|2| universe ✅

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S k y l a r

A minha irmã já acordou e está tão centralizada nos bonecos animados que passam no ecrã da televisão, que nem notou que eu fui para o meu quarto. O meu quarto não é uma definição nem um nome correto para dar a este pequeno cubículo onde eu sinto que sou eu própria. Onde eu sinto que não me escondo de toda a gente.

Estou no parapeito da janela com um copo de água na minha mão direita, a observar a noite escura e sombria. A lua cheia e as estrelas à sua volta fazem-me sentir minúscula. Não por causa do seu tamanho nem nada disso, mas sim por causa do brilho que conseguem adquirir, da vida que conseguem transmitir.

As pessoas adquirem opiniões ao universo, bastante estranhas. Estão sempre a perguntar de que maneira é que tudo isto surgiu e quando. Dizem que as estrelas são algo estranho e a lua algo ainda mais. Eu não entendo essas pessoas, realmente. Sempre a perguntar o porquê do sol existir, sempre a dizer que os animais são estranhos e até a meter as culpas no mar que tem uma força destrutiva. Existem muitas teorias acerca de como tudo isto surgiu. As mais estranhas são teoricamente a dos macacos e também a do adão e da eva. Claro que também há a teoria de que nós viemos dos extraterrestres, mas eu não acredito em nenhuma delas. Não sei qual é a mais errada, mas sei que nenhuma está correta. O que eu sei, é que os estranhos nesta imensidão toda, não são os extraterrestres, a natureza e nem o céu azul. Os estranhos somos nós. Se pensarmos bem, nós é que somos os deslocados deste mundo, os esquisitos. Biliões de pessoas neste mundo e todos culpam a natureza e outros factores. Os esquisitos somos somente nós, mas ninguém repara nisso, além de mim. Agora que reparo bem, essa teoria assusta-me. E se os estranhos formos nós, e os comuns forem os extraterrestres ou seres de outros mundos?

Sacudo a cabeça de um lado para o outro para estes pensamentos não se prolongarem por muito mais tempo, e pouso o copo com água no parapeito da janela. Encaminho-me para a minha cama e meto-me de joelhos à sua beira. Espreito por debaixo dela, e tiro de lá uma tela, e os meus pincéis. Vou novamente para o parapeito da janela, pouso a tela no meu colo, os pincéis a meu lado,o copo de água e as tintas de que vou precisar.

Balanço o píncel entre os meus dedos e fico a olhar novamente para o universo imenso. Não sei o que desenhar e realmente estou sem ideias. Já desenhei muitas vezes a noite escura e sombria e diversos objetos do dia-a-dia. Até já desenhei a minha pequena irmã uma vez, quando eu estava motivada para isso.

De repente, num pensamento repentino e nada próprio de mim, lembro-me do Harry. Lembro-me dos seus olhos vistosos, que, comparados às estrelas, conseguem ter mais brilho e até conseguem transmitir mais vida, mais paz. E no fundo da minha mente, lembro-me da sua tatuagem. A âncora.

E é instantâneo e eficaz. A minha mão ganha vida própria e começa a traçar linhas e mais linhas pretas na tela branca. Uma âncora preta, vai ganhando forma na tela já nada branca. Molho o píncel na água e continuo a traçar linha por linha, continuo a fazer sombreado por sombreado. E continuo a abstrair-me da realidade, literalmente.

Quando acabo de fazer a âncora, observo-a por segundos e depois dirijo-me novamente para a cama. Meto-a outravez lá embaixo, entre as outras quatrocentas e noventa e oito telas que eu já fiz. Nunca mostrei as telas a alguém, sem ser à minha irmã. Já lhe mostrei algumas que não têm muito significado para mim. Nunca ninguém quis vê-las, nem a minha própria mãe. Ela só quer saber de si própria e do seu próprio contentamento. Para ela, os outros não interessam. Nem as suas duas filhas.

Os meus pensamentos são interrompidos pelo toque repentino do meu telemóvel. Tiro-o do bolso das minhas calças e o nome da minha melhor amiga aparece no pequeno ecrã.

" Olá Sky. " É a primeira coisa que ela diz quando eu atendo.

" Olá. "

Duas Metades {HS}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora