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S k y l a r

Depois de termos feito tal acordo, ele seguiu-me por tudo o que é sítio: quando estava a comer, o seu olhar estava fixo em mim, e até quando eu respirava. Quer dizer, parece que falta a respiração quando o seu olhar verdejante se cruza com o meu. Parece que quando o nosso olhar se cruza, um mar de emoções verdejantes, é transmitido para cada um de nós. É algo que não consigo explicar, algo que só se for sentido, pode ser entendido.

Encontro-me agora a caminhar sozinha para o refeitório, já que o Harry ficou a falar com um rapaz, que não faço a mínima ideia de quem seja.

A minha primeira manhã do décimo ano, passou rapidamente e já sei algumas coisas que não devo repetir nem fazer nunca mais. A primeira e a mais importante, é não olhar diretamente para alguém que tenha mais idade que eu. À meros trinta minutos atrás, eu olhei para uma rapariga diretamente, mas não foi por nenhuma razão. É normal nós olharmos uns para os outros, é algo inevitável, porém essa tal rapariga começou logo a mandar-me bocas, e eu ignorei todas elas. Aprendi a lição. A segunda e também importante, é nunca esperar para que o professor passe algo no quadro, porque isso não vai acontecer. Na escola básica isso acontecia, porém na secundária, estou por minha conta. O professor dita, e nós escrevemos. É algo complicado, porque eu não apanhei praticamente nada. O professor falou bastante rápido. Mais tarde copio a matéria pelo Harry ou por outra pessoa qualquer. A terceira e menos importante, é nunca tentar sequer interromper um professor a meio de uma explicação que ele esteja a fazer. Eu fiz isso na aula de geometria descritiva, e aquela professora rechonchuda quase mandou-me para a rua. Ela começou a gritar comigo feita louca, e eu pedi mesmo muitas desculpas. Na escola básica, quando eu interrompia algum professor, nada disto acontecia. Nem nada parecido. Quer dizer, podia acontecer, mas não que chegasse a este estado de uma professora passar-se dos carretos comigo. A quarta ainda não aprendi, mas devo aprender em breve. Nós estamos sempre a aprender coisas a todos os momentos. Especialmente lições, como as três que eu já aprendi em meros minutos.

Chego ao refeitório, que está apinhado de adolescentes. Até parece uma reunião de trabalho, ou até um funeral. Ou um casamento. Um evento que acabe por abranger muita gente. Algo que tenha um objetivo, porém o objetivo daqui é a comida, literalmente.

Dirijo-me para a grande fila de adolescentes e olho para a das funcionárias, do outro lado. Elas estão a distribuir carne para os pratos, algo que eu não sou muito fã, na verdade. Muito menos de carne com brócolos. Isso é algo que eu não como, nem tampouco tento.

" Anda para a frente, não temos o dia todo! " Um rapaz atrás de mim grita-me, e eu apresso-me a andar para a frente.

A quarta lição, é sem dúvida, esta. Nunca mais ficar a pensar em outras coisas enquanto estou na fila para o almoço, se não quero levar com um grito no ouvido ou algo do género.

" Tu és surda?! Anda para a frente, já estás servida! " Outro grito impertinente ouve-se do fundo da fila e é aí que me dou conta da comida no meu prato.

Quinta lição. Não decidir a quarta lição enquanto estou na fila do almoço. Esta é oficialmente a lição mais importante de todas.

Saio da fila de adolescentes impertinentes e excessivamente impacientes, e encaminho-me para a mesa livre ao pé da janela. Quando lá chego, meto a minha mochila nas costas da cadeira e sento-me.

Agarro no garfo e remexo na comida com ele. Eu não vou comer isto, nem tampouco esforçar-me para isso. Pouso o garfo encima do guardanapo e dou uma dentada na maçã vermelha e deliciosa.

Duas Metades {HS}Kde žijí příběhy. Začni objevovat