— Aonde arrumou essas calças? É tão estranho.

Sem minha permissão ele mexeu no cinto que segurava a peça e eu lhe dei um tapa na mão o fazendo reclamar se dor.

— Minha mãe é costureira e pode aguardar, seu idiota, futuramente todas as mulheres vão usar calças também, porque vamos ter mais culhões que os homens.

Sua risada foi tão alta que provavelmente acordou quem ainda dormia, eu não fiquei brava, na realidade acabei rindo do quão exagerado Alex se mostrava e naquele momento achei que seria ótimo fazer a pergunta principal que me trazia no navio pra falar sobre isso no jornal.

— O que passa na cabeça de um soldado indo pra guerra?

Ainda com os olhos no mar, ele cruzou os braços e os apertou contra o grande corpo e deu de ombros.

— Que todas as leis não fazem mais sentido agora — Me encarou — minha única intenção é sobreviver.

******

primeiro capítulo aí <3 caso alguém tenha alguma duvida sobre Dunkirk só pgt 

MERCYOnde as histórias ganham vida. Descobre agora