18

3.2K 351 96
                                    

CHARLIE— 1943 — ENGLAND 

Estávamos perto do ano novo e Alex finalmente saía do hospital, por um milagre ele havia aceitado ficar hospedado na minha casa enquanto não alugava nada por perto já que ainda se recusava a voltar pra casa e eu simplesmente desisti de insistir no assunto, até poderia entender o seu lado. 

Assim que minha mãe viu Alex pude ver o sorriso oscilante em seu rosto, ela adora visitas, mas algo parecia incomodá-la um pouco, depois de deixar que ele se instalasse no quarto de hóspedes, fui até a cozinha onde ela terminava de preparar o jantar. 

— Algum problema mãe? 

— Não, ele parece adorável— me encarou— estou preocupada com você, um soldado não é exatamente o tipo de cara que pensei. 

— Mãe, não é como se fossemos nos casar amanhã, eu só... não posso deixa-lo, pelo menos não agora. 

Ela sorriu se aproximando de mim e deixando um beijo no topo da minha cabeça segurando meu rosto com as duas mãos pra me olhar nos olhos. 

— Eu também era assim quando tinha sua idade e por um acaso também estava no meio de uma guerra, mas o tempo muda a gente, só não quero que se arrependa.

— Tenho que descobrir isso sozinha, não é?— Beijei seu rosto— pode ir pra garagem terminar os vestidos, eu faço o resto do jantar. 

Ela concordou rapidamente me dando as coordenadas e logo Alex aparecia, ainda tinha alguns curativos no braço e ombro, agora apenas usando a regata branca era possível ver os ferimentos pelo seu corpo. 

— Obrigado por me deixar ficar, Anabeth.

Minha mãe fez questão de falar mil vezes que não era incomodo algum antes de seguir até a garagem, logo ele se aproximava de mim pra ver o que eu fazia. 

— Não sabia que você conseguia ser educado 

— O que posso ver? Adoro mulheres acima dos quarenta. 

Acabei rindo lhe dando uma cotovelada me esquecendo completamente dos seus machucados, me virei no mesmo momento assustada, mas assim que ergui o olhar ele tinha seu sorriso cínico usual no rosto. 

— Estou te devendo isso.

Sua mão puxou o colar do pescoço e logo o segurando na altura dos meus olhos, acabei sorrindo e o pegando na mesma hora analisando rapidamente. 

— Que milagre, realmente pensei que você iria vender. 

— Eu ainda posso mudar de ideia. 

Ele me virou com cuidado pra colocar o colar novamente, senti sua mão descer pelas minhas costas rapidamente e não pude evitar me arrepiar, mas não demorou pra que ele simplesmente clareasse a garganta se afastando.

— É estranho estar longe de Dunkirk, as coisas parecem tão calmas por aqui. 

— Falando em calma— voltei a encará-lo— o natal foi a dois dias, tem certeza que não vai visitar sua mãe?

Assim como das outras vezes que citei sua mãe ele apenas desviou o olhar cruzando os braços, soltei um suspiro erguendo as mãos em rendição e me aproximando ganhando a atenção de seus olhos verdes novamente. 

— Tenho uma leve impressão que está queimando o jantar. 

Me virei apressada apagando o fogo e soltando um suspiro aliviado, eu realmente sou péssima nisso. 

— Nem começou a queimar, como sabia que estava pronto?

— Eu entendo um pouco disso, trabalhava em um restaurante na minha cidade, talvez se eu tivesse ficado as coisas seriam diferentes. 

As vezes eu esquecia que Alex era mais que um soldado, talvez tivesse grandes aspirações que estavam bem longe de apontar uma arma e atirar. 

*

De madrugada desci as escadas pra beber alguma coisa, na volta olhei para o quarto de Alex que estava com a porta entreaberta, ele se encarava no espelho apenas usando uma calça vendo todos os curativos na extensão do seu peitoral, abri a porta com cuidado e ele desviou o olhar pra mim.

— Deveria estar repousando.

— Eu juro que tentei, mas é melhor ficar acordado.

— Ainda tem pesadelos?

— Toda vez que fecho os olhos é como se eu voltasse— voltou a se olhar no espelho— lembro de tudo que eles fizeram comigo, quando eu só queria esquecer.

— Eu posso fazer alguma coisa pra te ajudar?

— Pode, Charlie— ele me encarou pelo reflexo— continue sendo você...

Ele deu alguns passos em minha direção e só parou quando estava próximo o suficiente. 

— Porque quando você fala as coisas não parecem tão ruins, como uma chuva passageira, sempre tem certeza que as coisas vão dar certo no final. 

Não escondi o sorriso e Alex tocou meu rosto tirando os poucos fios que caiam e me puxou para que nossos lábios se juntassem de uma vez, não tinha ideia o quanto havia sentido falta de beijá-lo e como era estranho o meu desejo em Dunkirk de poder fazer isso longe daquele caos havia se realizado.

— Eu sei que você é boa demais pra mim, mas depois de morrer tantas vezes... estou disposto a fazer diferente.

— Prometo guardar segredo de que no fundo Alex Jones tem um coração.— cruzei os dedos o fazendo rir 

••••

charlie e alex são meus bebês mesmo aaaa próximo capítulo é especial de ano novo ein rssss

MERCYOnde as histórias ganham vida. Descobre agora