|37| brother

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Acordei com uma dor que não era característica do meu primeiro momento do dia: o meu corpo doía-me inevitavelmente, como se eu tivesse dormido ao mesmo tempo que era esmagada por um hipopótamo. Literalmente, foi isso que aconteceu. Abri os olhos e vi um Harry incrivelmente robusto à minha frente. Estava a dormir. As suas pestanas tocavam na sua bochecha avermelhada e a sua respiração era suave, como se fosse o único momento em que ele estivesse em paz consigo mesmo. Os seus braços envolviam a minha cintura e as suas pernas estavam enroladas nas minhas: apesar de eu estar desconfortável, só o facto de saber que dormi com o Harry, tirava todo o desconforto presente no meu corpo cansado.

- Harry! – Ouvi uma voz repentina e arregalei os olhos. – Onde é que caralho estão os papéis que eu.... – Quando o homem abriu a porta, calou-se.

Petrifiquei, com os olhos fixos no homem – ou adolescente. Apercebi-me que aquela pessoa só podia ser o irmão de Harry. Vinha vestido a rigor, com uma pasta astronómica preenchida de papéis na sua mão direita. Não foi nisso que reparei em primeiro lugar. Os seus olhos eram verdes, mas comparados aos de Harry, não tinham brilho algum. Era alguém dono de uma boca carnuda, com um semblante bem formado. Parecia um modelo profissional, sem na verdade, tentar ser. O que mais me deu piada foi o facto de ele ter ficado mais surpreendido que eu, ao ver-me ali.

- Desculpem interromper. – Disse, firmemente. – Não sabia que haviam visitas. – Terminou, um pouco nervoso pelo ocorrido.

- Não tem mal. Afinal, a casa é sua. – Retorqui docemente.

De repente, não sei como nem de onde surgiu tal força, um Harry furioso levantou-se da cama de uma forma irrevogável: parecia ter ganho asas e voou até ao irmão com uma velocidade descomunal. Observei-o a agarrar o colarinho da blusa do irmão e engoli em seco.

- Espero que tenhas um bom motivo para interromper o meu sono. – Disse Harry, com uma voz mais rouca do que o normal.

- Na verdade, tenho dois. – Retorquiu o irmão, com um sorriso malicioso. Era parecido ao do Harry. – Mexeste novamente nas minhas coisas sem autorização e preciso do teu certificado de presença para o baile que vai realizar-se sábado.

O Harry suspirou e largou a blusa do irmão. Olhou para mim e voltou a olhar para aquele homem.

- Já te disse quatro vezes que não vou a esse baile. Ainda não entendeste? – Inquiriu furibundo. Nem parecia o mesmo Harry.

- Podias levar a tua namorada. – Olhou para mim com um leve sorriso. – De certeza que ela iria adorar.

- Nós não somos namorados! – Dissemos ambos ao mesmo tempo.

Senti as minhas bochechas a ruborizarem. O irmão dele começou a rir-se como nunca antes vi alguém a rir. Era um riso verdadeiro, cheio de alegria, como se aquilo que tivéssemos dito, não passasse de uma enorme piada. Franzi o semblante e olhei para o Harry, à espera de uma atitude vinda dele. Nada chegou a acontecer.

- Por favor, Harry. Ambos sabemos que nunca trouxeste uma miúda a esta casa. – Confessou o irmão. – Exceto naquela vez em que a.... – O Harry interrompeu-o com a sua voz estrondosa.

- Não digas a merda que ias dizer. Nem tentes. – Quase gritou – Juro que dou cabo de ti.

O irmão calou-se e suspirou fundo. Parecia cansado: talvez do trabalho ou das atitudes do Harry. Ou provavelmente dos dois. Voltou a olhar para mim e sorriu afavelmente. Sabia que não era fácil lidar com o Harry, mas também não era impossível: só tínhamos de tentar devagarinho abrir aquele coração que à primeira vista, parece congelado.

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