Epílogo

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Allyssa voltava da cozinha quando seus olhos quase saltaram ao ver Edward segurando um lápis de cera e riscando uma das folhas do contrato que ela colocou sobre a mesa de centro. Ele estava com quatro anos e riscava tudo, desde as paredes aos móveis. A morena correu até lá batendo o dedo mindinho na perna da cadeira pelo caminho e pegou o garoto no braço.

— Isabella, cadê você? — gritou, levando o menino e a folha riscada pelo corredor a procura da outra que saiu do banheiro ainda fechando a calça. — Olha o que seu filho fez! — Colocou o papel diante do rosto de Isabella que riu.

— Agora é meu filho? — A loira observou o menino no braço da outra, com o dedinho na boca e a cabeça baixa. — Edward você sabe que não pode riscar os papéis da mamãe. — Falou em tom firme. — Como é que se diz? — Ele permaneceu em silêncio com a cabeça baixa. — Como é que se diz, Edward? — Ele olhou a mãe com a mão na cintura e em seguida escondeu o rosto no pescoço de Allyssa, passando os bracinhos ao redor do corpo dela.

— Desculpa mamãe— falou com a vozinha doce, fazendo Allyssa e Isabella que se olhavam prender o riso.

— Tudo bem. — A morena acariciou a cabeça dele. — Mas não faça novamente, ok? — Edward afastou o rosto confirmando com a cabeça e ela levantou a mão, então ele bateu a pequena palma na dela. Assim que foi para o chão o menino correu para a sala e Isabella cruzou os braços encarando a esposa.

— Você está cansada de saber que ele risca tudo que vê pela frente e ainda deixa suas coisas espalhadas por aí.

— Foi um minuto, eu estava esperando o... Ah meu Deus, a entrevista com a Clara! — As duas correram para a sala e sentaram no sofá, o programa em que Clara iria dar entrevista já tinha começado e logo a imagem da amiga apareceu na tela.

— Tia Clara — falou Edward, apontando para a TV enquanto as duas estavam vidradas na mesma.

Apresentadora: Como foi para você se descobrir Assexual?

— Descobri em uma fase que não costumava ligar para o fato de várias pessoas na minha idade namorar e eu não. Mais tarde, quando de fato comecei a ter amigos que tinham vida afetiva e sexual ativa, foi que parei e me dei conta de que era verdade aquilo que minha terapeuta falou anos antes. Realmente existe e está contecendo comigo, foi o que pensei. Desde então comecei a me recusar a aceitar minha própria realidade, não aceitar quem eu realmente era. Durante aquele tempo, assim como meus amigos, eu tentei sentir prazer naquelas mesmas coisas, como relacionamentos e relações sexuais.

Apresentadora: E como você diria que foi o processo de alto aceitação?

— Primeiro veio a fase em que sofri um pouco calada por ter mentido para mim mesma, logo depois eu me abri com as pessoas ao meu redor e aquilo me fez parar pra pensar, tendo certeza de que estive errando tentando ser alguém que não era. Aos poucos segui minha vida fazendo o que gosto independente do que as outras pessoas pensam gostam e do que elas façam de suas próprias vidas.

Apresentadora: Mas ao decorrer desse tempo, desde que veio a alto aceitação, nenhuma situação mexeu com você ao ponto de questionar-se novamente sobre sua sexualidade?

— Bom, não dá para falar sobre mim sem antes esclarecer que existem diferentes tipos de assexuais e alguns deles tem sexo em suas vidas, ainda que por períodos e intensidade diferentes de pessoas sexuais. Existem algumas ramificações dentro da assexualidade que são: assexuais, gray-As, demissexuais, arromânticos, românticos, entre outros. No meu caso, sou arromantica. Enquanto algumas pessoas tem uma certa necessidade emocional de estar em um relacionamento romântico e para elas os relacionamentos são partes essenciais em suas vidas, para mim é completamente satisfatório ter apenas amizades e outros tipos de relacionamentos que não sejam românticos.

Apresentadora: Atualmente, você se considera uma pessoa feliz?

— Completamente. Eu tenho uma família que mesmo de longe me apoia, tenho amigos maravilhosos e uma carreira que está iniciando, posso dizer com plena certeza de que sou feliz.

Ela seguiu falando sobre a importância da visibilidade assexual e Isabella sorriu orgulhosa deitando a cabeça no ombro de Allyssa. A entrevistadora fez mais algumas perguntas e após finalizar a morena desligou a TV.

— Ela vai ligar em 3, 2... — O telefone tocou e Allyssa riu inclinando para pegar o aparelho sobre a mesa.

Clara estava surtando do outro lado da linha, nem parecia a mulher séria que estava na televisão momentos atrás. Allyssa colocou no viva voz não aguentando o falatório no ouvido e Isabella surtou com ela até serem interrompidas pela campanhia. Allyssa desligou na cara da amiga indo atender a porta enquanto Isabella sentava no sofá vendo o filho que brincava no chão com algumas pecinhas de encaixe.

— Vocês! — falou Allyssa, ao dar de cara com o pai carregado de sacolas e a mãe que passou por ela sem se quer dar oi.

— Cadê o netinho da vovó? — O menino quando ouviu a voz da mulher levantou e foi correndo até ela que inclinou-se para abraça-lo e o levantou nos braços. — Estava com saudade, meu pequeno príncipe? — Ele confirmou com um sorriso. — Vamos que a vovó vai te mostrar todos os brinquedos que trouxe da Itália. — A mulher seguiu para o quarto e Isabella que já estava de pé, apenas observou a cena.

— Ela não tem jeito. — Allyssa observava a quantidade de sacolas, enquanto o pai entrava na casa e após cumprimentar Isabella seguiu para o quarto levando os presentes. — Onde vamos colocar todos esses presentes? — A morena voltou para o sofá. — Já tem um quarto apenas para brinquedos e está abarrotado.

— Tem brinquedo de todos os países, vamos doar no Natal. — Isabella aconchegou-se no ombro da esposa.

Allyssa sorriu confirmando e segurou o queixo da outra puxando seu rosto para um beijo que foi interrompido por uma extravagante risada de Marry lá no quarto, fazendo as duas também gargalhar, mesmo que já estivessem acostumadas com as visitas da mulher e suas brincadeiras com Edward.

Allyssa seguia com o trabalho no hotel e Isabella voltou para a faculdade, no curso de gastronomia, deixando no passado o rápido estrelato como cantora e modelo, mesmo que as pessoas ainda a reconhecessem. Edward já estudava e crescia cada vez mais rápido. E quanto a Clara, já tinha dado início a profissão como diretora, afinal, além do nome do avô ter bastante peso, durante o último ano de faculdade ela dirigiu um curta que fez com que ganhasse bastante notoriedade na indústria.


Fonte das informações para a entrevista da Clara: http://assexuadosbrasil.blogspot.com.br/p/ramificacoes-da-assexualidade.html?m=1

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