|21| different

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Skylar

Talvez a dor tenha de ser sentida, para percebermos como ela é um pouco sufocante em demasia. Eu ainda estava à frente de Harry e os meus olhos estavam fechados. Recusava-me a abri-los. Não queria. Sentia que, se os abrisse tudo o que eu tinha passado nesta escola, ter-me-ia atingido os olhos e por norma, começado a naufragar na minha mente.

Se o abrisse, também era capaz de ver os meus demónios à minha volta. Era estranho como seres que talvez nem existam, podem morar dentro de nós. Na nossa cabeça, no nosso coração ou mesmo entre nós. Estava com medo deles, e era engraçado. Eles eram os maiores inimigos de mim mesma e também poderiam ser os meus melhores amigos. Afinal, eles nunca me abandonaram.

" Eu odeio-te, Harry. " Pronunciei em esforço.

Olhei para os seus olhos e vi um pouco de dor, crescer no verde. Ele fechou os punhos com força e em poucos segundos, estava mesmo à minha frente. O meu corpo entrou num estado de medo e de choque. Só conseguia mirar o verde que eu outrora admirei demais e um pouco rapidamente demais, me apaixonei.

" Também te odeio, Skylar. " Ele disse tal frase com convicção e foi-se embora, caminhando pelo corredor.

Continuava em choque, parada a observá-lo a desvanecer-se pelo tal corredor. Não sei. Mas uma parte de mim tinha me sido tirada no momento em que ele confessou o ódio que possuía por mim. Soubera também que o que eu lhe disse, não o tivera afetado tanto, como me afetou a mim. Era demais. Era uma vida sofredora para uma pessoa tão fraca como eu.

Fechei os olhos novamente. Tantas pessoas felizes passavam ao meu lado, ajeitando os seus cabelos e criticando o quão o rímel novo da marca que desconheço, lhes tinha acentuado mal. Ou até mesmo e sem nenhum motivo, começavam a falar qual poderia ser o vestido indicado para levar à festa de hoje à noite. Mesmo sem as ver, sabia e ouvia o que elas estavam a falar e os gestos que faziam.

" Oh, aquela não é a rapariga estranha? " Ouvi uma voz horrenda falar.

Recusei-me a abrir os olhos.

" Sim, é. " Uma voz masculina disse. " Não se aproximem muito. "

Soubera que estavam a rir-se de mim sem nenhum motivo aparente. Então vacilei, cheguei a meu ponto extremo. As lágrimas gélidas e sem nenhuma direção, começaram a escorrer. Era fraca, tinha noção de isso. Pouco a pouco, as lágrimas formaram um oceano no chão da secundária. Observara palavras, e muitos corações partidos a serem consumidos pela água, conseguindo desaparecem, transformado-se em lembranças nas profundezas do mar.

" Então não falas, anormal? " Ouvi a voz masculina novamente.

Então abri os olhos e ganhei uma pequena coragem de enfrentar os meus problemas. Queria falar, mas não conseguia. As palavras, sempre que tentava tal coisa, acumulavam-se na minha garganta de maneira insuportável. Os meus problemas estavam mais fortes que nunca e nada os poderia cessar. Estavam inevitavelmente capazes de me destruírem.

" Ela não é obrigada a isso. " Uma voz soou pelo corredor e eu arregalei os olhos ao ver a dona desta. " Se não se desculparem em cinco segundos, eu mesma obrigo-vos da pior forma. "

" Desculpa! " Nem ouve intervalo de tempo entre a outra frase. Foi imediato.

O que mais me supreendia é que era Yasmin a proteger-me. Era estranho, visto que a pessoa mais popular e mais desejada da escola, que adorava rebaixar todos ao seu redor, estava a ajudar uma pessoa comum como eu. Pouco a pouco, ela aproximou-se de mim com o seu típico cabelo loiro a cintilar e as suas roupas justas, capazes de demonstrarem cada curva do seu corpo.

Duas Metades {HS}Where stories live. Discover now