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- O adeus é sempre a parte mais dolorosa de tudo. - Disse Kelly, abraçando-me pela última vez.

Estava a despedir-me de Kelly; a Yas estava connosco mas teve de ir embora à cinco minutos atrás. Mirava agora a morena com os olhos em lágrimas; não me queria ir embora, não queria deixar toda a minha vida aqui e o prédio onde cresci para outras pessoas; esta cidade era a minha vida e toda esta mudança implicava recomeçar do zero; não que isso fosse a parte má. A parte má é perder as pessoas que aqui estão para outras que ainda nem conheço. Não que houvesse a possibilidade das outras pessoas serem más para mim. Não diria isso. Diria que cada pessoa nos marca de uma forma diferente e que com certeza não terei as mesmas memórias com essas pessoas. Serão diferentes, inevitavelmente derradeiras como todas.

- Claro que é. O adeus implica uma conclusão e um recomeço. E isso é sempre a pior parte. - Disse-o, vendo-a chorar cada vez mais.

- Espero que não tenhas dado muito caso da discussão que tivémos esta manhã. - Disse-o,abraçando-me novamente.

- Claro que não, era só por causa do Harry. Tanto faz. - Encolhi os ombros.

- Falando no Harry, eu espero que o teu ódio por ele não aumente. Pensa bem nas coisas boas que ele te fez. Não é uma má que vai apagar as boas. - Disse. - Lembra-te sempre disso. Eu sei que gostas bastante dele ainda. Só estás magoada, é completamente normal.

- Eu nem sei o que sinto por ele, Kelly. Eu estou tão confusa. - Disse-o, a suspirar. - Não me esqueço das boas, mas também não apago as más. Só queria que tudo fosse mais fácil, entendes? Estou farta de problemas na minha vida.

- Amor, linda. É amor. - Retorquiu. - Esta é a tua primeira oportunidade para começares de novo, mas se por acaso o Harry aparecer por ai qualquer dia, não te esqueças que recomeçar do zero também implica perdoar os outros. E perdoa-o. É a única coisa que te peço.

Refleti o que ela me tivera dito e acabei por abraçá-la pela última vez; a Allison que se encontrava no carro já tinha apitado várias vezes, vendo-se o seu estado de impaciência. Olhei a última vez para o rosto vistoso do semblante da morena e ela beijou-me a bochecha carinhosamente, fazendo-me rir. E então, agarrei nas minhas malas, olhei para o meu prédio, para a minha melhor amiga e simplesmente disse:

- Adeus, Kelly. Vemo-nos por aí, não estou assim tão distante. São só quase duas horas. - Sorri-lhe e as lágrimas começaram a escorregar sem parar.

Tive coragem para lhe virar as costas; foi a partir daquele momento que comecei uma nova etapa da minha vida, no momento em que virei costas ao passado, mesmo com lágrimas nos olhos, mesmo sendo difícil, mas jurei que não me atreveria novamente a olhar para ele; entretanto entrei dentro do carro e fechei a porta com uma certa força, tirando da Allison um certo gemido de frustração.

- Estão todas as malas? - Perguntou-me.

- Sim. - Retorqui.

- Se não estiverem, eu não volto atrás. - Disse seriamente.

- Nem eu queria que voltasses. - Retorqui sinceramente.

Ela anuiu e começou com o carro em andamento; todo o meu passado estava nas minhas costas e eu mirei a Kelly através do vidro, acenando-lhe com toda a tristeza. Fomos percorrendo as várias casas, os vários sítios onde eu estive e eu acabei por fechar os olhos, deixando de entristecer a minha mente com coisas que na realidade não valiam a pena. Nunca fui de mudanças, nem algo do género; sempre morei neste sítio, e nunca tive de me preocupar com mudanças, mas as coisas destruíram-se; e a culpa não foi só do Harry, foi de tudo. Foi a minha mãe e de muitos mais fatores. Falando nisso, onde está a minha mãe? Abri os olhos e olhei para a Allison, que conduzia aceleradamente.

- Alisson? - Chamei, e ela olhou-me de relance. - Onde está a minha mãe?

- Numa clínica de reabilitação. Estou a pagar para ela lá estar.Tem de se recompor pouco a pouco dos seus vícios.- Disse-o, apertando o volante.

- Sim, claro. Vai ficar lá por muito tempo? - Perguntei.

- Não faço a mínima, mas aquilo vai curá-la. Temos de ter fé, certo? - Retorquiu, olhando em frente para a estrada tenebrosa.

- Sim. Acho que é o susposto. - Encolhi os ombros. - A tua família também vem connosco? - Perguntei-lhe.

- Claro. A Jasmine já está com o meu marido e o meu filho. - Disse, de livre vontade.

- Nem sabia que tinhas um filho. - Ri-me. - Tem que idade? - Perguntei, de maneira sincera.

- Dezoito. - Encolheu os ombros. - Pensava que já te tinha falado do Louis. Nunca o conheceste porque ele anda sempre a viajar pelo mundo, mas desta vez vai ficar connosco e andar na mesma escola que tu. - Retorquiu.

Abri bastante os olhos com o nome do seu filho: a minha mente viajou para o dia em que Harry se encontrava bêbado em Bakersfield e um rapaz um tanto amigável denominado como Louis, o ajudou a recômpor-se; não poderia ser o filho da Alisson, seria demasiada coincidência na minha vida; olhei bem para a minha salvadora e vi se havia nela parecenças com ele: olhos azuis-esverdeados, algo que se assimilava a ele; e os seus olhos eram completamente iguais. Não. Não podia ser.

- E o teu filho Louis é parecido contigo? - Perguntei disfarçadamente.

- Surpresa. - Piscou-me o olho. - Andas muito curiosa.

Suspirei em irritação e virei-me de novo para observar a vista através da janela; era estranho a Allison ter Louis como filho. E se fosse o Louis que eu estou a pensar, seria obviamente muito estranho. Não estava preparada para a revelação, mas eu no fundo sabia; eu tinha a perfeita noção que Louis, o rapaz do bar, tinha algo haver com o trabalho de Harry; e tentei chegar mais longe, ultrapassar o ponte de rutura, mas isso só originou uma grande dor de cabeça, fazendo-me fechar os olhos.

Ainda faltava algum tempo pela frente; e eu com certeza ainda não conseguia estar preparada para recomeçar tudo; quando te habituas a algo e isso te é tirado graças a acontecimentos trágicos na tua vida, a tua esperança descresce de maneiras significativas. Era algo para o qual ainda não me tinha mesmo preparado; quando a esperança morre, não há mais nada pela frente. Só uma longa escuridão, com alguns pontos de luz, mas esses pontos não importam; são passageiros. A escuridão assemelhava-se à jornada da minha vida e cada vez me consumia mais, mais e mais. Era uma sentença que eu tinha de cumprir.

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Hello lindas! Eu adorei escrever este capitulo, a linha do passado a colidir com o presente. Acham que esta mudança vai fazer bem à Sky?

Quem acham que é o Louis? Será o mesmo rapaz da outra vez? Ahah deixo isso para vocês descobrirem.

A minha escola acabou hoje e as minhas notas estão uma miséria! EU ESTOU FARTA DO 10 ANO, faria de tudo para regressar ao 9...

Mas whatever, beijinhos e espero que tenham gostado do capítulo.

Xx, Kate.

Duas Metades {HS}Where stories live. Discover now